quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2011

Se vamos ao seu encontro é porque ele já está lá, à nossa espera.
Caso consigamos alcançá-lo.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CHARLES KIEFER, SOBRE CERTA DOR



Dores esporádicas todos têm.
...
Dores psicológicas todos têm.
...
Mas há um tipo de dor que nem todos têm, felizmente. Alguns, premiados pela Moira, por Deus, pelo Acaso, a conhecem profundamente, com ela convivem todos os dias, sem domingos nem feriados. São as dores crônicas. Não são poucas as doenças a produzi-las. O reumatismo, por exemplo, é capaz de gerar mais de 300 quadros diferentes. O que se sabe é que é uma doença autoimune, gerada pelo próprio sistema imunológico. O organismo se defende tanto, produz tantos anticorpos que acaba por produzir dores terríveis, deformações internas e externas e sintomas desesperadores.
Meu avô Bernardo, para aliviar-se das dores reumáticas, em pleno inverno, mergulhava num rio gelado. Às vezes, sentado à margem do Marangueira, vendo-o banhar-se naquelas águas enregelantes, eu o imaginava louco. Noutros momentos, no meio de uma partida de canastra, eu via o seu rosto contrair-se. Então, por alguns minutos, seu olhar se perdia, vagava pela superfície das coisas. Eu não compreendia, mas percebia em seu olhar uma dor gigantesca e uma tristeza arrasadora. Muitos anos depois de sua morte, Regina, minha avó, contou-me que à noite, na cama, ele chorava baixinho.

A imagem daquele homem de quase dois metros de altura, capaz de carregar impressionantes partidas de tijolos (era oleiro), enrodilhado em si mesmo sob as cobertas e a chorar não saiu jamais da minha cabeça.

Levei 39 anos para entendê-lo. Um dia, uma dor insuportável atingiu meu pé esquerdo. Em poucas semanas, espalhou-se pelo corpo todo. Ao acordar, sentia-me congelado. O mínimo movimento produzia rajadas coloridas e multifacetadas da mais pura e concentrada dor. Uma radiografia de corpo inteiro revelou inúmeros pontos de inflamações nas juntas e nas articulações. Há 13 anos, arrasto-me pelos dias e pelas noites auxiliado por medicações, fisioterapia e massagens. Já tentei o espiritismo, a Virgem de Guadalupe, os chás e as simpatias. As dores crônicas são como as marés, batem com violência nas praias do corpo e depois se afastam por alguns segundos, para voltar outra vez. Sei que não terão fim. Tenho encontrado certo alívio no budismo, que afirma que tudo é ilusão, inclusive a realidade. Digo a mim mesmo que não existo, que sou hipocondríaco, que sou vil, desprezível, que devia suportar tudo com estoicismo, sem reclamar.

A dor maior talvez seja outra: a de compreender que somos mônadas, como disse Leibniz, e que estamos todos absolutamente fechados em nossas próprias prisões, à espera do dia em que a Morte venha nos libertar.



Charles Kiefer, em seu recente livro, "Para ser escritor", publicado pela Leya. Mas poderia ser um inédito de Carlos Barbosa. À exceção do budismo, que não adoto, e do avô Bernardo que não tive, eu poderia muito bem ter escrito (tirante o mérito do estilo, atendo-me apenas à verdade ali contida) o capítulo "As dores, a dor", de onde extraí o texto acima.

Imagem: Bol imagens.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NATAL ENFIM

DEIXO AQUI MEU ABRAÇO A TODOS OS LEITORES E AMIGOS.
UM ABRAÇO EXTENSO COMO UM ROMANCE.
INTENSO COMO UM POEMA.
E PERMANENTE COMO O AMOR.
DEIXO TAMBÉM MEU DESEJO DE BELEZA PARA TODOS.
DOS MAIS DUROS AOS MAIS LEVES MOMENTOS,
QUE POSSAMOS TODOS IR AO ENCONTRO DA AMIZADE.
E RETORNAR AMPLIADOS EM GRAÇA E GENEROSIDADE.
PORQUE É NATAL NA TERRA DOS HOMENS.

domingo, 19 de dezembro de 2010

MILENA BRITTO ESCREVE

Na edição de sábado, 18.12, o caderno 2+ de A Tarde publicou artigo de Milena Britto, "Um presente descolado...", com dicas de livros para presentes de Natal e de todos os momentos. Meu "A segunda sombra", livro de minicontos publicado pelo selo Três por Quatro, da editora carioca Multifoco, foi um dos livros citados no artigo:

