tag:blogger.com,1999:blog-24821000416665290312024-03-12T18:15:29.259-07:00MINICONTOSescrita e leitura, por Carlos Barbosa
(livros comentados espontaneamente)Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.comBlogger451125tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-50576557677268557502021-09-17T10:37:00.003-07:002021-09-17T10:37:55.888-07:00ZEQUINHA E LAMARCA, 50 ANOS DEPOIS<p> </p><p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL0bJqkAoQBOAGQHwD_IhrPF58qgXnIT3cJ-4CgJjO9KKJaG7_ot0F0wJX9aThACuL8klAig1VnBynhBv_q7B6-u_p57nNPAd6XO1wWebj2snc8YrvULT0OBPgJ5aQVHBoN5dElQK7Wfs/s1280/lamarca1.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="960" height="379" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL0bJqkAoQBOAGQHwD_IhrPF58qgXnIT3cJ-4CgJjO9KKJaG7_ot0F0wJX9aThACuL8klAig1VnBynhBv_q7B6-u_p57nNPAd6XO1wWebj2snc8YrvULT0OBPgJ5aQVHBoN5dElQK7Wfs/w285-h379/lamarca1.jpeg" width="285" /></a></div><br /><p></p><p> <b> Preciso dizer que o Monumento aos Mártires é obra da Diocese da Barra, Igreja Católica, sob a regência do bispo Dom Luiz Cappio.</b></p><p><b> E que homenageia não só Zequinha Barreto e Carlos Lamarca, mas outras "pessoas que entregaram a vida por causa justa":</b></p><p><b> Josael de Lima, que morreu assassinado por grileiros na cidade da Barra;</b></p><p><b> Manoel Dias, também morto por grileiros na cidade de Muquém do São Francisco;</b></p><p><b> Luiz Antônio Santa Bárbara e Otoniel Campos Barreto, assassinados no distrito de Buriti Cristalino pelas forças da Ditadura Militar, no dia 28.08.1971.</b></p><p><b> O Memorial aos Mártires foi erguido em 2013, no mesmo local em que tombaram Zequinha Barreto e Carlos Lamarca, no distrito de Pintada, município de Ipupiara, bem próximo a Brotas de Macaúbas.</b></p><p><b> O monumento retrata Zequinha carregando Lamarca e é obra do artista plástico Carlos Roldão.</b></p><p><b> Lembrar os que morreram por ousar lutar, esta é a principal mensagem deste dia.</b></p><p><b> Para que mais tarde não se pergunte como se chegou a este ponto. Ou àquele.</b></p><p><br /></p>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-2941014375123739442021-09-16T15:21:00.005-07:002021-09-16T15:26:10.912-07:0017 DE SETEMBRO DE 1971<p> </p><p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigIzMT8v_WjPI2LZ4naoldHH0XkS7C8nDPJ554BZIKQbTTjq133U24cf0dWFSURxll8kgXzb8vHTBiQT8hhXeJ_DKGsMq2rBX0ZXgg18faeinC5AAhR9VpoCOlhJ5hgz-lhLl2JWZd0PY/s1600/Monumento-para-Lamarca-e-ZequinhaBarreto-2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigIzMT8v_WjPI2LZ4naoldHH0XkS7C8nDPJ554BZIKQbTTjq133U24cf0dWFSURxll8kgXzb8vHTBiQT8hhXeJ_DKGsMq2rBX0ZXgg18faeinC5AAhR9VpoCOlhJ5hgz-lhLl2JWZd0PY/s320/Monumento-para-Lamarca-e-ZequinhaBarreto-2.jpg" width="320" /></a></div> <div> <b> Dois homens, neste dia, foram assassinados no sertão da Bahia. </b><br /><p> <b> Dizem que dormiam debaixo de uma braúna. Em riscos de sombra, sob um sol abrasador.</b></p><p><b> Mais provável que exangues, desfalecidos.</b></p><p><b> Um deles teria se levantado e atirado pedras nos assassinos. Pedras.</b></p><p><b> O mais jovem, o nativo, aquele que foi visto carregando nos ombros o companheiro de tribulações.</b></p><p><b> Zequinha. Zequinha Barreto.</b></p><p><b> Dizem ainda que tentou fugir, depois de atirar pedras, e foi então metralhado.</b></p><p><b> O outro recebeu sua cota de balas deitado onde estava. Lamarca.</b></p><p><b> Cinquenta anos depois, os dois estão imortalizados em monumento.</b></p><p><b> Lá na Pintada, no mesmo local em que foram mortos, tidos como Mártires.</b></p><p><b> Enquanto aqueles que os mataram voltam a apontar suas armas na direção da Liberdade.</b></p><p><b> Mártires, junto a outros mártires, deles poucos se lembram.</b></p><p><b> Amanhã haverá missa na Pintada, junto ao monumento.</b></p><p><b> E só?</b></p></div>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-52991227503574091642021-01-10T06:43:00.001-08:002021-01-10T06:43:23.996-08:002020, QUEM DIRIA...<p><br /></p><p>45 garrafas de vinho tinto das mais distintas procedências.</p><p>03 litros de uísque envelhecidos.</p><p>06 garrafas de cachaça de Boquira diluídas em batidas de limão.</p><p>04 garrafas de Brandy, sendo duas da Embrapa e duas vindas de Jérez de la Frontera.</p><p>Algumas dúzias de cerveja puro malte.</p><p>Muitas horas de Spotify, algumas listas de mornas canções.</p><p>Encontro com obras e vozes femininas das mais deslumbrantes:</p><p>Lhasa de Sela, Concha Buika, Alela Diane, Térez Montcalm, Hindi Zahra, Lisa Hannigan e a fenomenal Laura Marling.</p><p>Filmes e séries vistos à exaustão; alguns até mereceram nosso tempo.</p><p>Muitos livros lidos pela primeira vez, outros revisitados, muitos.</p><p>Um quase nada escrito. Um mundo sonhado.</p><p>Tudo o mais acumulando pó.</p><p>E 2020 passou assim enviesado, na diagonal; ácido e áspero. </p><p>À espreita.</p>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-28023391231538107992021-01-03T14:59:00.002-08:002021-01-03T14:59:36.211-08:002021, QUEM DIRIA...<p> </p><p> <b> Desconheço quem diga mais bobagens que eu. Sobre literatura. Não assino embaixo de muita coisa dita por mim por aí registrada. Me espanta, na verdade, tanta tolice. Meu pecado é não resistir a responder quando me perguntam. Aí tento elaborar algo. A maioria sola. Mas não consigo rir depois, nem agora, fico depressivo. E digo que nunca mais falarei nada sobre literatura. Problema é que tenho amigos. E no mais das vezes cedo. Quando devia era noitecer. E lá vou a dizer bobagens. Me desconheço, nessas horas. Não devia, a esta altura da partida finda. </b></p><p><b> Tive vontade de registrar isso aqui. Só eu mesmo leio. E muito de vez em quando. Quero voltar a esse tema adiante, esse alicerce fluido, magmático. Lamaçal de beira de rio, atoleiro, engancho. </b></p><p><b> Nada sei de literatura. Conto uns causos. Só isso. Talvez devesse parar de contar essas coisas que a ninguém mais interessa. Verdade é que por isso mesmo devo continuar. Ainda vivo. Embora só respire. Mas o que digo?! Bobagem, bobagens. Inevitável, como se lê.</b></p><p><b> 2021, quem diria...</b></p><p><br /></p>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-27127572049767536812020-12-07T16:03:00.002-08:002020-12-07T16:03:31.147-08:00O BOSQUE SEM SAÍDA, de XAVIER RODRIGUEZ BAIXERAS<p style="text-align: justify;"> Nosso amigo Baixeras despachou de Vigo, Galícia, Espanha, onde reside, seu novo livro, "O bosque sem saída". Um volume de poemas em duas partes: 1) <i>Sair do gris</i>, reunindo poemas de 2015 a 2017, e 2) <i>O bosque vazio</i>, com poemas de 2018/19. Na primeira parte, encontramos um bloco de poemas "baianos", por assim dizer, pois claramente inspirados por cenários e episódios vivenciados em suas passagens por nossa terrinha, em longas e repetidas férias de verão. Em um dessas nos conhecemos e o Baixeras tornou-se partícipe dos encontros no Ceasa do Rio Vermelho, em torno dos poetas Ruy Espinheira Filho e Florisvaldo Mattos. Bons e belos tempos!</p><p style="text-align: justify;"> E na parte "baiana" do livro, assenta-se "O milagre da fruta-pão", dedicado ao final a Uaçaí Lopes e a este que ora faz este registro.</p><p style="text-align: justify;"><b>O MILAGRE DA FRUTA-PÃO</b></p><p style="text-align: justify;"> <i>Os sobrinhos de Justino brincavam com bois de fruta-pão (Herberto Sales)</i></p><div style="text-align: justify;">Percorri o mercado buscando a fruta-pão,<br />sabendo que servira de brinquedo<br />em certa infância ignota. Fui buscando,<br />buscando a fruta-pão.<br /><br />Percorri com alguém que conhecia a fruta</div><div style="text-align: justify;">e que foi inquirindo, e respondiam:</div><div style="text-align: justify;">não tem infância, mas sigam sigam</div><div style="text-align: justify;">buscando a fruta-pão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E meu guia falando que, uma vez cozinhada,</div><div style="text-align: justify;">é grosseiro arremedo de batata,</div><div style="text-align: justify;">que era estranha aventura essa de andar</div><div style="text-align: justify;">buscando a fruta-pão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E então me perguntou: de onde tirou, amigo,</div><div style="text-align: justify;">que tal fruta foi um dia brinquedo,</div><div style="text-align: justify;">que andaram as crianças pela rua</div><div style="text-align: justify;">buscando a fruta-pão?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Respondi que era certo, que fora fruta mágica,</div><div style="text-align: justify;">que as crianças a viram como um boi</div><div style="text-align: justify;">e que agora eu voltava a esse delírio,</div><div style="text-align: justify;">buscando a fruta-pão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E as frutas percorreram devagar a calçada</div><div style="text-align: justify;">com seus passos cansados e solenes,</div><div style="text-align: justify;">e foram bois, e então já não segui</div><div style="text-align: justify;">buscando a fruta-pão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em todas as barracas mexiam a cabeça,</div><div style="text-align: justify;">como falando: disso não vendemos.</div><div style="text-align: justify;">Há tempo que ninguém chegou aqui</div><div style="text-align: justify;">buscando a fruta-pão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> <i> Para Uaçaí Lopes e Carlos Barbosa</i></div>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-11621229456271869822020-08-26T09:15:00.003-07:002020-08-26T09:15:58.407-07:00MATEUS ALELUIA, OLORUM<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Quem se lembra do grupo musical “Os Tincoãs” e seus grandes
sucessos, como <i>Deixa a gira girar</i> e <i>Cordeiro de Nanã</i>, vai entender bem a
importância de um novo disco de Mateus Aleluia: é como manter acesa
