terça-feira, 28 de maio de 2013

82, UMA COPA, QUINZE HISTÓRIAS


Taí a capa da coletânea de contos 82, uma copa, quinze histórias, da qual participo com o conto Jogo de cintura. O lançamento será no dia 20 de junho, no ICBA, Corredor da Vitória (que cantei num conto), aqui em Salvador. Todos os contos tratam daquele fatídico dia em que o Brasil saiu da Copa de 82 ao perder para a Itália por 3 x 2. A organização é de Mayrant Gallo e o livro sai pela editora Casarão do Verbo, a mesma que lançou ano passado a coletânea As baianas.

A capa não poderia ser mais precisa. Essa foto correu mundo, à época, e até hoje a capa do Jornal da Tarde é exibida como exemplo de qualidade jornalística (agora mesmo, por ocasião da morte de Ruy Mesquita, fundador do jornal, a capa com essa foto ilustrou alguns necrológios na tevê). E a orelha, meus amigos, foi escrita por Tostão, um craque nos campos e na crônica esportiva. 

Agora é segurar a ansiedade pelo dia 20, pois logo em seguida teremos na Arena Fonte Nova outro Brasil x Itália. 

Mais informações no blog do livro 82umacopa15historias.blogspot.com, ou pelo link aí ao lado. 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

PATRIMÔNIO, PHILIP ROTH


A leitura de certos romances pode ser muito dolorosa. Ler "Patrimônio", que tem como subtítulo, "uma história real", levou-me a um passado não tão distante ainda, no qual vivenciei experiência semelhante à que Roth narra: acompanhar a decrepitude física do pai até a morte. Terminei hoje pela manhã e até agora ando sorumbático, agindo maquinalmente e pensando em meu pai, que se foi após um longo tempo de prostração e agonia. Pais cuidam de filhos, filhos cuidam dos pais, esta a lei natural, esta a obrigação que o sangue determina, acima de qualquer dificuldade ou veleidade humana. 

 Deixo aqui um trecho que me fez tremer mãos e queixo:

    "Pedi ao médico que me deixasse a sós com meu pai, ou tão a sós quanto era possível em meio à azáfama da sala de emergência. Sentado ali e observando seu combate para continuar a viver, tentei me concentrar no que o tumor já lhe causara. (...) Pensei nos horrores que inevitavelmente viriam pela frente, mesmo supondo que ele pudesse ser mantido vivo num pulmão de aço. Vi tudo, tudo, e mesmo assim tive de continuar sentado lá por um longo tempo antes de chegar o mais perto dele que pude e, com os lábios quase tocando seu rosto encovado e arruinado, finalmente encontrar forças para sussurrar: "Papai, vou ter que deixar você ir embora". Ele já estava inconsciente havia horas e era incapaz de me ouvir, mas, em choque, aturdido, chorando, repeti aquilo muitas e muitas vezes até eu mesmo acreditar no que dizia.
     Depois disso, só me restou seguir sua maca até o quarto onde o puseram e me sentar ao lado da cama. Morrer dá trabalho, e ele era um trabalhador. Morrer é pavoroso, e papai estava morrendo. Peguei sua mão, que ao menos eu ainda sentia como sendo sua mão, afaguei sua testa, que ao menos ainda parecia ser sua testa, e lhe disse todo tipo de coisas que ele não podia mais registrar. Por sorte, de tudo que eu lhe disse nessa manhã, nada havia que ele já não soubesse."

Patrimônio, Philip Roth, tradução de Jorio Dauster, Cia das Letras, 2012,
Imagem: Philip Roth, Bol Fotos

sábado, 25 de maio de 2013

TRILOGIA "USA", JOHN DOS PASSOS





Paralelo 42, 1919 e O grande capital, são os títulos dos três volumes. Mais de duas mil páginas de prosa irretocável. Um monumento literário inquestionável. Passos nos apresenta em profundidade a vida dos trabalhadores do campo, dos das cidades, e dos magnatas; a indústria produzindo bens populares, os milhões de dólares, o proletariado; os grandes inventores, os banqueiros, os artistas; a grande guerra, o caipira no velho mundo, o preparo do império; as negociatas da guerra, as relações públicas imprescindíveis, o saber viver; a revolução bolchevique, as greves e os comícios, o jogo da bolsa de valores. 

Segmentado em “o jornal da tela” (flashes jornalísticos da época), “o olho da câmera” (o lirismo de vozes desconhecidas), perfis biográficos e as aventuras cruzadas de personagens emblemáticos, a trilogia USA expõe as vísceras daquele país em seu processo de construção interna, de afirmação no cenário mundial, de expansão imperialista. E revela a luta intestina de classes que produziu muita miséria e mortes e, também, o tecido devorador de almas da corrupção cotidiana. Descendente de portugueses, John dos Passos afirmou-se com a trilogia USA como um dos mais importantes escritores do séc. XX. 

