Alguns desassossegos do Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, alguém que apenas Fernando Pessoa conheceu:
1. O coração, se pudesse pensar, pararia.
2. Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo.
3. No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação.
4. Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou.
5. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende.
6. Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos - um poço fitando o Céu.
7. O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios.
Tudo isso em apenas poucas páginas desse livro portentoso. De vez em quando, precisamos entrar em estado de desassossego.
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