aquela chama de brilho e beleza, que brotava de uma sonoridade adocicada
feito cana-de-açúcar do Recôncavo baiano. </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Mateus Aleluia nasceu em
Cachoeira, passados 76 anos, e fez parte de “Os Tincoãs”, junto com
Heraldo e Dadinho, na sua fase de ouro, quando o Brasil inteiro vibrou com
eles nos anos 1970. Durante duas décadas, Aleluia morou em Angola, onde
trabalhou para o governo como consultor.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>“Olorum” é o terceiro disco autoral de Mateus Aleluia, depois de “Cinco
sentidos” (2010) e “Fogueira doce” (2018), e tem produção de Ronaldo
Evangelista, com participação especial de João Donato. O lançamento foi
feito em uma live, que alcançou mais de 25 mil visualizações.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A canção que dá título ao disco resume à perfeição o espírito e a
proposta do artista: um misto de oração de congraçamento em torno da
idéia de união do ser humano e da busca incessante por um tempo melhor,
a partir de sua ancestralidade africana. </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Olorum/ seu povo está cansado/ de
sofrer”, canta Aleluia numa abertura em voz e violão, em esforço
emocionante de conexão com a divindade, “de joelhos, peço”, enquanto
deixa claro que vê em cada ser humano um irmão. O clamor individual da
abertura quebra-se, então, em ritmo e pulsação com a entrada dos tambores
e demais instrumentos, um balanço nascido nos terreiros de candomblé e se
popularizou desde “Os Tincoãs”. Em “Olorum”, o ritmo transporta a
emoção da abertura para uma convicção de que a beleza, com certeza,
supera todo e qualquer óbice cotidiano. “Olorum” já está disponível no
Spotify.</span></b></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-13382825130773069482020-08-02T10:59:00.000-07:002020-08-02T10:59:39.205-07:00QUARADOR<b><br /></b>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>estendo esperanças</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>na laje nua do meu solar</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>em ruínas</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>(a chuva não deixa secar)</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>retorço esperanças</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>nas manhãs assustadas</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>de estio</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>(já começam a mofar)</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>aqueço esperanças</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>no poço das noites de insônia</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>e vigília</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>(algumas deixo escapar)</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>repasso esperanças</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>no crivo confuso por afetos</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>e ausências</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>(tecido frio a enrugar)</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>recolho esperanças</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>frágeis na rua; ameaças letais</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>viralizam</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>(luto pra respirar)</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>acoito esperanças,</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>por fim, na loca do meu coração</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>quarador</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>(sementes a germinar)</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><i>04.06.2020</i></b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><i>em isolamento, em tempo de pandemia</i></b></span>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-664895358105423622020-07-19T12:40:00.000-07:002020-07-19T12:40:23.983-07:00SONETOS REUNIDOS & INÉDITOS, RUY ESPINHEIRA FILHO<br />
<div style="background-color: white; color: #500050; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #500050; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"> “A literatura não é propriamente antidoto para as misérias da vida, mas ajuda muito na resistência”, é o que nos lembra o poeta Ruy Espinheira Filho, de seu refúgio em Busca Vida, na Grande Salvador. Em pleno período de isolamento social, por conta da Covid19, o poeta baiano entrega aos leitores seu quarto livro de sonetos, “Sonetos Reunidos & Inéditos”, que reúne todos os seus poemas neste formato produzidos entre 1975 e 2020. O livro já se encontra à venda no site da Editora Patuá, <a data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=http://editorapatua.com.br&source=gmail&ust=1595271670778000&usg=AFQjCNEqy-9HcaM0U5otnvBpwIcmC9G-wg" href="http://editorapatua.com.br/" style="color: #1155cc;" target="_blank">editorapatua.com.br</a>, por R$ 40,00. O lançamento tradicional não ocorrerá de imediato, por motivos óbvios, devendo acontecer quando as condições sanitárias permitirem esse tipo de evento presencial.</span><u></u><u></u></b></div>
<div style="background-color: white; color: #500050; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><b><br /></b></span></div>
<div style="background-color: white; color: #500050; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"> Publicar um livro de sonetos não é mais algo comum na cena literária brasileira. “Os livros de sonetos ficaram para trás”, diz Ruy, que tem se mostrado bem produtivo no gênero; mas, “ficaram e não ficaram, pois os bons continuam sendo reeditados e lidos. E, surgindo bons sonetistas, o soneto continuará presente e sempre novo – como é há séculos”, esclarece a seguir. E quando indagamos sobre o futuro próximo, diante da atual pandemia, o poeta recupera os versos de Manuel Bandeira, em “Passado, presente e futuro”, para defini-lo: “O futuro diz o povo que a Deus pertence./ A Deus?... Ora, adeus!” No entanto, Ruy lembra que “literatura é uma arte” e exemplifica sua importância com o ensinamento do poeta alemão Rilke: “Se um dia o mundo se romper sob seus pés, a arte permanecerá existindo independentemente como elemento criador e será a possibilidade meditativa de novos mundos e tempos”. </span><u></u><u></u></b></div>
<div style="background-color: white; color: #500050; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><b><br /></b></span></div>
<div style="background-color: white; color: #500050; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><b> Ruy Espinheira Filho tem aproveitado esses meses de isolamento para novas leituras de clássicos, para trabalhar sua obra junto a editoras e escrever, escrever sempre, escrever crônicas quinzenais que publica no jornal A Tarde, de Salvador, prosa e poemas marcados por um lirismo inconfundível e um olhar crítico e renovado sobre a jornada do ser brasileiro. Bem por isso, em maio passado, Ruy nos brindou pelas redes sociais com uma “Canção em tempo de pandemia”, em cuja abertura refletia: “Dentro do mundo parado/ reexaminamos a vida:/ por que a tornamos assim/ tão infeliz, tão perdida?” E nos adiantou que em breve seu romance “Um rio que corre na lua” merecerá outra edição por uma nova editora, que também encomendou a ele um livro de poemas inédito. No ano dos seus 78 anos de idade, um ano considerado perdido por muitos em decorrência da pandemia em curso, o poeta maior da Bahia produz e publica como nunca, sendo exemplo de amor e dedicação à literatura e a sua obra. </b></span></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-281110225074727602020-03-15T10:44:00.002-07:002020-03-18T16:06:10.881-07:00OS EXÉRCITOS, de Evelio Rosero<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn5qEaZPx5OwD_nB8SK7-zqB75t44VBzVXU-rzomCG_Us_MAe3Uv36I2HTRjjjIgkn0hxhA9lnsWOVLibtLahd7oo-WIG0BsmtLdtjHeU8o4r4ogh_IagkxrncoHG9d1lRPOUtcRvAKIk/s1600/os+exercitos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="225" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn5qEaZPx5OwD_nB8SK7-zqB75t44VBzVXU-rzomCG_Us_MAe3Uv36I2HTRjjjIgkn0hxhA9lnsWOVLibtLahd7oo-WIG0BsmtLdtjHeU8o4r4ogh_IagkxrncoHG9d1lRPOUtcRvAKIk/s320/os+exercitos.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b> Dei de cara com este livro numa pilha em promoção. Romance premiado, literatura colombiana, casal aposentado em vilarejo assolado pela guerrilha... hum, não podia deixá-lo para trás. Mesmo porque estamos em tempos de estocar alimentos para possível quarentena coronina, daí catei outros livros e os guardei no bagageiro do carro, meu mobilar.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> <i>"Na cozinha, a bela cozinheirazinha - eles a chamavam de 'a Gracielita' - lavava os pratos em cima de um banquinho amarelo. Eu conseguia vê-la através da janela sem vidro da cozinha, que dava para o jardim. Mexia seu traseiro, sem saber disso, ao mesmo tempo em que esfregava: atrás da diminuta saia branquíssima cada canto do seu corpo se chacoalhava, ao ritmo frenético e consciencioso da tarefa: pratos e xícaras chamejavam em suas mãos trigueiras: de vez em quando uma faca serrilhada aparecia, luminosa e feliz, mas, em todo caso, como que ensanguentada. Eu também sofria, além de sofrer por ela, essa faca como que ensanguentada."</i></b></div>
