quinta-feira, 23 de abril de 2015

O QUE ENVELHECE



envelhece tudo
que repousa sem o devido desgaste

até mesmo
o tesouro que se amealha em cofre

envelhece o trono
e o sono dos inocentes

e envelhece principalmente
uma ideia que nos prenda a um poste
feito cavalo na frente de um saloon



sexta-feira, 17 de abril de 2015

DEZ ANOS HOJE


seus miúdos olhos ainda buscam os meus
que se desesperam
por entender aquele pouco brilho

quanta dor se pode suportar em silêncio?

garanti a meu pai minha companhia
até o último momento

meu pai apreciava o cumprimento de compromisso

hoje penso que se divertia
ao me ouvir murmurar: 
- não tenha medo, estou aqui

pois era aquela frase que seus olhos me diziam



quarta-feira, 15 de abril de 2015

O QUE PARTE


O percurso até o fim da linha se faz de garupa.
Há natural confiança no piloto ao se montar.
Trajeto combinado previamente.
O piloto, experiente, garante boa viagem.
Estrada boa, dificuldades previsíveis.
Assim se dá a partida.

O percurso até o fim da linha sofre alterações.
O piloto decide por trechos alternativos;
faz paradas não previstas; negócios particulares.
A viagem passa a apresentar riscos ao garupeiro.
Dificuldades imprevistas, manobras perigosas.
Na garupa, o viajante se mantém firme.
E calado.

Alertas na estrada.
Paradas na polícia.
Multas e avisos de cobrança.
O destino torna-se duvidoso.
Viajante a reboque do piloto.
E calado. Apêndice.

sábado, 11 de abril de 2015

O QUE ACONTECE


acontece que tudo parece derreter
em torno d'alma 
em lama

nenhuma cláusula pétrea resistirá
ao que assim acontece
entorno

ditadura em democracia
exército em movimento
corrupção contratada
burguês contra burguesia
discurso em bravatês
mentira oficial por ofício
internacionalização tardia
realidade em propaganda
roubo em expropriação
poder em esquizofrenia

tudo parece se dissolver
numa nova constituição
física

oleodúctil
doleuróssil
ourovalórica
mochilábil
fundeável
partibandística

acontece que nada pode revogar
leis naturais
nem mesmo o que apodrece
nos círculos infernais

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O QUE INQUIETA


tudo que acontece
para lá do meu alcance
pode me contaminar

daquilo sei quase nada
disso desconheço a fonte,
o lance,
o que se quer plantar

ontem não soube de muito
hoje me engano em ver

a história merece não sei que releitura
nem para mim mesmo
minha história posso mais contar

tomar pé na maionese
do discurso dominante
dicotômico, excludente
antes bem antes do meu sangue jorrar

acordar sozinho
andar sozinho
decidir sozinho
o rumo fora de qualquer cerca

e principalmente
permanecer vadio
subversivo
a inquietar aquilo e quem me acossa