domingo, 12 de dezembro de 2010

O LIVRO DE SAN MICHELE


Acabo de ler "O livro de San Michele", de Axel Munthe, o médico sueco formado em Paris, que atendeu a nobreza e a pobreza europeias do seu tempo, que amava e cuidava de animais, admirador da música de Schubert, que teve uma vida aventuresca de quase um século. E que em Anacapri, aos dezoito anos, topou com seu projeto de vida: a construção de uma casa com os escombros do antigo castelo do imperador Tibério. Dr. Munthe viveu seu sonho, o que o faz distante da mediocridade da vida comum.

"Não há nada para esquecer a própria miséria como escrever um livro; nada melhor também quando não se pode dormir", ensina Munthe em um dos prefácios do livro.

"O livro de San Michele" é uma autobiografia. Mas pode ser lido como um romance, pois o leitor sente a verdade pulsar em suas páginas. Munthe não esconde suas fraquezas, os episódios de ira, os erros cometidos como homem e como médico, até mesmo conta delitos cometidos ao longo da vida. Não fala de seus amores carnais, solteirão que foi. Mas conta de beijos roubados a monjas, em pleno claustro, ao pé do leito de outras monjas adoentadas, e se julga, ao final, na voz de um acusador em seu julgamento no céu, como um libidinoso.

Trouxe o exemplar de "O livro de San Michele" (Ed. Globo, 1979, 14a edição) da viagem a Cachoeira, na segunda-feira passada, descoberto que foi por Ruy Espinheira Filho, um admirador da obra, em um sebo-café da cidade. Agora que o li, espero pelo poema que Ruy escreveu após visitar recentemente San Michele, em Anacapri, em águas italianas.

"Tive a audácia de escrever que não tinha medo da cólera nem da morte. Menti. Desde o começo até o fim ambas me causaram um medo horrível. Descrevi na primeira carta como, meio asfixiado pelo ácido fênico no trem vazio, desci de noite na Piazza deserta, como cruzei na rua longas filas de carros e ônibus cheios de cadáveres a caminho do cemitério da cólera; e como passei toda a noite junto dos moribundos nos miseráveis bairros baixos. Mas calei-me sobre o que fiz duas horas depois da chegada; como voltei à estação, me informei ansiosamente do primeiro trem para Roma, a Calábria, os Abruzzos, fosse para onde fosse, quanto mais longe melhor, simplesmente para sair daquele inferno." Aqui, Munthe narra suas atribulações como médico voluntário durante a epidemia de cólera em Nápoles, referindo-se a seu livro "Cartas de Nápoles", em um dos capítulos mais poderosos de "O livro de San Michele", tido por muitos como "o livro da vida" e por outros tantos como "o livro da morte".



Foto: Bol Imagens

9 comentários:

  1. Parece que esse livro mágico escolhe cuidadosamente as pessoas que irão lê-lo, apreciá-lo, dar-lhe o devido valor. Assim ele também me "hipnotizou" do alto de uma estante em um sebo quando eu morava no Rio de Janeiro. Escrevi um artigo sobre ele, que poderá ser lido no site Recanto das Letras, em autores: Lúcia Constantino, em um texto chamado "Um Presente da Vida" -- muito prazer em conhecer mais um irmão meu nos laços de "O Livro de San Michele" - um grande abraço.

    ResponderExcluir
  2. Eu fiz o caminho inverso. Visitei Anacapri e, sem querer, passei por San Michele (ainda que relutante de pagar para entrar). Mas fiquei maravilhado, e louco para ler o livro depois de voltar ao Brasil. Tendo terminado agora, quero voltar para lá.

    ResponderExcluir
  3. Curioso, li o livro de San Michele quando tinha 14 anos, nos idos 1954. Fez-me bem recordá-lo agora. Obrigado.
    José Fava

    ResponderExcluir
  4. Retornei a Capri (lá estive há trinta anos) relendo "O Livro de San Michele". Axel escreveu um poema de vida, as atribulações de um médico conhecedor da alma humana mais do que o corpo. É um relatório de seu sacerdócio, é um romance, é uma enciclopédia de ética. É uma sucessão de grandes emoções. Leitura indispensável para os médicos, que devem atuar como refrigério para os doentes e menos esperançosos em ganhos. Aliás, Axel dá um exemplo de vida para todos os homens da terra. Amante da natureza, dos animais da terra e do mar, adorador da luz, Axel é mais que escritor: é um santo.


    José Maria Couto Moreira - Procurador do Estado de Minas Gerais

    ResponderExcluir
  5. Quero comprar esse livro e não estou conseguindo. Alguém pode me ajudar?

    ResponderExcluir
  6. Quero comprar o livro . Me ajude por favor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cleide, tente no site da Estante Virtual: www.estantevirtual.com.br se não me falha a memória. No site está reunido o acervo de centenas de sebos instalados por todo o Brasil e de pessoas que vendem livros avulsos. Boa sorte

      Excluir
  7. Estou aquí, agora, porque ando procurando esse livro, em pdf. Eu o lí há muito tempo, ficou na minha memória, nunca mais me saiu da cabeça "Gioia, Gioia, bella, bella!"

    ResponderExcluir
  8. Um livro que releio periodicamente. É simplesmente maravilhoso

    ResponderExcluir