<b><br /></b>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b> O professor Ismael Pasos, 70 anos, é o narrador. Espirituoso, de humor ácido, o professor experimenta uma agitação de luxúria visual pelas vizinhas, a mulher do brasileiro e a mocinha agregada à família, sempre vigiado pela esposa Otília. Mas o vilarejo está no centro de refregas que envolvem três exércitos, dois deles paramilitares. Aí está o material com o qual Rosero trabalha, pelo ponto de vista do professor aposentado, sem receber seus proventos há dez meses e resistindo aos convites da filha para deixar o vilarejo e ir com ela morar, distante do horror sempre iminente.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> </b><i><b>"</b><b>Quando falou, ela já havia pressentido, na metade de um segundo, que eu não a indagava com os olhos. De repente, descobria que, como um torvelinho de água turva, repleto de sabe-se lá que forças - pensaria ela - em seu íntimo, meus olhos sofrendo, espiavam para baixo, para o centro entreaberto, sua outra boca em posse de sua voz mais íntima. 'Pois olhe para mim', gritava sua outra boca, e gritava apesar da minha velhice, ou, mais ainda, por causa da minha velhice, 'olhe para mim se você se atrever'."</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Os exércitos perturbarão ainda mais a vida do professor Pasos e a de todos no vilarejo. Ali está como que a nação inteira submetida a uma guerra incompreensível, em que poucas vezes se identifica quem ataca quem, mas se sabe bem quem sofre as piores consequências ao final: o povo desarmado, continuamente ferido, raptado, sequestrado e morto, em meio às refregas. Ninguém está livre das balas, nem mesmo aqueles que pagam aos exércitos por proteção. Uma vida impossível, mas que persiste, como o grito do vendedor de empanadas brotando de uma esquina qualquer. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> <i>"Na esquina da rua, não longe de onde me encontro - minha testa apoiada na porta, as mãos levantadas contra a madeira -, aparece outro grupo de soldados. Não são soldados, descubro, inclinando ligeiramente a cara. São sete, ou dez, com uniforme de camuflagem, mas usam botas pantaneiras, são guerrilheiros. [...] Vêm na minha direção, acho, e então uma descarga da esquina oposta a eles os sacode e prende por completo sua atenção: correm para lá, encolhidos, apontando seus fuzis, mas o último deles [...] leva a mão ao cinturão e então me joga, sem força, em curva, algo assim como uma pedra."</i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Rosero esmiúça o caos da guerra. A energia que se dedica ao amor e ao trabalho voltadas, então, à sobrevivência. A transmutação do padrão ético, dos interesses, dos projetos; de repente, todos marionetes sem cordões expostos ao turbilhão da queda, da morte banal, da ausência de estradas a seguir, de autoridades a quem apelar, de qualquer abrigo ao último suspiro de uma alma. Em meio ao tiroteio, o professor procura por sua mulher, que o procura: boa parte da narrativa se dedica a essa busca pelas ruas e casas. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> <i>"'Todos para a praça', um dos capangas grita para a gente, mas é como se ninguém o escutasse: caminho ao pé de um casal de vizinhos, sem reconhecê-los, e sigo ao lado deles, sem me importar em averiguar em que direção. 'Eu disse todos para a praça', ouve-se de novo a voz, em outro lugar. Ninguém liga, ouvimos nossos passos cada vez mais apressados: de um instante a outro, as pessoas correm, e eu com eles, este velho que sou, afinal de contas estamos desarmados [...]"</i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Fica, por fim, o ser humano à sua própria procura, por dentro e por fora, se esgaravatando em delírio, em luta permanente com o que sonha dominar, em busca do objetivo primeiro, do qual não se lembra mais; até mesmo pelo seu próprio nome, por sua morte exclusiva e redentora, que às vezes tarda ou se recusa a se apresentar. Que homem é esse, que lugar habita, que fome carrega, que rumo tateia, que lhe reserva a porta em que bate desesperado? Talvez o cano do fuzil em seu pescoço traga a inteira resposta a todas essas questões. Ou talvez tudo seja apenas repetição de episódios que insistimos em reencenar. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> <i>Os exércitos</i> é o tipo de encontro que justifica qualquer risco, o inesperado com o qual sonhamos, todo o tempo que a ele se dedicar, e até mesmo o cheiro de pólvora e sangue que persiste à nossa volta, após a leitura. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i>Os exércitos, de Evelio Rosero, com tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro, Editora Globo, 2010.</i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-43007911923255050702020-02-05T17:44:00.002-08:002020-02-05T18:05:45.087-08:00WIESEL E HELLMAN<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhluIcz1hnhP4MccxlgnkDIftGnavlI4FbQPGB3f_C2VuyaqwHXQ8-UdYOBC24a8vCr5gqiIB5OCHmwI_SQWmvIJlmPYsfXZJKrXTP2qpUsg84E7NlyHtGzn72h0EbhSqJPuwhjwDCk6R4/s1600/sonderberg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhluIcz1hnhP4MccxlgnkDIftGnavlI4FbQPGB3f_C2VuyaqwHXQ8-UdYOBC24a8vCr5gqiIB5OCHmwI_SQWmvIJlmPYsfXZJKrXTP2qpUsg84E7NlyHtGzn72h0EbhSqJPuwhjwDCk6R4/s1600/sonderberg.jpg" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRlCVEM0WIIzVqqtyqf6s1inrbl7vaZBj-ZOh-6OACGtG6M-MXQgGbryFCQsHwA1QEmN6zJvLfidaFsULOGrP9nUjpKqgozJsCWTBa4x5B0ion-bW0BKhwMlZSu3OOGWjCkEOHBs2eXmU/s1600/pentimento.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRlCVEM0WIIzVqqtyqf6s1inrbl7vaZBj-ZOh-6OACGtG6M-MXQgGbryFCQsHwA1QEmN6zJvLfidaFsULOGrP9nUjpKqgozJsCWTBa4x5B0ion-bW0BKhwMlZSu3OOGWjCkEOHBs2eXmU/s1600/pentimento.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b> Nos últimos dias, li dois livros num rompante: <i>O caso Sonderberg,</i> de Elie Wiesel, e <i>Pentimento</i>, de Lilian Hellman. Unidos pela origem judaica dos autores e pelo teatro, como tema, esses livros me passaram rapidamente pelas mãos e me deixaram boas impressões. Por isso, enquanto, reparo de esguelha a bola rolar em verdes gramados distantes, digito estas para registro memorial.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> WIESEL - Não tenho aqui o exemplar do livro de Elie Wiesel, para citar algum trecho, mas posso dizer que o protagonista Yedidyah, apaixonado pelo teatro, desiste da carreira de ator e migra para a crítica de teatro, gentilmente empurrado por seu professor. E acaba cobrindo um julgamento que envolve um jovem alemão, estudante em Nova York, acusado de ter assassinado um tio que o visitava, durante um passeio na montanha. Claro que até chegar ao julgamento, Wiesel nos apresenta Yedidyah, sua família, sua mulher Alyka, e seu interesse crescente por religiosidade. Mas o teatro é a força motriz da narrativa, o que leva o crítico a cobrir um julgamento como se fosse uma peça em muitos atos, mas que no final pode levar alguém à morte. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Wiesel costura muito bem as origens das angústias de Yedidyah e do drama vivido pelo jovem Sonderberg. Um alemão descendente daqueles que "encenaram" a grande tragédia do povo judeu, e um americano de origem judaica, cujos filhos lutam as novas batalhas em defesa de Israel. Um se declara "culpado e não culpado" e o outro revira o passado em noites de pesadelo. Pequeno em extensão, <i>O caso Sonderberg</i> é um livraço, simplesmente.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> HELLMAN - "Estou agora em uma idade em que a supressão de coisas antigas deve ser observada com cuidado, e qualquer frase que comece com 'lembro-me' é grande demais para o meu gosto, mesmo quando sou em quem a diz", crava Lilian Hellman no texto intitulado "Teatro". <i>Pentimento</i> reúne retratos memorialísticos a partir de pessoas da família, amigos e do teatro, que a projetou como autora. Resulta em livro autobiográfico, no qual Hellman nos conta de suas insegurança, impetuosidade, rebeldia e convivência com vários amigos e com seu grande amor, Dashiell Hammett, por 30 anos. E de sua luta com as palavras e tramas, claro.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> "Penso que o fracasso de um segundo trabalho é mais prejudicial para um escritor do que qualquer outro fracasso que vier depois", aponta com firmeza ao tratar de sua segunda peça <i>Days to come</i>. Criada entre Nova York e New Orleans, Hellman recupera nesse livro episódios, como os dias negros de perseguição pelo macartismo, e familiares que tiveram importância em sua formação personal e que a marcaram por seus tipos impagáveis e performances memoráveis, como a tia Jenny e o tio Willy. Até mesmo uma tartaruga mereceu dela um capítulo inteiro que, na verdade, é construído como se fosse o relato de seu primeiro "assassinato". Memorável, portanto. E Hammett sempre ali, provocante, crítico e implacável. "Julia", narrativa de um episódio em que Lilian Hellman se envolveu na luta contra o nazismo, a pedido de uma amiga militante em plena Alemanha, seria adaptado em 1977 para o cinema, e é parte integrante desse livro, prenhe de verdade e rico em emoção.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> E que título formidável! Igualzinho ao conteúdo.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> </b> </div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-57686805869339754092020-01-23T16:42:00.001-08:002020-01-24T10:53:11.604-08:00LEONARDO PADURA E O NOBEL DE LITERATURA<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGX2odWuTsc5V_aDD39zfbae9ZB1RzcCVkaAJ0moxifdoVsavEMC4t4nzM0SnIL57sOhDOA91MaeGB4KWg5hyphenhyphenmm83puVD5puZp2_nsCQXL-v3FNuBXOwUe5w9frlzGlOfhJdZXOeg34L4/s1600/padura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="585" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGX2odWuTsc5V_aDD39zfbae9ZB1RzcCVkaAJ0moxifdoVsavEMC4t4nzM0SnIL57sOhDOA91MaeGB4KWg5hyphenhyphenmm83puVD5puZp2_nsCQXL-v3FNuBXOwUe5w9frlzGlOfhJdZXOeg34L4/s320/padura.jpg" width="218" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Há banho de língua, banho de cuia, de bacia, de bica e de chuveiro; banho de riacho, de rio, de piscina e banho de mar. E outros mais que desejar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Depende da escassez de água, da criatividade humana ou da mera localização do sujeito que se banha. