quinta-feira, 30 de agosto de 2012

MOMENTOS DA LEITURA, O PAÍS DO CARNAVAL, SÁBADO, 16h






No próximo sábado, a partir das 16h, no Museu Rodin, teremos esse "Momentos da Leitura" sobre o primeiro romance de Jorge Amado, "O país do carnaval". Fui escalado para essa mediação, como podem ver e ler no cartazete. Fica o convite. Até lá!


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

DIAS FORÇADOS


Dias forçados em repouso.
Dias demais.
Sete passos ao banheiro, doze à geladeira.
Passos miudados.
Dias comprimidos. Sono continuado.
Eucapsulado.

Um movimento verde reavivador me alimenta.
Verde rosácea maçã.
Mãos lábios língua flor.
Dia demais repentino. Dia gozado.

No mesmo andor,
o dia forçado revira saneador.

Eulibertado preparo viagem.
Verde violácea imagem.
Delicioso corredor.








quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ESCORPIÃO AMARELO, de KATIA BORGES


URGENTEMENTE

Eu dirigia de volta para a minha casa após o trabalho, o rádio ligado. Uma música qualquer em alto volume. Seguia pelas ruas da minha infância como quem anda numa esteira rolante e se cansa, sem avançar um único centímetro. E acelerava, para reduzir o percurso e chegar mais rápido. E sentia muito sono e o desespero latente que sempre me acompanham. E corria em direção a um destino que já não conseguia visualizar ou considerar como possibilidade. As casas e os prédios iam passando velozmente pela janela. E eu sentia que precisava de algo, de alguma coisa, sim, de alguma coisa, urgentemente. De repente, soltei o volante e fechei os olhos.


Terminei com um sorriso a leitura desse miniconto acima, e de outros também, do novo livro de Kátia Borges, "Escorpião amarelo", publicado recentemente pela P55, na coleção Cartas Baianas. O sorriso veio, e retornou, pelo prazer simples da leitura e pela identificação minha com o texto da autora, que transita com igual talento na poesia e na prosa. O miniconto deve brilhar como um jato de luz na escuridão, algo que ilumina, revela, dá pistas, mas que pode momentaneamente cegar, deixando para trás bolhas, risos e lágrimas; uma história, oculta ou não, potente, concentrada, dolorosa, hilária ou gozosa. 

Ao ler "Urgentemente", lembrei-me de imediato de "Sangue quente", do meu livrinho "A segunda sombra" (Multifoco, 2010), o episódio máxime no repente de uma curva, de um batida de rua, de um gesto impensado, uma cena de rua dramática e poética. Deparei-me com fartura de momentos assim em "Escorpião amarelo": picadas fertéis de boa literatura. Aproveito para devolver a Kátia Borges o que ela escreveu em 2007 em meu desativado blog "ContoSempre", comentando meu miniconto "Oásis": os contos deixam um certo gosto amargo, inquietante, angustiante no leitor. Maravilhoso que seja assim. Leitura que recomendo com entusiasmo.



Imagem: Bol Fotos

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SONETOS ELEMENTAIS, de FLORISVALDO MATTOS




Depois de “Poesia Reunida e Inéditos” (Escrituras, 2011), Florisvaldo Mattos volta à cena editorial, agora com “Sonetos elementais – Uma antologia”. O lançamento será amanhã, dia 21, terça-feira, às 19 horas, na Livraria Cultura, 3º piso do Salvador Shopping. O novo livro tem apresentação de Myriam Fraga e sai pelo selo Caramurê Publicações.

Sobre "Sonetos Elementais", diz Florisvaldo Mattos: "Atendendo ao convite e à preferência por uma antologia de sonetos, ante o específico da edição, e para fugir ao insosso que rege esse tipo de coletânea, agrupei-a de forma arbitrária, inspirado na construção mítica dos quatro elementos da natureza, que por séculos dominou a mente dos antigos – o ar, o fogo, a água, a terra, nesta ordem -, cada um deles guiando a série, por seção, entre publicados e inéditos".

Fica aqui o convite para mais um encontro com a poesia de qualidade feita na Bahia. Amanhã, 21.08, terça-feira, à noite, na Cultura do Salvador Shopping. 

domingo, 19 de agosto de 2012

APENAS UM DIA




Um dia crucial a ser alcançado permanece ameaça, aviso posto em moldura ácida, tatuagem viva na memória, até mesmo, creio, depois de se tornar passado.

Um dia crucial assassina o tempo que o antecede, posto que tudo o mais pouco importa; interessa apenas alcançá-lo, inteiro, e dele obter sanidade e um passo mais andejo.

Amanhã será um dia assim, para mim: cruzarei o saguão do antigo hospital, seguirei por um corredor de mármores trincados, descerei dezesseis degraus e, num improvável subsolo, talvez chova um tiquinho em meu futuro. 



Imagem: Bol Fotos

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

LIBERDADE, de JONATHAN FRANZEN




Meu exemplar tem outra capa, edição econômica. Talvez pese menos, ou mais, por conta do papel utilizado. Mas rende boa leitura, de qualquer modo. O jornal francês Libération, o Libé, saúda "Liberdade" como "verdadeiro romance do século XXI, um dos primeiros". E eu digo que foi um dos melhores que li nos últimos anos, à altura de "O museu da inocência", do Orhan Pamuk.

