sexta-feira, 4 de setembro de 2015

POEMAS EM RECIFE

 
 
    Em Recife, cruzamos a ponte Buarque de Macedo com a primeira estrofe do famoso poema de Augusto dos Anjos reverberando em nossa mente: "Recife. Ponte Buarque de Macedo. / Eu, indo em direção a casa do Agra, / Assombrado com a minha sombra magra / Pensava no Destino,  e tinha medo." Passeamos pelo Centro Antigo, vimos de longe o parque de esculturas de Brennand, fizemos e acontecemos, depois retornamos ao hotel para os devidos preparos para o encontro à noite na Fenelivros. Aí foi que Florisvaldo Mattos deu por falta da bengala. Procuramos aqui e ali, nada.
    Conta Florisvaldo Mattos: - Entrei em pânico, certo de que a esquecera no táxi de retorno ao hotel; mas logo o jovem ficcionista Carlos Barbosa veio em meu socorro e, além de me confortar com palavras afáveis de amigo, bom samaritano, emprestou-me uma das dele, alegando que possui três (rsrsrs), ante a minha falsa resistência em aceitar a dádiva (mais rsrsrs). Passado o impacto emocional, e em torno de uma taça de vinho, como convém em tais ocasiões, ele me sugere que escrevesse um poema sobre a lamentada perda. Seria como um registro memorialístico, em moldura indulgente de conforto.
    O poema saiu em forma de soneto inglês. E dedicado a mim, o que me deixa todo prosa. Aí está:
 
SONETO DA BENGALA PERDIDA
                                  A Carlos Barbosa
 
Perdi minha bengala no Recife
E nem sei se foi por ingratidão
Que escafedeu em busca de outro chão,
Talvez dizendo: "Ele não tem cacife
Para concorrer com um pernambucano".
Ou será que voltou para Paris,
Cansada de correr esses Brasis,
Que até nem mais aguenta o ser humano?
Vou lá buscá-la; só que não tenho euro,
Que é moeda de quem sabe usar bengala.
Saio do quarto e vou deitar na sala,
Supondo já que estou ficando neuro.
                Entre ficar na América do Sul,
                Quero encontrá-la voando pela Azul...
 
                          Mattos de Pernambuco