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> E há o banho de literatura. Não uma prova ligeira, uma dose calibrada ou jarra generosa, mas um banho por inteiro, inescapável e purificador. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Tenho lido os romances escritos por Leonardo Padura, e mesmo antes de concluir "O romance da minha vida", publicado em 2019 no Brasil pela Boitempo, já havia consolidado o entendimento de que o Nobel de Literatura é premiação mais que merecida para esse escritor cubano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Não precisa ser este ano ou ano que vem, pode ser em 2022 que estará muito bem. </span><span style="font-size: large;">Padura tem feito o grande trabalho do escritor. Tem mergulhado nas profundezas da história e da alma do povo cubano, e de lá retornado com ramos de ouro reluzentes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> O que sinto ao ler seus livros é que Padura não deita meros olhares à sua volta, não atira pedrinhas no leito de águas mansas, não perde oportunidade de abrir o mapa da ilha ao coração de quem não teme o cheiro do povo e suas mil maneiras de vencer o aguilhão do tempo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> O romance da vida do poeta José Maria Heredia (tema principal do romance citado acima) é grande invenção literária, é gancho ao qual Padura prende a miséria vivida e o sonho do povo cubano por justiça e liberdade, desde tempos remotos. E que ainda persiste, pelo que se sabe.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Lago profundo e cálido, os romances de Padura dão voz ao homem comum, desvendam os dramas do cotidiano popular, escancaram as tramas e os absurdos do poder, expõem as raízes do ser cubano na contemporaneidade. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Ontem e hoje, como sempre, a ilha condensa vozes, cheiros, ações e omissões humanas com os quais nos identificamos nos livros de Leonardo Padura, irmanados que estamos pela tragédia latino-americana. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> O Nobel para Leonardo Padura resulta, portanto, em algo óbvio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Até lá, recomendo mergulhos constantes em sua literatura. Da maneira que preferirem, mas nela se banhem, por necessário.</span></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-77612816605453139552020-01-06T18:44:00.002-08:002020-01-06T18:45:42.953-08:00SANTO REIS<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Santo Reis é um bom santo...</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> O batuque do reisado, as chulas entoadas, o sincopado do ritmo a embalar o sono da criança que fui, no lugar que foi, num tempo que resiste.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Sequer tenho notícia de reisado, as pessoas se vão à francesa, escapam em silêncio pela névoa que se espalha sobre as águas da memória. O batuque ressoa na caixa craniana, incontornável.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> A questão central será sempre "quando", diante de uma inevitabilidade.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Iniciadas as "incelênças", e a partir daí suor, poeira e um sopro de desespero que jamais deixa de se infiltrar noite adentro.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Esse "quando" acontecerá quando. Estaremos lá. E de nada saberemos.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Santo Reis é um bom santo...</b></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-1855226831453026102019-12-28T15:34:00.001-08:002019-12-31T08:59:29.438-08:002020<br />
<b>Quase não tem graça alguma.</b><br />
<b> Na verdade, cansa festejar o que não tem sido bom.</b><br />
<b> E cansa, mais ainda, fingir esperança num novo tempo, que tudo tem para ser ainda pior do que este que se esvai. Esvai, mesmo.</b><br />
<b> O bom de tudo que tem passado é que estamos aqui para escrever estas.</b><br />
<b> E para ler estas e outras.</b><br />
<b> Mas estou certo de que há quem discorde de que mesmo isso seja bom.</b><br />
<b> </b><br />
<b> Esperança, otimismo, fé no novo tempo... - pronto, cumprido o ritual.</b><br />
<b> </b><br />
<b> Fato é que perdemos muito mais do que é mantido.</b><br />
<b> Notem que eu não escrevi "mais do que se ganha".</b><br />
<b> Cada dia vivido, uma perda no saldo.</b><br />
<b> Cada sonho adiado ou não realizado, ah... um estrago na alma.</b><br />
<b> Cada oportunidade desperdiçada, um atraso de vida.</b><br />
<b> Cada frustração sofrida, uma cicatriz.</b><br />
<b> Cada amigo que se vai, o mundo reduzido.</b><br />
<b> Cada topada, uma dor feladaputa a suportar.</b><br />
<b> </b><br />
<b> Ao positivar as orações acima, não se obtém grande coisa.</b><br />
<b> Experimente, mas à vera. </b><br />
<b> Agora, se é para fazer parte da Grande Alegria das selfies e stories, então a coisa é farta.</b><br />
<b> Tome Noronha, Seychelles, Times Square, Muralha da China, Torre Eiffel, praia de Copacabana...</b><br />
<b> E depois do clique, a depressão.</b><br />
<b><br /></b>
<b> Ah, sim, somos inteiramente responsáveis por esse quadro deprimente.</b><br />
<b> Como indivíduos, grupos sociais e sociedade inteira.</b><br />
<b> Existir, resistir, pois.</b><br />
<b> De alguma forma, preparar o couro para mais uma travessia.</b><br />
<b> Não de um rio, mas de uma vala de lama fétida e tóxica de mais uma barragem rompida.</b><br />
<b> </b><br />
<b> Dizem que é um novo ano, dizem.</b><br />
<b> Mas é bom preparar o couro.</b><br />
<b> </b>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-26516777794393716112019-12-20T16:27:00.000-08:002019-12-20T16:45:43.796-08:00AURORA DE CEDRO, de TITO LEITE<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2wZzzcdvRnWnwbi_UdtI9LA6kgCSNWHY-EVdD3WzorCPoSDrG9vHgqr0Ll4y4rXZ2ounLoLAcGRwsLOJZmuvRlo2B4bF2chSqE7ep1fPv-REgwMWOPcAM0gY2WG9LbPGQfcEc9xPiahs/s1600/aurora+de+cedro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="499" data-original-width="333" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2wZzzcdvRnWnwbi_UdtI9LA6kgCSNWHY-EVdD3WzorCPoSDrG9vHgqr0Ll4y4rXZ2ounLoLAcGRwsLOJZmuvRlo2B4bF2chSqE7ep1fPv-REgwMWOPcAM0gY2WG9LbPGQfcEc9xPiahs/s320/aurora+de+cedro.jpg" width="213" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O poeta está no que escreve, o poema é seu lar, sua estrada e desvios.<i> Em cada ode, o poeta canta/ uma morte...</i> O poeta arrasta consigo tudo que ainda não aprisionou no verbo, projeta nos desvãos suas agonias e sonhos. <i>A curva,/ o baque,/ o presságio/ de uma ilusão.</i> Talvez não seja nada disso, e bem aí resida todo encanto da literatura. O leitor pode não perceber sangue e lágrimas no brilho dos versos, e pode ser que nenhuma umidade haja nas páginas que lê, ou suas mãos é que sejam impermeáveis, vai saber o quê ou quem... <i>Deus nos salve/ de Deus</i>. Assim, a poesia se oferece aos que a procuram e a desejam, em especial, em tempos trevosos. Assim um livro de poemas se abre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Aurora de cedro</b></i>, de Tito Leite, tem todo jeito de estrada vicinal, embora ostente na clareza dos poemas uma aparência de estrada romana. <i>O navegante/ é uma tarde esmagada/ na barca. </i>Aurora é o nome da cidade natal do poeta, no cálido Ceará: nordestino, sertanejo pode falar em sabres, mas pensa em peixeira, conheço bem essa viagem. <i>Não há estrada certa/ ou verdades incontestes. </i>Pois o poeta sabe que tropeçamos quase sempre nos voos que ensaiamos diariamente. <i>No fundo/ é tudo lodo,/ por isso me/ estilhaço todo. </i>Riobaldo sorriria ao ouvir isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tito Leite é monge beneditino. Pausa para um "oremos". Aqui entra o cedro do título do livro, madeira que é símbolo do Líbano, citada 75 vezes na Bíblia, utilizada em cerimônias religiosas e construção de templos desde o Egito antigo, segundo a Wikipedia, cujos uso e cheiro povoam o imaginário de judeus e cristãos. O cedro diz do trabalho do poeta: massa de combate, entalhe e polimento. <i>Deus me sabe/ na moira/ das suas mãos./ São voláteis/ as minhas preces. </i>Os poemas de Tito Leite expõem a batalha do homem e seu propósito terreno. <i>Eu beijaria o caos </i>diz o poeta em letras garrafais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Li várias vezes <i>Aurora de Cedro </i>antes de comentá-lo aqui. <i>O medo de que tudo/ dê em nada dói nos ossos</i>. É possível sentir reverberar o clássico em suas linhas, do fraseado aos temas, das citações bíblicas às filosóficas, sem desprezar as referências da <i>pop art, </i>pois o poeta não se esconde: <i>Eu habitava comigo/ como se a sonoridade do meu nome/ fosse um origami/ na aurora de cedro. </i>Taí um livro que recomendo, de um poeta que se arrisca, de um homem que se agita em sua incompletude. <i>Não ser de rebanho/ é não ter/ o cheiro/ do pastor. </i>O cuidado na construção do verso <i><b>Não ser de rebanho</b></i> justifica tudo no meu sãofranciscano entendimento. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Aurora de cedro, de Tito Leite, publicado pela editora 7 Letras, Rio de Janeiro, 2019</b></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-24852073436277176722019-11-29T05:50:00.001-08:002019-11-29T05:50:41.554-08:00O REI ARTUR VAI À GUERRA, RUY ESPINHEIRA FILHO<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfZomgm0EOpDV8bEtSCAC4PdsybS3DbahUAZaisLvR5E1jQku-YHTdbuNB1xmtFYP53yw-4XuVAchRVIOLy5G0Wc2CgSFvPW2hB2jQsThL0efx7by9HhoHmaKKhog6wIvSvzVa23V1QbI/s1600/Convite+O-Rei-Artur-vai-a-guerra%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="484" data-original-width="484" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfZomgm0EOpDV8bEtSCAC4PdsybS3DbahUAZaisLvR5E1jQku-YHTdbuNB1xmtFYP53yw-4XuVAchRVIOLy5G0Wc2CgSFvPW2hB2jQsThL0efx7by9HhoHmaKKhog6wIvSvzVa23V1QbI/s320/Convite+O-Rei-Artur-vai-a-guerra%255B1%255D.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-85698638103005074262019-11-01T14:02:00.002-07:002019-11-01T16:25:09.974-07:00ELENA FERRANTE E MÔNICA MENEZES EM SINTONIA<br />
