sábado, 29 de junho de 2013

RUY CÉSAR


Conheci este Ruy César que está na capa de uma edição da revista Veja, de outubro de 1979. Era dirigente do DCE da UFBA. E naquele mês saiu do Congresso de Reconstrução da UNE, realizado aqui em Salvador, como seu novo presidente. E sequer era candidato.

Fui um dos milhares de delegados que ocuparam, durante alguns dias, o vão livre do Centro de Convenções, em Salvador. Após idas e vindas, com a proibição da entrada dos ônibus na cidade pelo ACM da época, discussões e votações a todo vento, no começo da noite de sábado, se não me falha a memória, uma bomba explodiu, cortando a luz do local e levando os participantes a um início de tumulto. Que não teve consequências trágicas por causa do Ruy César.

No escuro e sem som, Ruy César subiu na mesa e comandou a multidão com frases simples e diretas, que pedia para serem repetidas pelos presentes, como: "Companheiros, calma!", "Fiquem em seus lugares!", e mais. E foi assim, no gogó, que Ruy César controlou o pânico que ameaçava tomar conta do ambiente, informando o que havia acontecido e as providências que estavam sendo tomadas. Um líder. Um verdadeiro líder. Não podia ser outro o primeiro presidente da nova UNE, ali refundada.

Li ontem no jornal que Ruy César morreu aos 57 anos, vítima de um câncer. Que se tornou produtor cultural e era conhecido como fundador da Casa Via Magia. Não soube dele durante esse tempo todo, muito por conta de minha longa ausência de Salvador. Deixo aqui esse registro como uma pequena homenagem de um desconhecido, em cuja existência Ruy César plantou um momento inesquecível de grandiosidade humana. De arrepiar, até hoje.




Imagens: Site da revista Veja, A Tarde On Line.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

LANÇAMENTO DA COLETÂNEA "82, UMA COPA, QUINZE HISTÓRIAS"



Agora é pra valer: sexta, 28 de junho, a partir das 18h, na livraria LDM, Praça Castro Alves, em Salvador, acontecerá o lançamento da coletânea "82, uma copa, quinze histórias". Leia abaixo meu texto para o hot-blog do livro:

A potência de certos acontecidos requer cuidados no trato da memória. Eu sempre quis escrever sobre aquele almoço fraturado, aquela segunda-feira de luz, sombra e pavor. Hesitei, como sempre, ao receber o convite. Mas no fundo sabia que o conto já estava pronto, em alguma gaveta cerebrina. Não foi fácil espanar poeira e teias, realinhar os passos, emoldurar e colorir o causo. No entanto, quem escreve ficção sabe que o ofício reserva prazeres parecidos ao preparo de um banquete, com direito a experimentar desse e daquele prato, dessa ou daquela compota, e a alterar a seu gosto o cardápio e os temperos. É uma festa particular, onde se pode quebrar sem remorso taças e derramar vinho em brancas toalhas. E chorar escondido, também. Em "Jogo de cintura" homenageei um casal amigo prestes a ter o primeiro filho, revisitei meu tempo de bancário e paleteiro pelas ruas de Salvador e me entoquei novamente atrás de uma porta para assistir ao final da tragédia da seleção de Telê. Elis Regina e Moraes Moreira disseram presente na narrativa e obtive assim o ritmo que julguei adequado ao conto. Estou convencido de que a coletânea "82" será um golaço editorial, daqueles que resultam da participação de toda a equipe, com dribles curtos, passe em profundidade, corta-luz e tirambaço na rede adversária. 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

VATAPÁ COM CUSCUZ


Noite de São João.
- Alguém aí vai querer salada?
- Não, não como essas coisas laite de noite.
Não teve paredão. O paredão será na semana que vem. Mas teve um trio elétrico no terreno de um bar. Imagine passar a noite dormindo nos intervalos entre bandas e ser acordado às 4h da madrugada com um vozeirão:
- E agora com vocês a banda sensação do Nordeste, Carnes Gêmeas!
Mil e quinhentos decibéis alma adentro até o amanhecer.
Dizem que no paredão montam uma parede de som em cada canto da praça. Até os paralelos dançam. Mas isso será no São Pedro.
Por enquanto, vai-se ao vatapá com cuscuz. O vatapá é de frango desfiado, uma bomba calórica. A comilança parece não ter fim.
Aliás, há uma festinha de escola fundamental que se chama exatamente comilança: cada criança leva um prato e todos se acabam até a volta pra casa, pro almoço ou janta.
Por falar nisso, depois da janta, ouço:
- E aí, vai tomar alguma coisa antes de deitar?
- Claro, mugunzá.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

CIORAN, SILOGISMOS DA AMARGURA


Só os espíritos superficiais abordam as ideias com delicadeza.

Para nos vingar dos que são mais felizes do que nós, inoculamo-lhes - na falta de outra coisa - nossas angústias. Porque nossas dores, infelizmente, não são contagiosas.

