quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
SALVADOR, ZONA AZUL XIII
Faz mais de duas semanas que a água que é entregue pela Embasa na Pituba fede mais que boca de lobo. Não a do bicho, mas essa das ruas, do sistema de esgotamento pluvial.
Deu no jornal e tudo, mas a empresa disse que o problema havia sido corrigido, ou coisa assim. Não explicou, que eu tenha lido, a causa da fedentina, e garantiu o que não é verdade.
A água na Pituba continua a cheirar mal, feito consciência corrompida.
Beber não dá.
O banho, se não fosse um Alma de Flores baunilha, pioraria mais ainda a situação.
Soube que a água do Stiep parece estar mais podre que a da Pituba.
Aqui em casa, o custo da água mineral diária passa dos oito reais.
Quem vai me ressarcir? E a todos desses bairros?
Ora, ressarcir... Isso é Salvador.
Já o carnaval está limpo, mar de cervejas, tormentas decibélicas, muita grana pra agradar turista.
E a água da Pituba passarinho não bebe nem a pau.
Se eu morrer, já sabem.
domingo, 16 de fevereiro de 2014
SALVADOR, ZONA AZUL XII
1. O verdadeiro teste da nova av. Paulo VI se deu com a volta às aulas. Claro que eu me esqueci desse detalhe e fui de carro comprar comida às 12:30h. São 200m pra ir, outros tantos pra voltar. Retornei com as marmitas, pontualmente, às 13:35h.
1.1 Óbvio que nas vezes seguintes, fui a pé, enfiando minha bengala nos buracos da calçada e respirando os buenos aires do Canal.
1.3 Ao topar com um preposto da companhia de trânsito, que tentava na base do apito, dar jeito no impossível, não resisti: mandei meus parabéns aos trêfegos engenheiros de tráfego de nossa cidade, que, por certo, jamais serão entregues.
2. Gavião vingador, quero tuas asas, quero teu curvo bico e tuas garras impiedosas. Quero, como tu, expulsar os invasores do meu terreiro. Como tu, derrubar do andaime quem ousa quebrar o cristal do silêncio, empatar a visão do mar, impedir o acesso ao verde.
2.1 Gavião vingador, sempre atento, do alto da árvore, mostrar à corja invasora que ainda há quem lute por espaço, por paz, por beleza.
2.2 Gavião vingador, símbolo da Resistência.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
VERÃO
Vivo na Bahia, mas não vivo a Bahia.
Sou o derrotado.
Ninguém se importa mais com meus despojos.
Poucos sabem, mas sou da Resistência.
Nem mesmo a Resistência sabe que é.
Perder a memória dos cacos, ter o objeto quebrado em mente.
Provar diariamente a dor periférica, a que não mata mas aleija.
O que decidem por aí não me afeta, eu fui.
O verão não me representa, embora prefira o calor.
Podem me recadastrar à vontade, não largo o livro.
Vivo na Bahia, mas a Bahia não vivo.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
LIVRO DO DESASSOSSEGO, FERNANDO PESSOA
Alguns desassossegos do Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, alguém que apenas Fernando Pessoa conheceu:
1. O coração, se pudesse pensar, pararia.
2. Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo.
3. No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação.
4. Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou.
5. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende.
6. Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos - um poço fitando o Céu.
7. O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios.
Tudo isso em apenas poucas páginas desse livro portentoso. De vez em quando, precisamos entrar em estado de desassossego.
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