<b style="text-align: justify;"> Leio que o novo livro de Elena Ferrante será lançado ainda este ano na Itália. E que não tem editora nem previsão de data para lançamento no Brasil. "La vita bugiarda degli adulti", com tradução livre para o português "A vida mentirosa dos adultos", é o título de mais uma narrativa que a autora ambienta em Nápoles, sua terra natal, a despeito de ser desconhecida sua verdadeira identidade.</b><br />
<div style="text-align: justify;">
<b> </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Pois bem, o material de divulgação de "La vita bugiarda..." adianta a primeira frase do romance: </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> "Dois anos antes de sair de casa, meu pai disse a minha mãe que eu era muito feia". </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Ao ler a frase, de imediato a associei ao poema "Eleição", de Mônica Menezes, pela voz feminina acusadora de um golpe terrível, a pecha de ser feia, que tem origem em um ser mais que amado, um dos genitores; no caso do romance de Elena Ferrante, o pai, e no poema de Mônica Menezes, a mãe. Leiamos o poema em sua versão publicada no blog da autora, "Estranhamentos", no dia 08 de janeiro de 2011:</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> ELEIÇÃO</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> o anel, a flor, o poema</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> tudo isso tão bonito</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> todavia o que ecoa mesmo</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> no fundo mais fundo da alma</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> são as palavras-lâmina da mãe</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> sussurradas no quarto ao lado</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> naquela madrugada de setembro</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> elegendo-a</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> para sempre</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> a menina mais feia da casa</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Um poema poderoso, sem dúvida. Toda vez que o leio, sinto as palavras rasgando o tecido dessa alma sensível, marcando-a eternamente com um epíteto naturalmente injusto; sinto um transbordo emocional inevitável e reconheço no poema a arte de uma poeta de superlativa qualidade, de indiscutível talento para o burilamento e condução de temas preciosos à condição humana. Precisava fazer esse registro, pois fui alcançado por essa sincronia criativa de duas autoras que muito aprecio e recomendo. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Aguardemos, portanto, o lançamento do novo livro da Elena Ferrante. Enquanto isso, confiram mais poemas de Mônica Menezes no blog "Estranhamentos", listado aí ao lado, e no "Profundanças 3", coletânea virtual publicada pela Voo Audiovisual, que teve organização de Daniela Galdino, onde "Eleição" se faz presente, que pode ser baixado gratuitamento em </b><span style="color: blue; cursor: pointer; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><a href="http://vooaudiovisual.com.br/projects/profundancas3/" rel="noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer" style="color: blue; cursor: pointer;" target="_blank">http://vooaudiovisual.com.br/projects/profundancas3/</a></span><br />
<br />
<br /></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-11502214370247616342019-10-04T10:00:00.000-07:002019-10-04T10:00:39.721-07:00SÃO FRANCISCO: O SANTO, O RIO E O GÊNIO <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzk1f8UWQrr82tyVPDuI2BzfgOCzJOaQp2yfWZQPzFTirpUEAJpkAqH_nO3B2eQCLz8wNxXNpkwQE3Vi8-4Bp3IriU0oXP6YJm4dKJxx67myBuhNmeDvxyrc662qdx4u3GjvL1XAcovLI/s1600/velho+chico.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="194" data-original-width="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzk1f8UWQrr82tyVPDuI2BzfgOCzJOaQp2yfWZQPzFTirpUEAJpkAqH_nO3B2eQCLz8wNxXNpkwQE3Vi8-4Bp3IriU0oXP6YJm4dKJxx67myBuhNmeDvxyrc662qdx4u3GjvL1XAcovLI/s1600/velho+chico.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwHGGirwMSdWkuzFkW580AYgW4lkjbGLKG3DItuvhVbjuJzlv7rvy4WIyhM5EyRVX3apvtOTbrR-3REbHwxWyo4z3iRuI0F7RtTsz5NUR01ZFZECzueW_DGUXfrkGDgQ-cjbTlsHIpWaQ/s1600/burton.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="238" data-original-width="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwHGGirwMSdWkuzFkW580AYgW4lkjbGLKG3DItuvhVbjuJzlv7rvy4WIyhM5EyRVX3apvtOTbrR-3REbHwxWyo4z3iRuI0F7RtTsz5NUR01ZFZECzueW_DGUXfrkGDgQ-cjbTlsHIpWaQ/s1600/burton.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> O rio é chamado de São Francisco porque sua foz foi encontrada pela expedição portuguesa que fazia o reconhecimento do litoral da nova terra, a mando d'El Rei de Portugal, no dia consagrado ao santo dos pobres. Américo Vespúcio era o cartógrafo, foi quem anotou lá a existência do grande rio, naquele 04 de outubro de 1501. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> De lá até os dias que sofremos na pele, o rio São Francisco foi o Rio dos Currais por todo o período colonial e o rio da Integração Nacional já na República, quando os vapores navegavam entre Juazeiro e Pirapora. Atualmente, entulhado em vários trechos, já não serve à navegação, mas como reserva para geração de energia elétrica e irrigação das grandes lavouras. Sem falar no sangramento a que o submetem para abastecer os tais canais... bem, deixemos isso de lado. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Quero lembrar aqui algo que relatei no romance "Beira de rio, correnteza", páginas 134/6:</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> <i>Naquele mesmo porto, chamado de Boca da Barra, pouco mais de cem anos antes, um diplomata inglês em serviço no Brasil, Richard Francis Burton, Sir, desembarcava no começo de um dia ensolarado. Era um preciso e festejado dia Quatro de Outubro, aniversário de achamento do rio e data comemorativa do santo que o nomeia, coincidência que merece particular e futura apreciação.</i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b> [...] Burton era figura ímpar. Geógrafo, cartógrafo, explorador, linguista, escritor, tradutor, diplomata e espião da Rainha da Inglaterra. Um renascentista e viajante inveterado. Em Bom Jardim, ocupou-se parte do dia em andanças pelo arraial e arredores, em conversações com o povo e a fazer anotações, fato em nada espantoso pois Burton dominava a língua, tendo passado temporada em Goa, então possessão portuguesa na Índia. Adotava como prática a imersão na cultura do povo que visitava. Comia de sua comida, bebia de sua bebida.</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> As anotações que fez em Bom Jardim, nos idos de 1860, Burton reuniu no livro que publicou sob o título "Viagem de canoa de Sabará ao Atlântico", editado no Brasil pela Editora Itatiaia. Resumi no romance os registros mais importantes que Burton fez sobre Bom Jardim, nossa Ibotirama, quando ali passou um dia inteiro, o dia 04 de outubro, um dia como o de hoje. À noite daquele dia, Burton desceu até a altura do Barro Alto, onde acampou e promoveu batuques e farra com os nativos, sujeito sábio. Disse muita coisa sobre a carnaúba e sobre cada lugar que lhe mereceu passagem e atenção. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Mas de tudo ficou aquele 04 de Outubro, dia do Santo, dia do Rio, dia em que o genial inglês, primeiro tradutor para o ocidente das "Mil e uma noites", o homem que conduziu a expedição em busca da nascente do rio Nilo (vejam o filme "Nas montanhas da lua"), esse incrível cientista nos visitou e tão bons augúrios fez ao nosso futuro. Que se cumpram, e que não seja tarde para nós e para o rio.</b></div>
<br />
<i> </i>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-12949509983528630672019-09-24T16:02:00.000-07:002019-09-24T16:02:05.622-07:0024 DE SETEMBRO 1969, QUARTA-FEIRA, O DIA DA MORTE<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b> Como aquele dia chegou e amanheceu, não faço a menor ideia. Sei que ficamos no Posto de Saúde até altas horas e que retornamos para nossa casa a granel, em momentos variados, pelo escuro das ruas, pois em Ibotirama a luz elétrica, então, era a diesel e desligada às 22:30h. Talvez eu tenha dormido pesado, menino que era, assustado que estava, esgotado por cansaços diversos, talvez.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Daquele começo de manhã de quarta-feira nada recordo que sirva a esta contação, a não ser de minha figura mirrada descendo a rua 1º de Janeiro a responder pessoas sobre o estado de saúde do meu irmão: "Na mesma, na mesma." E depois retornando ao Posto e depois em casa novamente. Era primavera lá fora e o mais gélido outono possuía o nº 3 da travessa Nossa Senhora da Guia. Sim, lembro do meu pai, em algum momento daquele dia, de barba por fazer e cenho absolutamente fechado, chapéu nas mãos, num silêncio insuperável. E da casa ficando atopetada de gente em providências arrepiantes.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> E foi de uma maneira seca feito um raio sobre nossa cabeça que, por volta das 11h, meu pai irrompeu em casa e disse: "Ele morreu". A partir de então, minha mãe prostrou-se na cama do casal aos gritos e em pranto, ou em pranto entrecortado por gritos. Minha irmã e eu agarrados a ela, num chorar desmedido, tentávamos dar-lhe algum consolo, fazendo promessas de bom comportamento. Havia aquela câmara dolorosa que abrigava minha mãe e pelo resto da casa uma agitação de preparo do velório. Tudo pra mim era espantoso e inédito. E muito tempo depois reviveria aquele ambiente, naquela mesma casa, quando eu mesmo conduzi os preparativos para os velórios de meus pais. Aquela casa jamais me abandonará.