USA (trilogia), John dos Passos (trad. de Marcos Santarrita), Benvirá, 2012

Foto: John dos Passos, Bol Fotos

quinta-feira, 23 de maio de 2013

SALVADOR, ZONA AZUL (2)


Depois das chuvas a buraqueira toma conta das ruas. Dizem que um buraco na Av. Paralela detonou pneus de 50 automóveis num só dia. A culpa naturalmente é da chuva, da chuva, da chuva...

Todo ano a mesma história se repete. E os cofres públicos sangram dezenas de milhões de reais na operação tapa-buraco. 

Quanto representa de despesa pública a manutenção anual do metro quadrado de uma pavimentação em paralelepípedo?

Calçamentos seculares (suspeito que alguns sejam milenares) de paralelepípedo são preservados em cidades europeias. Aqui desprezamos paralelepípedos. Onde havia, foram cobertos com um asfalto de quinta categoria. E esse asfalto, sabemos todos, exige recapeamento e tapação de buracos anuais, talvez semestrais. 

Ruas não são pistas de corrida, não precisam oferecer rolamento precioso e preciso aos automóveis. O argumento de que a trepidação estraga isso e aquilo do carro vai buraco abaixo com o asfalto que temos. Apaga, inventa outro.

Talvez sejamos ricos demais para rasgar dinheiro velho na chuva.

Talvez, na verdade, o lobby empresarial esteja acima dessas questões.

Quanto custa mesmo a manutenção anual de um metro quadrado de rua em paralelepípedo?


Foto: Portal A Tarde

quarta-feira, 22 de maio de 2013

SEDE


faz um tempo
que sinto trabalhar em mim
vontades de matar

aos poucos 
por estripamento
feito o pistoleiro de Herberto

talvez seja hora de morrer

segunda-feira, 20 de maio de 2013

LITERATURA E FUTEBOL


Então a bola vai rolar. O técnico já escalou o time e definiu o esquema tático. A estratégia de jogo vai sendo revelada aos poucos. 

Partida importante, trato cuidadoso, um certo mistério, muita expectativa. A bola vai rolar em junho, sabe-se agora. Falta pouco, falta pouco.

82, uma copa, quinze histórias, sai pela editora Casarão do Verbo com organização de Mayrant Gallo. Visitem o hot-blog do livro pelo link aí ao lado, ou digitem na barra de endereços:       82umacopa15historias.blogspot.com

Conheça no hot-blog quem são os autores e faça o aquecimento com textos e videos sobre a famigerada Copa de 82 e sua tragédia brasileira.

Jogo de cintura, minha contribuição.

domingo, 19 de maio de 2013

LUGAR COMUM


Quebrangulo, Itabira,
Cordisburgo,
Stratford-upon-Avon
e algum lugar denominado berço,
dizem do coração,
da pedra lima
e da geometria elástica
de nossa desventura

a humana coisa
se faz
num átimo delirante
de um lugar anônimo
por improváveis mãos
para uma desconhecida solidão
vagante

quinta-feira, 16 de maio de 2013

LANÇAMENTO "ESTAÇÃO INFINITA", RUY ESPINHEIRA FILHO




Próximo sábado, 18 de maio, entre 10 e 14h, teremos a oportunidade de conhecer o novo livro de Ruy Espinheira Filho, "Estação Infinita e outras estações", publicado pela editora Bertrand Brasil. Estaremos lá para esse grande evento. Anotem: Livraria Multicampi, LDM, Espaço Itaú, Praça Castro Alves, Salvador, BA. 

terça-feira, 14 de maio de 2013

ANIVERSÁRIO

mesmo nesse dia
chove em teus verdes vales

e teu peito transborda
enxurrada materna

e exatamente por isso
ainda nesse dia
passas a noite numa emergência hospitalar

tua festa assim se desdobra
em rugas
e silêncios abissais

mesmo nesse dia
abres o leque de renúncias
e tua alma decanta
um sonho antigo

enquanto a chuva desce
por teus verdes vales


segunda-feira, 13 de maio de 2013

CARTAS BAHIANAS, LANÇAMENTO


A P55 e os autores convidam para o lançamento de "Trem de risco", de Ana Bárbara Sousa, e "Muadié Maria", de Martha Galrão, cujo blogue pode ser acessado aí ao lado. O evento acontecerá amanhã, 14.05, no restaurante Confraria do França (antigo ExTudo), na rua Lídio de Mesquita, 04, Rio Vermelho, a partir das 19h. Sucesso! 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A MÁQUINA DE MADEIRA, MIGUEL SANCHES NETO


                                 A MÁQUINA DE MADEIRA, Miguel Sanches Neto, Companhia das Letras, 2012.