Franzen centra sua narrativa na formação e posterior desagregação de uma família mediana norte-americana. Não há muito mais que dizer, depois dessa frase. Só mesmo lendo o livro, para aproveitar os mergulhos quase incontroláveis que o autor permite aos personagens em seu cotidiano. O desdobramento das atitudes, no maior número de planos possível (interior, com o outro amante, amicial, familiar, social, laborativo, artístico), como se o ser humano contemporâneo lutasse permanentemente para escapar de jaulas, zoológicos, áreas de proteção ambiental cada vez mais frágeis. Estertores familiares, amorosos e ideológicos; tentativas de empreendedorismo juvenil, sexo com amor, diversão e ódio dominador, a vida como os volteios de um florete, prestes a nos atingir o peito. A traição sonhada e praticada, em vias múltiplas, no mais das vezes sem um sentido claro.

Fuga e posse. Diante delas, o que seria a liberdade? Franzen elogia Alice Munro por não desistir nunca das possibilidades de uma cena, de esticar a narrativa a não mais poder, de tensionar ao máximo os movimentos do personagem - e recomenda isso aos prosadores, praticando, por sua parte, com mestria. Gostei muito de ler este romance do Franzen.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

UM AMOR, de DINO BUZZATI



Sozinha, no meio da sala, começou a dançar.
[...]
Começou a dançar. Usa um vestido lilás de tecido encorpado, bem justo no busto e apertado na cintura por um cinto, a saia curta e armada, acima do joelho. O chachachá não lhe sobe pelas pernas e sim pelos quadris e pela coluna vertebral, submetendo o corpo a uma espécie de ondulação lasciva, de relaxamento, de dar e não dar, de oferta e recusa, como um trote em soluços por uma estrada que volta sobre si mesma continuamente, como uma obstinação voluptuosa, como uma brincadeira entre as ondas, como a realização rítmica do amor, frenético, medido, preciso, cansado, insaciável, como a febre espiritual que à noite toma as florestas da África quando a alma se perde em imaginações e lembranças, como o lívido clarão de uma ruela de onde, lá no fundo, uma voz nos chama, como os lábios vermelhos ambíguos que por um instante, à luz dos faróis, se entreabiram numa promessa muda, como a triste juventude que, rindo, se lança e se contorce feliz na escuridão que a destruirá, aspiração, até mesmo ideal, vibração profunda da matéria visceral, vozes das terras que jamais conheceremos, imitação do triunfo que jamais se cumprirá, cruel e suave martelo que bate de três em três vezes com uma breve pausa, de três em três vezes ele bate, ele bate de três em três vezes e mergulha nas cataratas do 17 de abril, batendo de três em três vezes nas rochas e a água, enlouquecendo com o choque, torna-se serpente, epilepsia, harpa, perdição, mas Laide flutua com os saltos altos e finos, levita, flutua, brinca e ri com toda a destreza de menina inteligente, encontrando a seiva irresistível e verdadeira da vida.



Este pequeno trecho de "Um amor", do escritor italiano Dino Buzzati (Ed. Nova Fronteira, 1985), revela um pouco do mundo de maravilhas que o romance representa. (O que o amor pode fazer a um homem já maduro, até onde pode levá-lo, quanto dele e de suas ausências pode suportá-lo, o que o faz querer mais desse amor que, quase sempre, é uma rima pobre e desesperançada, e se esse amor brota de uma jovem prostituta, como suportar seu desdém, sua divisão anárquica e comercial, o que o faz querer mais das migalhas desse amor, ou a querer mais de uma mera promessa de amor, por mais que por ele se pague, qual o limite de exaustão do amor, inexiste? O amor nos possui sem se deixar possuir?) Utilizei uma frase de "Um amor" como epígrafe do conto "A putinha da Vitória", que integra a coletânea "As baianas", e volto sempre ao romance (agora que Mônica encontrou meu exemplar perdido nas estantes) para leituras avulsas e emocionadas.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

CHEIRO DE CHOCOLATE E LEITURA PÚBLICA, QUINTA, 09.08




O escritor Roniwalter Jatobá estará por toda a tarde e começo da noite da quinta-feira, dia 09 de agosto, na Confraria do França, Rio Vermelho, ali onde funcionou um dia o Ex-Tudo, para autografar seu novo livro, "Cheiro de chocolate e outras histórias", lançado pela editora Nova Alexandria. Fica o convite e a indicação aos interessados em boa literatura.

LEITURA PÚBLICA - Serei um dos primeiros a pegar o autógrafo do Roniwalter pois, às 17h, o projeto Leitura Pública, da Fundação Pedro Calmon, promove o encontro de alguns poetas da terra, entre eles, minha amada Mônica Menezes. Fica também o convite e a indicação para bons momentos de poesia na voz de seus próprios autores. 

domingo, 5 de agosto de 2012

NEOCORSÁRIO


 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgknV3sezigGGtfQYffRNe7yYZgEq0I3O0Xi0FX4pWFibpG9RT4MThLkSzU1vYh_71a_xwK8XL-8xaWnOf4PJdt3JdHHEfEvKSktZVj_qaUp9VIDfWhsYRWpMZtquXVbtjUDDRKWGjWStgS/s400/mareluamy4.jpg

UM

O homem que lê contempla o mar.
Do alto da torre em que mora.
Enquanto afaga seu barril de amontilado.
O mar, matéria por demais agitada, entontece.
O homem que lê o conhece bem.
Prefere o mar que tem aberto no colo.
Encadernado.
Onde costumeiramente mergulha.
Sua face de todos oculta.
E nada.
E nada.

DOIS

O homem que lê admira o mar.
Do alto de sua torre.
A agitada cabeleira de amazona a tocar a praia.
Os tesouros perdidos nos corais e abismos.
Presas e esporões de monstros em caça.
Superfície e profundeza terríveis, femininas.
O homem que lê fecha a janela, cerra cortinas.
O mar é mulher, murmura.
Protegido, enfim.




Imagem: Bol Fotos, anhelosdemar.blogspot.com