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Desse cenário, salto para a igreja lotada, a multidão ocupando o adro, escadarias e parte da praça, a cidade inteira ali presente. Vejo o caixão aberto, o rosto macerado de Nelsinho, os chumaços de algodão sobressaindo da pele morena e dos hematomas, as centenas de ginasianos fardados, e depois dos colegas mais próximos carregando o caixão, em revezamento, até o cemitério. Eu me espremia entre o povaréu, procurando ficar próximo do caixão, na longa jornada até o túmulo aberto. Lá, o caixão repousaria sobre o montículo de terra retirada, enquanto o sol nos abandonava de chofre, e o prefeito, meu padrinho Eládio Almeida Pinto, fazia o discurso de louvação do jovem estudante morto, do craque de futebol que o nosso futuro perdia, do filho muito amado de seus compadres. Lembro, lembro, lembro...</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Cinquenta absurdos anos se passaram. Vez em quando bate essa emoção retada e incontornável. Meus onze anos de então incorporaram esses cinquenta na marra. Toda sorte de tropelia me acometeu de lá pra cá e mesmo assim tenho resistido, pois resistir foi a parte que me coube. Saibam que, quando minha hora for construída e alcançada, quero depois virar cinzas. E se não for dar trabalho demais a quem ficar, que se me espalhem no meio do rio São Francisco, em frente ao cais de Bom Jardim, a Ibotirama falada. Adianto que só serve se for no meio do rio, onde não dá pé, que é sempre o melhor jeito de navegar.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-49891663642027952672019-09-23T08:43:00.002-07:002019-09-23T08:50:39.009-07:0023 DE SETEMBRO 1969, TERÇA-FEIRA, O DIA DO ACIDENTE<br />
<div style="text-align: justify;">
<b> Jantávamos cedo lá em casa. Uma mistura de sobras do almoço e café com leite, acompanhados de cuscuz, beiju, aipim, batata doce, essas iguarias da mesa sertaneja. Éramos beiradeiros que raramente comiam peixe: minha mãe passou mal, certa feita, com uma espinha de peixe atravessada na garganta. E assim tangíamos o tempo, entre sol e lua, alimpando o terreiro de nossa exígua existência.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Nelsinho possuía um porta-objetos fixado na parede de nosso quarto. Ele mesmo havia feito com sobras de madeira e pintado com uma paisagem de colina e coqueiros. Ali ficavam a escova de dentes, o desodorante e o creme pra cabelo Trim. Foi de cabelo engomado e cheirando a Rastro que deixou nossa casa para ir até a praça da igreja encontrar-se com a namoradinha. Era pra ter sido assim, algo corriqueiro.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Mas deu-se que topou com um caminhão de gado, guiado por um admirador, que lhe ofereceu carona. Nelsinho não quis subir na boleia. Por que não, se estava enfatiotado para encontro amoroso? Talvez por sua natureza aventureira, seu arrojo natural, Nelsinho galgou a carroceria e sentou-se no alto da gaiola, tomando vento... e o que mais? Não sabemos, ninguém veio nos dizer desses momentos que antecederam a queda. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> E o caminhão subiu a rua 1º de Janeiro, contornou rente a lateral da igreja e bordejou o jardim. Por que Nelsinho não desceu ali, se o jardim era o seu destino? Talvez estivesse cedo e a namoradinha ainda não se fizesse presente, ignoramos. Fato é que ele seguiu trepado no alto da gaiola do caminhão de gado. O motorista bem que poderia ter contornado mais uma vez na outra extremidade da praça, retornando pelo lado oposto, mas não, decidiu seguir para a pracinha do cais. E para chegar na praça do cais era preciso passar pelo beco de Seo Artur Matias.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> E foi ali, na entrada do beco, que se deu o baque. Cruzava o beco a fiação elétrica, e os postes de madeira não eram tão altos como os atuais. O caminhão entrou no beco e quando sua carroceria já desaparecia das vistas de quem observasse de um banco da praça, um corpo caiu de lá de cima no chão duro. O fio mais baixo alcançou o pescoço de Nelsinho, derrubando-o do alto da gaiola. Gritos, o caminhão para, enquanto Nelsinho levantava-se do chão, sacudindo a areia da roupa. Dá pra ver as pessoas acudindo-o, ele recusando apoio, sentindo aos poucos as dores todas avançarem por seu corpo e juízo adentro.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Mesmo nesse estado, Nelsinho foi a pé, por toda a praça da igreja, a maior da cidade, até o Posto de Saúde. Lá, já meio tonto, tiraram-lhe a roupa e lhe deram um banho de mangueira no fundo do prédio. E depois o levaram até um quarto, onde o médico da cidade veio lhe medicar. Enquanto isso, o povo corria até nossa casa para contar da tragédia seus detalhes mais crus e pesados. E o horror daquilo tudo suspendeu a arrumação do tempo, os gritos de minha mãe calaram o mundo, e fomos todos até o Posto de Saúde, onde uma multidão se aglomerava à porta.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Lá estava o herói deitado numa cama de ferro, agitando-se de forma desordenada, o rosto inchado pelo hematoma da cotovelada no jogo de domingo e pela pancada no chão do beco, o pescoço marcado pelo estrago que o fio lhe fizera de um lado a outro, trechos sem pele, tudo já ficando arroxeado. Minha mãe jogou-se ao seu lado, e tudo era puro desespero e impotência. Não havia na cidade recurso hospitalar, a bê-erre estava em construção e o mundo civilizado quedava-se distante demais. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Também eu fiquei ao lado da cama e vi crescer em Nelsinho a agonia de um cérebro perturbado por traumatismos e hemorragias. Uma agonia que teve seu auge quando ele se agarrou ao pescoço de minha mãe, que se entregava sem reação, exigindo de meu pai e outras mãos certo esforço para separá-los. E depois disso, Nelsinho aquietou-se. Caiu no beco por volta das 19h e entrou em coma às 23h. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-65958136670779436622019-09-22T08:43:00.002-07:002019-09-22T09:52:49.426-07:0021 DE SETEMBRO 1969, DOMINGO, O DIA DO JOGO<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b> Então a rapaziada organizou um selecionado local para uma partida no distrito da Canabrava do Boqueirão, sudeste do município, perto do riacho do Arame, de onde se pode desbandar para a serra do Chiqueiro Velho, dita Boa Esperança. Tudo isso lá no Bom Jardim, posto no mapa como Ibotirama.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> O ser humano havia pousado na lua, fazia pouco tempo, e Pelé estava muito perto de fazer seu milésimo gol em Andrada, já repisei o tema aqui anteriormente. No domingo que foi aquele 21 de setembro de 1969, seguiram em algazarra na carroceria de um caminhão, pela estrada da Veredinha, aqueles rapazes que amavam o futebol. Entre eles, Nelsinho, meu irmão, que precisaria chegar a dezembro para completar 15 anos, mas não conseguiu. Um menino de corpo atlético entre aqueles rapazes e homens-feitos.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Todos reconheciam em Nelsinho um craque excepcional. Lembro que foi "obrigado" a jogar entre os adultos por não ser aceito mais nos babas entre os de sua idade. Várias vezes o vi brincar de "time de um jogador", enfrentando sozinho um grupo de adversários do mesmo tope. Corria e ria, driblava e ria, fazia gols e ria, divertia-se com a bola nos pés. Era um azougue também fora do campo, e isso lhe causou transtornos e o desejo manifesto de ir-se em bora logo daquele lugar.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Quem perdeu tempo lendo meus livros já percebeu que Nelsinho se faz presente aqui e ali, por inevitável. Foi meu primeiro ídolo, meu irmão mais velho, de quem levei coques e taponas, a quem causei problemas por me destacar nos estudos, o contraponto indesejado, um grude incômodo ao furacão que se movia dentro dele. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Foi num domingo assim que Nelsinho foi acertado no campo de bola por uma cotovelada no olho esquerdo. Fez gol, jogou muito e voltou pra casa com um inchaço no rosto. Inchaço que se tornaria um pouco maior no dia seguinte. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b> Vejo no calendário de 1969 que, uma vez mais, fui driblado por minha memória. A sequência dos acontecimentos não se deu em domingo-segunda-terça, não. Houve a partida de futebol no domingo e a tal cotovelada. Na segunda-feira, dia 22, nada aconteceu de relevante. Talvez Nelsinho não tenha ido ao Colégio Cenecista, tenha ficado em casa, aplicando a lâmina fria de uma faca sobre o hematoma ocular, não me lembro. Mas houve esse dia neutro, um dia de bonança antes da tormenta que nos alcançaria a todos na terça-feira, dia 23 de setembro de 1969, exatos cinquenta anos atrás. Dias que não se cansam de apertar meu combalido coração.</b></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-2490471293844068862019-09-19T06:58:00.001-07:002019-09-19T06:58:52.458-07:00SANDRO ORNELLAS LANÇA "EM OBRAS" NO GOETHE INSTITUT<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Cambria; font-size: 12pt; line-height: 18.4px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGR0Z6JVqnStH_3F4vT2hdT9IE4J4Qgjyh03_hRwhZNxx_aevYKo_8QPXyLzw-Gk7SXSJjCCijjmfeDcGQ2XAgEHavSjNNBMn3r3AsfvEL6b22NBczHpYKyXfacaUmewUOiAJqP6ODpkQ/s1600/Capa+livro+Em+obras+-+Sandro+Ornellas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1280" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGR0Z6JVqnStH_3F4vT2hdT9IE4J4Qgjyh03_hRwhZNxx_aevYKo_8QPXyLzw-Gk7SXSJjCCijjmfeDcGQ2XAgEHavSjNNBMn3r3AsfvEL6b22NBczHpYKyXfacaUmewUOiAJqP6ODpkQ/s320/Capa+livro+Em+obras+-+Sandro+Ornellas.