O padre sonhador materializa seu sonho. Julga que irá mudar o mundo com a máquina de taquigrafia. O registro dos sermões, das sessões parlamentares, facilitados. Então, na exposição nacional de 1861, perguntam-lhe: “Qual o valor do seu produto?” O produto do sonho pode pertencer a esse tempo, mas não o sujeito que sonha, que jamais pensa no valor comercial de sua criação. O padre sonhador não sabia que o valor desejado era diverso do seu. 

Houve uma infância brasileira, uma juventude, e de lá saltamos para o caquetismo atual, sem passar pela maturidade. Queimamos madeira, poluímos a água, produzimos sonhos sem valor algum até serem apropriados por alienígenas. Um padre, um homem que sonhava, que amava a escrava que comprou e libertou, um que inventou a máquina de escrita antes de ela ser patenteada pelos gringos. História mais brasileira, impossível. Romance histórico, painel de uma época, interessante viagem ao que nunca deixamos de ser. Nós, os que jamais sabemos o valor do nosso produto, do nosso sonho.


Publicado originalmente na revista eletrônica Verbo 21 (www.verbo21.com.br), edição de abril 2013.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

SALVADOR, ZONA AZUL


O flanelinha me apresenta a nova cartela de estacionamento:
 Agora é três reais, doutor, tá vendo aqui?
Vi, realmente, três reais cintilando na azulzinha.
 Parece que não teve jeito, né? O prefeito botou pra arrebentar, dobrou o preço.
O flanelinha, aqui chamado por alguns de guardador, deu um risinho:
 É, mas pra nós aumentou só 10 centavos.
 Como assim?  dessa vez não guardei na bochecha a perplexidade.  Quando era 1,50 vocês não tiravam a metade, 75 centavos?
Foi aí que o suado flanelinha me mostrou um papelucho com anotações a caneta:
 Tirava. Mas olha aqui, doutor, na cartela de três reais a gente deixa agora na prefeitura 2,15. Portanto, a gente tira agora somente 85 centavos na cartela de três, um aumento de 10 centavos. E a gente torrando neste sol...
Esta a lição do liberalismo baiano: 100% de aumento na despesa do usuário da classe média, quase 200% de aumento no faturamento da prefeitura e meros 10 centavos, pouco mais de 10% de aumento pro trabalhador.
Agora, tirem uma linha, como dizia minha mãe. 

domingo, 5 de maio de 2013

MAYRANT, ENCANTOS DO SOL, ROMANCE, QUARTA, 08 DE MAIO


O primeiro romance a gente nunca esquece. Conheceremos "Os encantos do sol", primeiro romance de Mayrant Gallo, na próxima quarta-feira, dia 08 de maio, a partir das 19h, na livraria Cultura do Shopping Salvador. 

O romance sai pela Escrituras com o aval da Petrobras e Ministério da Cultura, fruto da bolsa de criação literária que a empresa petrolífera oferece aos que se candidatam em edital. Ou seja, os "patrulheiros" estão se mordendo de raiva e ciúme: o primeiro romance do Mayrant Gallo já nasce premiado! Vão me patrulhar também por isso, mas e daí?... O sol queimará a todos que a ele se expuserem, esse um dos seus maiores encantos.

Então, vamos todos ao Shopping Salvador, quarta-feira, dia 08 de maio, a partir das 19h, para conhecer "Os encantos do sol", de Mayrant Gallo. Já reservei meu exemplar.

sábado, 4 de maio de 2013

VIDA VIDA


Dona Celinha passa a manhã inteira na clínica de fisioterapia.
 Eu gosto daqui, meu filho!
A filha vem buscá-la para o almoço.
Até lá, curte sessões de RPG, de ultrassom e assemelhados ou de hidroterapia, a depender do cartãozinho.
Entre coisa e outra, conversa entusiasmada com quem estiver na sala de espera.
Dona Celinha anda perto dos oitenta, sem dúvida.
Então, vejo-a sair emburrada do consultório do fisioterapeuta-chefe.
 Ele não quer que eu faça a cirurgia! - anuncia.
E de pé, no meio da sala, descasca:
 O que me incomoda é esta coluna, dói demais. Eu quero fazer a cirurgia e ele não recomenda, não quer de jeito nenhum!.
Endireita-se, olha em volta, repete o salmo e depois de ter a certeza da atenção dos presentes, arremata:
 Ora, eu não vou viver minha vida assim!
E se acomoda cuidadosa em uma cadeira, para esperar a filha.