domingo, 13 de maio de 2018

NO CAMINHO DOS SESSENTA IV


Ela de mim tomou conta
ali pelos meus dezessete.
Parece conto de onça,
causo de sete vez sete:
quando a pontada senti,
labutava num jardim,
pensei: é só um teste.

Tanto perfume sentia,
vivia a embriaguez
de amor e de poesia;
cada noite por sua vez
tanto prazer reunia,
que meu peito aquecido
quase nada percebia

Isso que a danada me fez,
quieta e mansamente,
consumiu lentamente
minha doce altivez,
retorceu a minha mente
entre ofícios e versos,
tornou-me doente de vez.

Aprendi então aos poucos
que se pode viver assim:
de dia, fugir do pipoco,
de noite, estourar festim;
de tarde, amar sem troco;
a noite pelo dia trocar,
pra de tarde amar de novo

De mim ela tomou conta,
pois conta não faço dela,
quando amigos me cercam
de amizade sem cancela,
a vida parece azulada,
uma vereda sombreada,
arroz doce na tigela.

Chego  aos sessenta assim
como quem sai dos vinte: 
irresponsavelmente sério,
hilariamente chatin',
preocupadamente sonso,
surdo, broco e manco,
crônico mas longe do fim. 


terça-feira, 1 de maio de 2018

SETE A UM, LANÇAMENTO 05 DE MAIO NO ICBA



 
   Quatro anos depois da humilhante derrota da Seleção Brasileira, por 7 x 1, diante da Alemanha, nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, em pleno Mineirão, em Belo Horizonte, sete contistas brasileiros e um alemão entraram em campo para revisitar aquele jogo histórico. O resultado é a coletânea Sete a um, que serã lançada no próximo sábado (dia 05), das 15 às 19:30h, na Biblioteca do Instituto Goethe, no começo do Corredor da Vitória, em Salvador. Replay de um jogo inesquecível? Muito mais que isso, já que cada autor reconta a partida do seu jeito, e a ficção permite distorcer e até modificar a realidade.

   Pelo time do Brasil foram escalados os contitstas Cláudia Tajes (A vida é um eterno descenso), Carlos Barbosa (Glorinha toda solta), Elieser Cesar (O hexa de meu pai), Lima Trindade (Oito de julho), Luis Pimentel (Gertrud), Marcus Borgón (O resto do mundo) e Mayrant Gallo (O que houve depois). O gol de honra alemão coube a Hans-Ulrich Treichel (Foucault, Freud, Futebol). Organizada pelos escritores Tom Correia e Lidiane Nunes, a coletânea é uma coedição da editora baiana Dália Negra e da capixaba Cousa. Ela traz ainda um ensaio sobre futebol da professora de Literatura Alemã da Universidade de Leipzig, Dagrun Hintze. A orelha do livro é assinada por Cláudio Lovatto Filho, uma das maiores referências nacionais em literatura sobre futebol. A capa de Sete a um é do artista plástico carioca Marcelo Frazão e a versão dos textos do alemão para o português de Erlon José Paschoal, tradutor de grandes escritores germânicos, como Goethe, Brecht e Holderlin.
    
    Segundo os editores, "a ideia de trazer para o livro o placar invertido foi, desde o início, a essência vital: sete brasileiros dariam, através de um conto, a sua versão pessoal daquele evento fatídico, cabendo a um só escritor alemão a chance do gol de honra". Nisso, acrescentam, "estava a ironia, a brincadeira: a derrota em campo se converteria numa vitória literária, para os dois países".