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Cambria; font-size: 12pt; line-height: 18.4px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Cambria; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier;"> <b>Sandro Ornellas promove no próximo sábado, 21.09, das 16 às 20h, no Goethe Institut (Corredor da Vitória, Salvador/BA), o lançamento de seu quarto livro de poemas, "Em obras". </b></span><b><span style="font-family: Courier; font-size: 12pt;">Busca de algum sentido no mundo em que vivemos, olhar crítico sobre o nosso tempo e um modo singular de expressão poética, são alguns dos destaques de</span><span style="font-family: Courier; font-size: 12pt;"> </span><i style="font-family: Courier; font-size: 12pt;">“Em obras”, </i><span style="font-family: Courier; font-size: 12pt;">que sai pela </span><span style="font-family: Courier; font-size: 12pt;">Editora Cousa/ES. </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Courier; font-size: 12pt;"> Ornellas traz uma proposta in</span><span style="font-family: Courier; font-size: 12pt;">comum para tardes de autógrafos: quem for ao evento, vai poder adquirir o livro pelo preço que achar mais justo. </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Cambria; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Courier;"> </span><span style="font-family: Courier; font-size: 12pt;">No material de divulgação, o editor Saulo Ribeiro afirma que a poesia do autor agrada por unir dois elementos: o experimentalismo radical na forma, na linguagem, mas sem perder a seiva do poema. “Há um deleite visual na leitura do trabalho de Sandro que se completa com os sentidos que ele nos aguça, nos fazendo salivar e sangrar ao mesmo tempo”, afirma. Já em um trecho da orelha assinada por Kátia Borges, a poeta ressalta que no livro de Ornellas “o lirismo presente nos versos dispensa os equipamentos de segurança obrigatórios e convida à coreografia da desconstrução”.</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Cambria; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier;"><b> <i><u>Trajetória do Autor</u></i>: filho de pais baianos, Sandro Ornellas nasceu em Brasília e mora em Salvador desde os anos 1980. Estreou como um dos vencedores do extinto Prêmio Copene em 1998, com <i>”Simulações”, </i>publicando ainda <i>”Trabalhos do Corpo” </i>[2007] e <i>”Formas de cair e outros poemas” </i>[2011]. Além de ter editado fanzines e folhetins poéticos, ele já gravou e produziu algumas experiências sonoras e videográficas. Ornellas também é professor do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Cambria; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-4366940026541446072019-09-15T14:37:00.003-07:002019-09-15T15:01:30.828-07:00AS COISAS QUE PERDEMOS NO FOGO, de Mariana Enriquez<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx2CQx_GNZ90rDbAvQj-rJqG8vUYzmdbdoaSCpHh6eHd5L5w91bdqgYhnHOCn_xRbuYuTBwJjvpGuddEGx9TFBvoCtB8R6KWh_Rizt7ZYql-w6jBAyLnb2y1UwN3lGR8oBxeGZ7cvS-wk/s1600/as+coisas+que+perdemos+no+fogo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="278" data-original-width="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx2CQx_GNZ90rDbAvQj-rJqG8vUYzmdbdoaSCpHh6eHd5L5w91bdqgYhnHOCn_xRbuYuTBwJjvpGuddEGx9TFBvoCtB8R6KWh_Rizt7ZYql-w6jBAyLnb2y1UwN3lGR8oBxeGZ7cvS-wk/s1600/as+coisas+que+perdemos+no+fogo.jpg" /></a></div>
<br />
<b> É possível viver na bolha.</b><br />
<b> Qualquer que seja.</b><br />
<b> Só não sei como se realiza tamanha façanha.</b><br />
<b> Talvez o fanático mais próximo explique bem como se faz.</b><br />
<b> E são tantos hoje em dia...</b><br />
<b> Mas eu prefiro manter distância das bolhas e bitolas.</b><br />
<b> Pois amo a literatura.</b><br />
<b> E na literatura a vida acontece plena.</b><br />
<b> Sem meias verdades.</b><br />
<b> Na literatura, claro, que se impõe como tal.</b><br />
<b> Ando atormentado pelos contos de Palahniuk e de Enriquez.</b><br />
<b> Ambos da escola das sombras e dos horrores humanos.</b><br />
<b> Mundo absurdo, vida surreal, gente demoníaca, ódio e loucura nas ruas e nas casas.</b><br />
<b> Pancadão... Palahniuk fica pra um depois.</b><br />
<b> Trato aqui dos contos de <i>As coisas que perdemos no fogo</i>, de Mariana Enriquez.</b><br />
<b> Jornalista e professora, Enriquez narra sobre o que a sociedade procura esconder.</b><br />
<b> O que quase ninguém quer tomar conhecimento.</b><br />
<b> O que poucos acreditam que aconteça na casa ao lado.</b><br />
<b> Casa e logradouro de qualquer lugar, mas calha ser na grande Buenos Aires.</b><br />
<b> As criaturas da noite, crianças abandonadas, mulheres maltratadas, homens extemporâneos.</b><br />
<b> Sim, há uma pegada feminista na abordagem dos temas, e por que não?</b><br />
<b> Homens seguem espancando e matando mulheres a todo instante.</b><br />
<b> Se um desses desaparecer, como se fazia na Ditadura Militar, que mal há?</b><br />
<b> Se mulheres decidem se queimar antes de serem queimadas por eles, quem há de?</b><br />
<b> Por que não se divertir enquanto se gerencia o horror dos abandonados?</b><br />
<b> A que deus se sacrifica tantas crianças desovadas em terrenos baldios?</b><br />
<b> A quem respeita a grande máfia dos miseráveis? Ou o que ela respeita?</b><br />
<b> De tudo isso, há algo novo ou que não se tenha feito antes?</b><br />
<b> É loucura o que provoca ou a loucura é resultado?</b><br />
<b> Tem alguém aí que não experimenta uma depressão assim ou assada?</b><br />
<b> De repente o rio Riachuelo supera o Tietê em miasmas e favelas.</b><br />
<b> E acontece que o limbo produz vida em profusão.</b><br />
<b> E que a miséria pode, sim, ignorar normas e rituais antigos.</b><br />
<b> E a fome pode se alimentar de outras fomes.</b><br />
<b> E o adorável ser humano assumir condições até então impensáveis.</b><br />
<b> </b><b>Deixar de ser, simplesmente. Ou ser diverso.</b><br />
<b> Desaparecer nas ruas, nas rodovias, dentro de um quarto.</b><br />
<b> </b><b>Essas coisas que perdemos no sangue derramado.</b><br />
<b> Nas ruínas e nos lixões.</b><br />
<b> Que perdemos no fogo que nos arde, em que ardemos uns mais que outros.</b><br />
<b> Quem zela por nós, afinal?</b><br />
<b> Quem merece o nosso zelo?</b><br />
<br />
<br />
<i>As coisas que perdemos no fogo, de Mariana Enriquez, tradução de José Geraldo Couto, publicado pela editora Intrínseca, 2017.</i>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-37835716015020089832019-09-05T15:26:00.003-07:002019-09-05T19:12:05.157-07:00ANDRADA, O GOLEIRO DO MILÉSIMO GOL<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPOTEJU3mc2uXb_rAPS3NF6sJLvalBUl0Lksy3UDotSE2SEIPergrkPuQ9M3_fiU2PQX5EPzTWiWkYxOP3iwKHOkkvEvd1X_H0CiTtwcXoiJAt4Q7hYypisRj5V6rUrZsnoTN3p5ruSxs/s1600/andrada.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPOTEJU3mc2uXb_rAPS3NF6sJLvalBUl0Lksy3UDotSE2SEIPergrkPuQ9M3_fiU2PQX5EPzTWiWkYxOP3iwKHOkkvEvd1X_H0CiTtwcXoiJAt4Q7hYypisRj5V6rUrZsnoTN3p5ruSxs/s320/andrada.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: large;">Os últimos movimentos de Andrada não foram na direção da bola. Depois de aposentar-se do futebol, Andrada trabalhou para o Serviço de Inteligência do governo argentino, a partir de 1983, e teve seu nome citado como agente da repressão, mas não recebeu condenação por falta de provas. Andrada sempre negou esse envolvimento, e é só isso que posso dizer pelo que leio por aí. Fato é que Andrada morreu ontem, 04.09, aos 80 anos de idade.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Ir em busca da bola, essa era a regra que pregava para o goleiro no instante máximo do futebol: o pênalti. Escrevi uma crônica sobre essa lição andradiana, que chegou a ser lida por Jô Soares em seu antigo programa no SBT, contando, inclusive, com <i>mise en scène</i>, um sucesso. Escrevi o texto com lembranças que guardei de uma reportagem feita pela revista Placar com o goleiro do Vasco, à época, cogitado para naturalizar-se e servir a seleção no Mundialito de 72, disputado aqui no Brasil em comemoração ao Sesquicentenário da Independência - chegou até a posar com a camisa tricampeã, outros tempos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"> Fiquei fã de Andrada não só pelo que fazia pelo meu estropiado Vasco (campeão carioca 70, brasileiro 74), mas por sua sabedoria de arqueiro. O goleiro deve ir sempre no rumo da bola. Por conta disso, peguei profunda antipatia por goleiro que escolhe canto e salta antes da batida do cobrador do pênalti. Este, o mote da tal crônica. Até os dias de hoje, nenhum grande goleiro segue essa lição primordial. E continuam abusando da minha paciência em disputas por pênaltis. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"> Pois é, o grande Andrada, que depois defendeu o Vitória em 1977, na formação poderosa que contava com Fischer de centroavante, se não me falha a memória mais uma vez. Andrada foi atrás da bola quando Pelé partiu para executar seu milésimo gol. Basta ver o tape: o goleiro magricela voando raso e tocando a pelota, sem evitar, no entanto, que a danada balançasse a rede cruzmaltina. Ouvi pelo rádio, Waldir Amaral narrando com sua voz arrastada e tendo meu irmão morto a meu lado, coisa que contei aqui isturdia. Andrada foi meu segundo ídolo, o primeiro sendo Nelsinho, um craque que Ronaldo Nazário imitava e que somente eu vi jogar, esse meu irmão morto aos 15 anos de idade num acidente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"> Ontem foi a vez de Andrada partir, seu verdadeiro último movimento. Que tenha sido realmente inocente do que lhe acusaram, é o que eu gostaria que fosse verdade. Pois como goleiro dos meus Vasco e Vitória, Andrada fez por merecer lugar de honra no meu seleto grupo de craques memoráveis. Que descanse em paz.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-63889125335007759192019-08-22T07:21:00.002-07:002019-08-23T16:23:00.304-07:00TORTO ARADO, de Itamar Vieira Junior<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLnN35A65HuR2WVyhRSCaSwFQG02tCx5nUJCYHg6HFcmP9aTOx64-_Y1hwEOkdGlQChAMuXLxfqjlysTn12qnW82z9ILim2M50gNHBQrYb6WNYw9JYg9gPBOs7yY6rbh_8eoUQsn_5LEc/s1600/torto+arado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="499" data-original-width="329" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLnN35A65HuR2WVyhRSCaSwFQG02tCx5nUJCYHg6HFcmP9aTOx64-_Y1hwEOkdGlQChAMuXLxfqjlysTn12qnW82z9ILim2M50gNHBQrYb6WNYw9JYg9gPBOs7yY6rbh_8eoUQsn_5LEc/s320/torto+arado.jpg" width="210" /></a></div>