Diariamente converso em particular com meu esqueleto, e isso minha carne nunca me perdoará.

Todas as águas são cor de afogamento.

Aquele que, por distração ou incompetência, detiver, ainda que só por um momento, a marcha da humanidade, será seu salvador.

Deixa-se de ser jovem quando já não se escolhe mais os inimigos, quando a gente se contenta com os que tem à mão.

Todos os nossos rancores provêm do fato de havermos ficado abaixo de nossas possibilidades, sem ter conseguido alcançar a nós mesmos. E isso nunca o perdoaremos aos outros.

Por que nos retirar e abandonar a partida quando ainda nos restam tantos seres a decepcionar?


Extraídos do livro "Silogismos da amargura", Emile M. Cioran, filósofo romeno que radicou-se na França, publicado pela Rocco, em 2011, com tradução de José Thomaz Brum.

Imagem: Bol Fotos

terça-feira, 18 de junho de 2013

82, uma copa, quinze histórias - NOVA DATA DE LANÇAMENTO, NOVO LOCAL


O LANÇAMENTO DA COLETÂNEA DE CONTOS 82, uma copa, quinze histórias MUDOU DE DATA E DE LOCAL.

ANOTEM: dia 28.06, sexta-feira da próxima semana, a partir das 18h, na Livraria LDM do Espaço Itaú de Cinema, na Praça Castro Alves.

A mudança foi motivada pelo feriado municipal anunciado para o dia 20.06, por conta do jogo Nigéria x Uruguai, pela Copa das Confedrações, aqui em Salvador. Assim, o local previsto anteriormente não abrirá suas portas.

Nosso jogo foi adiado, mas vai rolar bonito.

domingo, 16 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES DE RUA, DIREITO DO POVO


Belíssima foto. Uma pena que tenha sido capturada no Feice e eu não tenha aqui o nome do fotógrafo para grafar em caixa alta. A foto mostra um manifestante carregando um policial desmaiado. 

Pelo que tenho lido, houve policial quase linchado por um grupo de manifestantes e salvo por outro grupo de manifestantes; houve jornalistas feridos por balas de borracha, pelo menos um com ameaça de perder a vista; e tantos presos e detidos quanto nas manifestações do tempo da ditadura militar.

Não compactuo com atos de violência. Mas admito ser capaz de matar por causa de minha filha, por exemplo, e incapaz de matar por minha própria causa. Vá entender... Bem, os governantes têm o poder, e a polícia tem o poder com armas na mão. Pé sempre atrás. E o povo é aquela massa com a qual se faz o barro da nação, para construir sólidos alicerces ou petardos. 

Ainda não me situei bem quanto a essas manifestações originárias no aumento da passagem de coletivos. Mas estou sempre ao lado dos mais fracos, ando de bengala, quando não estou preso em um engarrafamento. 

Não só a Praça Castro Alves é do povo, todo espaço público pertence ao povo. Não se pode depredar patrimônio público, claro. Infratores devem ser detidos, punidos, mas com a força adequada, jamais excessiva.

Votei contra no plebiscito do desarmamento, eu que jamais tive arma e nem pretendo ter. Mas aprendi na faculdade de Direito que quando o Governo se propõe a retirar qualquer direito do povo devemos ser sempre contra: não se deve entregar direito na bandeja a seo Ninguém. Nem mesmo a dona Dilma.

Sim, umas boas vaias fazem bem ao alisamento da crista. Talvez assim baixe um pouco.

Sim, a inflação está bem mais alta do que dizem os números oficiais.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

SALVADOR, ZONA AZUL (III)


Restaurante bacana no Espaço Gourmet.
Jantar delicioso.
Sobremesa: biscoito de freira...?
- Garçom, isso aqui, biscoito de freira, o que é?
Hesitação.
- É um biscoito aí que tem.
Risadas incontidas, pedido alterado.
A conta, depois. Tudo bem.
(Porra, R$ 7,40 numa long-neck de cerveja sem álcool!!??)
Levantando pra sair:
- É, meu caro, parece que com esse cardápio estamos prontos pra Copa, não?
Foi a vez do garçom rir:
- Até amanhã, doutor.
É, estamos prontos para a Copa, sim.



Imagem: Bol Fotos, Copa e Cia Blog

domingo, 9 de junho de 2013

82, UMA COPA, QUINZE HISTÓRIAS - LANÇAMENTO E VENDAS




  Anotem: dia 20 de junho, quinta-feira, a partir das 19h, no ICBA, Corredor da Vitória, a Casarão do Verbo promoverá o lançamento da coletânea de contos 82, uma copa, quinze histórias. Avisem os amigos, apareçam. Até lá, o livro pode ser comprado nos endereços abaixo. Acho que vou dar uma passada no centro.  

AUTORES BAIANOS [clique aqui]
Faculdade Dois de Julho
Av. Leovigildo Filgueiras, 85, Garcia.
71 3181-9031

LDM
Espaço Itaú de Cinema
Praça Castro Alves, s/n, Centro.
71 3013-4759

SHOPPING CENTER LAPA
Stand de Revistas, 1º piso.

