quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ANINHA FRANCO, NA MUITO



A BAHIA E SEUS UMBIGOS

"Porque a coisa mais difícil de se obter na Baía é uma conversa com um baiano sobre alguma coisa que não seja ele próprio. Todos os problemas de um baiano estão no seu eu. Se ele achar que a sua alma colorida está limpa  -  e ele sempre acha!  -, pouco se lhe dá que as ruas da cidade estejam imundas. E atira coisas pelas janelas com empáfia. Sua última obra, seja o implante do dente de um cliente, seja uma causa jurídica, um livro, uma composição, é, sempre, motivo para conversas que só mudarão de tema com o surgimento de outra obra. Perfeita, como a anterior."


Extraido da crônica de Aninha Franco na revista Muito, encarte do jornal A Tarde, edição de domingo passado, 28 de outubro.. Há mais, indico a leitura e uma necessária, mesmo que breve, reflexão sobre o que diz lá.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DIA NACIONAL DO LIVRO



Dia 29 de outubro, Dia Nacional do Livro.
Decidi, então, premiar com livros os abnegados leitores deste blogue.
São dois exemplares de cada título, oito no total.
O critério é simples: peça o exemplar pretendido em um comentário, indicando uma segunda opção.
Publicarei os comentários depois de esgotada a cota.
Os agraciados deverão enviar endereço postal para o meu e-mail: caobarbosa@bol.com.br.
 
Estes são os títulos:

1. A casa dos nove pinheiros - Ruy Espinheira Filho.

2. A dama do Velho Chico - Carlos Barbosa.

3. A segunda sombra - Carlos Barbosa.

4. Andrômeda e outros contos - Ruy Espinheira Filho.

Boas leituras a todos.

domingo, 28 de outubro de 2012

ESTAMPAS DO TEMPO



Domingo de eleição. Hoje, não voto.

Volto aos inseparáveis LPs.

Vital Farias, paraibano de Taperoá, cantou "Canção em dois tempos (Era casa, era jardim)" e "Caso você case", gravação do selo Polyfar, de 1985.

Hélio Contreiras, com sua voz mansa, abriu o leque de suas "Estampas Eucalol" (que Xangai tornou conhecida de todos), em gravação do selo Estilingue Invenções, de 1990.

Agora, deixo rolar o bolachão da Banda de Pau e Corda, "Redenção", canções que deram sentido a muitas noites de minha adolescência. Lembro do meu amigo Juazez, ao violão, "Maria tomando banho / nas águas claras do rio", passando várias delas na brisa do cais de Ibotirama. O disco é de 1974, da RCA Victor.

Clássicos.

E eu, que ainda me espanto com o lixo que cobre a superfície contemporânea, mergulho nesse mais profundo da alma nordestina. A beleza cavada na dor. A fartura ofertada pelos que nada possuem em volta de si mesmos, apenas jorram. Cada pingo um pote, como canta o Zé.




Imagem: Bol Fotos, bonecos do Metre Vitalino.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A CASA DOS NOVE PINHEIROS, RUY ESPINHEIRA FILHO




Ruy Espinheira Filho comemora seus 70 anos com um novo livro de poemas: A casa dos nove pinheiros. O livro reúne uma seleção de poemas escritos no período 2009-2012, e sai publicado pela editora Dobra, de São Paulo. O aniversário de Ruy será em dezembro, mas, esbanjando generosidade e invertendo a lógica, entrega aos amigos desde já (não haverá lançamento do livro) um presente que é uma celebração emocionada de uma vida bem vivida, na qual afirma crer "que sempre fui feliz, / inclusive nos momentos em que me sentia / e me dizia / infeliz."

A imagem da capa mostra dois pinheiros maiores seguidos por sete outros, "nove pinheiros enfileirados / em curva suave, / do maior ao menorzinho, / representando / o pai, / a mãe, / os sete filhos / que ali moravam." Morava, essa família, em uma casa viva na memória do poeta e ainda de pé na cidade em que passou parte de sua infância, Poções. A foto da  capa, recortada para destacar o detalhe dos nove pinheiros, foi feita pelo filho do Ruy, o jornalista Mário Espinheira.

O poema que dá título ao livro diz dessa presença eterna da casa a habitar o poeta, mesmo tendo nela vivido por meses e não por décadas. Talvez pela particularidade dos pinheiros cravados na parede da varanda e o claro propósito de caracterizar aquela morada como permanente, e que culminou se tornando provisória no plano físico e olímpica no emocional. "Os pinheiros continuarão a lembrar / pai, / mãe, / sete filhos, / mesmo quando não restar sequer um deles / para sentir certo tempo, / respirar a casa, // como eu agora, / com antiga alegria e um sabor / de lágrimas."

Ruy Espinheira Filho tem afinado sua lira ao ponto de alcançar a simplicidade dos poetas maiores. Os versos encadeiam-se naturalmente, e o leitor experimenta a delícia do poema como um voo sem ruídos e turbulências, prenhe de ritmo e densidades várias. E ao pousar, ao final do último verso, terá feito então um percurso de emoção e sabedoria, que se repetirá no poema seguinte até o último do livro. Até uma nova leitura. 

Encerro este comentário com o quarto movimento do poema "Condição":

"Sim, novamente escrevendo.
Sem saber, como sempre, aonde estou indo,
se é que estou indo a algum lugar.

Às vezes me ocorre
que escrever é exatamente isto: ofício
de quem não sabe aonde ir.
E, como não sabe, tateia
na névoa
à espera de encontrar alguma coisa
que não só não sabe onde está
como não sabe o que é
e que talvez seja uma parte da alma que ficou perdida
na travessia
entre sombras ancestrais
e a vida."