<br />
<br />
<b> Aqui está um belo romance, um grande prosador.</b><br />
<b> Aqui está um povo inteiro a se movimentar no tempo.</b><br />
<b> Abrigado pelas asas dos encantados.</b><br />
<b> A dançar o jarê, a cavoucar a terra, a recolher peixes nas torrentes.</b><br />
<b> Daqui flui suor e cheiro das peles negras.</b><br />
<b> E muito sangue, também.</b><br />
<b> Pois não há movimento que fuja a desfecho sangrento.</b><br />
<b> E não há pessoa ou povo que suporte por muito tempo açoite.</b><br />
<b> Aqui a memória se aviva, revê o ciclo doloroso da servidão.</b><br />
<b> E a agitação de corpos e mentes no esforço para rompê-lo.</b><br />
<b> Aqui mora a família Chapéu Grande, uma que merece verbete.</b><br />
<b> Pois grande é o coração do serviço de cura.</b><br />
<b> Aqui está a prova de que não há tema esgotado.</b><br />
<b> <i>Torto arado</i> se irmana a <i>Tempo de espalhar pedras</i>.</b><br />
<b> Itamar Vieira Junior finca o pé no topo.</b><br />
<b> E faz isso por cavar profundo na alma.</b><br />
<b> Por valorar os caminhos e as tormentas de sua etnia.</b><br />
<b> Por escrever sobre o que bem conhece.</b><br />
<b> Adentre, leitor, na esgotada Chapada Velha.</b><br />
<b> Sem diamantes, mas com os coronéis de sempre.</b><br />
<b> E o povo deseirado, destelhado, coberto apenas por barro seco.</b><br />
<b> E conheça duas irmãs, como outras tantas, a viver suas desditas.</b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<b> No fio do corte.</b><br />
<b> Nas covas do Viração.</b><br />
<b> Na agitação de servir a uma antiga entidade.</b><br />
<b> Quanto cabe de revolta num silêncio forçado?</b><br />
<b> Donana sabia, Belonísia também, Bibiana aprendeu.</b><br />
<b> Não há vida sem loucuras repentinas, pois a dor assume essa forma.</b><br />
<b> O que foi se repete, pra nossa desgraça e vergonha.</b><br />
<b> Torto mundo, vidas tortas, coisa sem jeito, pelo que vemos na tevê.</b><br />
<b> Mas é preciso conhecer, reconhecer até aprender a servir e a perdoar.</b><br />
<b> O tapa de Mãe Salu precisa marcar de vez o rosto do Brasil.</b><br />
<br />
<br />
<i><b>Torto arado</b>, de Itamar Vieira Junior, romance vencedor do Prêmio Leya 2018, publicado no Brasil pela Editora Todavia, em 2019.</i><br />
<br />Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2482100041666529031.post-46531175162793936682019-08-19T07:59:00.000-07:002019-08-19T15:27:55.304-07:00PROFUNDANÇAS 3, antologia literária e fotográfica<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1A7bzAzEZiKJB4q0kuV6zKgB403jkLwA3biAOy-jSoGTt_NZD-O3XKn9fxQ9OeooFjl3gzfvT5G50M_4ywPwSXVVJrbTsoYuIF_ZgnRhYIkdjSSSwf_o0639Jr6RAix76S1yGxpDsrV4/s1600/profuncan%25C3%25A7as3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="150" data-original-width="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1A7bzAzEZiKJB4q0kuV6zKgB403jkLwA3biAOy-jSoGTt_NZD-O3XKn9fxQ9OeooFjl3gzfvT5G50M_4ywPwSXVVJrbTsoYuIF_ZgnRhYIkdjSSSwf_o0639Jr6RAix76S1yGxpDsrV4/s1600/profuncan%25C3%25A7as3.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Na próxima sexta-feira, 23.08, ocorrerá o lançamento virtual da coletânea literária e fotográfica <b>Profundanças 3</b>. A obra organizada pela professora e poeta</span><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Daniela Galdino, em parceria com a Voo Audiovisual, reúne poemas, contos, ensaios fotográficos e estará disponível para download gratuito em: </span><a href="http://vooaudiovisual.com.br/projects/profundancas3/" rel="noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer" style="color: blue; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank"><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">http://vooaudiovisual.com.br/projects/profundancas3/</span></a></div>
<span style="color: black; font-family: sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> O lançamento da antologia contará, ainda, com o Sarau Profundanças, durante a 13ª edição do IC – Encontro Internacional de Artes, no dia 25.08, próximo domingo, em Salvador/BA. No sarau, que terá transmissão ao vivo pelas redes sociais de Profundanças, estarão presentes dez das escritoras que compõem a terceira edição da coletânea. </span></div>
<span style="color: black; font-family: sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Em sua terceira edição, Profundanças homenageia Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro brutalmente assassinada em 2018, e Nátali Yamas, jovem fotógrafa negra com forte atuação em Itacaré/BA, que assina as imagens da capa e das páginas de transição. Duas mulheres negras de gerações e territórios diferentes, mas que se encontram a partir do discurso em sua arte e vivência política, de enfrentamento e denúncia do machismo e racismo e pela busca do bem viver da população negra e periférica, especialmente de outras mulheres negras, base fundamental da pirâmide social brasileira.</span></div>
<span style="color: black; font-family: sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Composta por textos literários de 22 escritoras da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo, cujas imagens foram captadas por 22</span><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> fotógrafes</span><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, a antologia literária e fotográfica visa confluir os diversos olhares através da horizontalidade, dos fluxos e dos encontros entre mulheres, que escrevem a partir dos seus lugares de diferenças.</span></div>
<span style="color: black; font-family: sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Desde sua primeira edição, em 2014, o projeto tem como propósito combater a invisibilidade de escritoras nos campos literário e editorial. Para isso, se soma a outras iniciativas de difusão da literatura escrita por mulheres. Com grande circulação nas redes sociais, a coletânea é uma produção independente que se desenvolve com o apoio de uma ampla rede de colaboradores, dentre </span><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">fotógrafes</span><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, designers e produtores. </span></div>
<span style="color: black; font-family: sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> </span><span style="font-family: "arial"; font-size: 12pt; white-space: pre-wrap;">Comemorativa dos 5 anos de atuação, a terceira edição do projeto atinge a marca de 51 escritoras com a publicação de poemas e escritos de A Luz Bárbara (PB/SP), Bárbara Uila (BA), Cynthia C S Barra (BA), Daniela Galdino (BA), Ezter Liu (PE), Francisca Araújo (PE), Gessyka Santos (RN), Isabelly Moreira (PE), Joana Velozo (PE/ESP), Jovina Souza (BA), Marina Melo (SP), MonaRios (PE), Mônica Menezes (BA), NegrAnória d'Oxum (BA), Odailta Alves (PE), Odília Nunes (PE), Paula Santana (PE), Raiça Bonfim (BA), Tatiana Dias Gomes (BA), Tereza Sá (BA), Vânia Melo (BA), Yasmin Morais (BA). Fazem parte da publicação também os ensaios fotográficos de Andreza Mona (BA), Ângelo Azuos (PE), Álvaro Severo (PE), Analu Nogueira (BA), Brenda Matos (BA), Diego Mallo (Espanha), Eline Luz (BA), Fafá Araújo (BA), Laís Aranha (SP), Luísa Medeiros (RN), Maria Ruana (PE), Marianna Souto (PE), Mylena Sousa (SP), Nathália Miranda (BA), Nathália Tenório (PE), Renata Pires (PE/França), Sarah Fernandes (BA), Silvia Leme (BA), Tacila Mendes (BA), Tom Correia (BA), Uiara Moura, Yalli Borges (PE).</span></div>
<span style="color: black; font-family: sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Serviço:</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O que: Lançamento virtual de Profundanças 3 - Antologia Poética</span><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando: 23 de agosto de 2019</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Onde: </span><a href="http://vooaudiovisual.com.br/projects/profundancas3/" rel="noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer noreferrer" style="color: blue; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank"><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">http://vooaudiovisual.com.br/projects/profundancas3/</span></a></div>
<span style="color: black; font-family: sans-serif; font-size: small; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O que: Sarau Profundanças no 13º IC: Encontro das Artes</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando: 25 de agosto de 2019</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Hora: 17:30</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Onde: Salvador/BA (Casa Rosada - Barris)</span></div>
<span style="font-family: sans-serif;"><span style="font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Transmissão online: </span><span style="font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">no facebook @profundancas</span><span style="font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> </span><span style="font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">e no Instagram @profundancas_antologia</span></span><span style="font-family: sans-serif;"> </span>Carlos Barbosahttp://www.blogger.com/profile/02206459663735433818noreply@blogger.com0