PÉROLA NEGRA [clique aqui]



Preço sugerido: R$ 30 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

UFOBA VIRA UFOB


Riam à vontade, pessoal.

Depois de nosso post "Ufoba é foda", o Governo Federal voltou atrás e mudou a sigla da Universidade Federal do Oeste da Bahia para Ufob (rs...). A sigla da Bahia (BA) foi para o sacrifício por conta do cacófato. E assim a nova universidade perde sua identidade automática, passa a ser aquela "onde fica, mesmo?".

Só não entendi por que não adotaram Ufoesba, se a Universidade Federal do Sul da Bahia ficou com a sigla Ufesba. Ufob é assim meio gozação: Ufo-a e Ufo-b, a voadora desconhecida,  ou Uf-ob, a universidade-absorvente, ou universidade-tampão.

A Ufob (isso deve mudar, ainda, sinto no ar) terá sua sede em Barreiras e campi em Bom Jesus da Lapa, Barra, Santa Maria da Vitória e Luis Eduardo Magalhães. Serão 35 cursos de graduação e pós-graduação, com previsão de atendimento a quase 8 mil estudantes.

Sempre achei que a maior causa de fuga dos interioranos para as grandes cidades é a busca por saúde e educação, e não trabalho ou sonho de riqueza. A educação está chegando ao interior com universidades federais e estaduais. Agora faltam os hospitais, bons hospitais. Como há em São Paulo faz um tempão, o que torna o interior paulista o segundo mercado brasileiro. Isso não é para rir, é coisa das mais sérias.

Agora, Ufob ainda beira o ridículo.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

EM BUSCA DO UNICÓRNIO, Juan Eslava Galán





Vencedor do Prêmio Planeta como melhor romance espanhol de 1987, narrativa deliciosa construída em primeira pessoa, numa linguagem de época que instala o leitor como mais um aventureiro em busca do unicórnio em terras d’África, a mando de D’El-Rey D. Henrique IV, no séc. XV, quando a navegação por mares distantes ainda era segredo de estado. Pois os heróis desse romance empreenderam viagem a cavalo, a camelo, a pé, enfrentando no “país dos negros” o grande areal, as matas fechadas, os rios e animais deles desconhecidos, em busca do poder afrodisíaco do afamado corno. 

Impressiona o trabalho de linguagem, o referencial histórico de suporte (o narrador não é nenhum sábio), o emaranhado de aventuras e o humor extraído da ignorância e da perplexidade de homens comuns diante do desconhecido: coisas, entes e costumes. Uma leitura em que se experimenta o puro prazer que a boa literatura deve trazer aos poucos humanos contemporâneos que ainda a valorizam. 


EM BUSCA DO UNICÓRNIO, Juan Eslava Galán (trad. port. de José Colaço Barreiros), Civilização Brasileira, 1992. Publicado originalmente na coluna Crítica Rasteira, da Verbo21.

Imagem: Bol Fotos, Luccia Lignan

terça-feira, 4 de junho de 2013

RUY ESPINHEIRA FILHO




Aos 70 anos, o poeta maior da Bahia, Ruy Espinheira Filho, continua a produzir boas notícias para a cultura baiana:

1. Seu livro de poemas "A casa dos nove pinheiros" (Dobra Editorial/SP) é semifinalista do prêmio Portugal Telecom.

2. "Estação infinita e outras estações" (Bertrand Brasil/RJ), obra que reúne a produção poética de Ruy até 2012, recentemente lançado, já está com sua segunda edição em preparo, o que indica bom desempenho de vendas nas livrarias.

3. O livro de contos "Andrômeda e outros contos" (Caramurê/BA) foi adotado por alguns colégios de Salvador e já mereceu uma primeira reimpressão para atender a demanda.

Por essas e outras é que não hesito em afirmar que Ruy é o mais importante escritor radicado na Bahia.



Imagem: Bol Fotos, Carlos Souza

domingo, 2 de junho de 2013

CINQUENTINHA DOURADA*


Obama e Dilma
desconhecem Dirlei
em suas brancas alvoradas

por isso se enrolam
e se afundam
em confusões com falsos reis
e lideranças bravas

tivessem Dirlei
em seus estafes
mesmo por um dia
mesmo que por partes
toda questão se resolveria
em festa, em riso, em arte

ou então se embirrassem
Obama e Dilma
com seus opositores
Dirlei não ficaria mal:

organizaria sem falha
com axé e refletores
uma terceira guerra mundial


*(a partir de ideia de Mônica Menezes)

Ontem foi Dirlei que provou uma festa organizada por Bibi e amigas pelos seus cinquentinha de espoleta. Um belo encontro de amizades e emoções. Parabéns a Dirlei pelo amor que espalha e recebe. E a Bibi pela surpresa que orquestrou com êxito por semanas. Tudo dez.