"A segunda sombra, de Carlos Barbosa, é outro excelente para todas as idades, dos jovens que se reconhecem pela escrita curta e rápida de internet aos que veem a literatura como parte de um tempo, de uma época. É interessante os minicontos de narrativa precisa, com linguagem precisa e ritmo bem urbano."

domingo, 12 de dezembro de 2010

O LIVRO DE SAN MICHELE


Acabo de ler "O livro de San Michele", de Axel Munthe, o médico sueco formado em Paris, que atendeu a nobreza e a pobreza europeias do seu tempo, que amava e cuidava de animais, admirador da música de Schubert, que teve uma vida aventuresca de quase um século. E que em Anacapri, aos dezoito anos, topou com seu projeto de vida: a construção de uma casa com os escombros do antigo castelo do imperador Tibério. Dr. Munthe viveu seu sonho, o que o faz distante da mediocridade da vida comum.

"Não há nada para esquecer a própria miséria como escrever um livro; nada melhor também quando não se pode dormir", ensina Munthe em um dos prefácios do livro.

"O livro de San Michele" é uma autobiografia. Mas pode ser lido como um romance, pois o leitor sente a verdade pulsar em suas páginas. Munthe não esconde suas fraquezas, os episódios de ira, os erros cometidos como homem e como médico, até mesmo conta delitos cometidos ao longo da vida. Não fala de seus amores carnais, solteirão que foi. Mas conta de beijos roubados a monjas, em pleno claustro, ao pé do leito de outras monjas adoentadas, e se julga, ao final, na voz de um acusador em seu julgamento no céu, como um libidinoso.

Trouxe o exemplar de "O livro de San Michele" (Ed. Globo, 1979, 14a edição) da viagem a Cachoeira, na segunda-feira passada, descoberto que foi por Ruy Espinheira Filho, um admirador da obra, em um sebo-café da cidade. Agora que o li, espero pelo poema que Ruy escreveu após visitar recentemente San Michele, em Anacapri, em águas italianas.

"Tive a audácia de escrever que não tinha medo da cólera nem da morte. Menti. Desde o começo até o fim ambas me causaram um medo horrível. Descrevi na primeira carta como, meio asfixiado pelo ácido fênico no trem vazio, desci de noite na Piazza deserta, como cruzei na rua longas filas de carros e ônibus cheios de cadáveres a caminho do cemitério da cólera; e como passei toda a noite junto dos moribundos nos miseráveis bairros baixos. Mas calei-me sobre o que fiz duas horas depois da chegada; como voltei à estação, me informei ansiosamente do primeiro trem para Roma, a Calábria, os Abruzzos, fosse para onde fosse, quanto mais longe melhor, simplesmente para sair daquele inferno." Aqui, Munthe narra suas atribulações como médico voluntário durante a epidemia de cólera em Nápoles, referindo-se a seu livro "Cartas de Nápoles", em um dos capítulos mais poderosos de "O livro de San Michele", tido por muitos como "o livro da vida" e por outros tantos como "o livro da morte".



Foto: Bol Imagens

domingo, 5 de dezembro de 2010

TERRITÓRIOS DA FICÇÃO EM CACHOEIRA

Estarei nesta segunda-feira, 06.12, ao lado de Ruy Espinheira Filho, em Cachoeira, na UFRB, participando do seminário "Territórios da ficção - memória e política", organizado pelo escritor e professor Carlos Ribeiro.

Lá, conhecerei o trabalho de Tiago Santos Sant'Ana, estudante de Comunicação Social, sobre "Beira de rio, correnteza". E falarei sobre a gênese do romance. Estou certo de que será uma ótima experiência.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

AO PAI

  1. Pai nosso
  2. que estais no céu
  3. Santificado seja vosso nome
  4. Venha a nós o vosso reino
  5. Seja feita a vossa vontade
  6. assim na terra como no céu (de todos os mundos)
  7. O pão nosso de cada dia
  8. nos dai hoje (e sempre)
  9. Perdoai as nossas ofensas
  10. assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
  11. Não nos deixei cair em tentação
  12. e livrai-nos do mal
  13. pois vosso é o reino e a glória para todo o sempre
  14. Amém