sexta-feira, 8 de junho de 2012

O QUARTETO DE ALEXANDRIA

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 Dessas obras-primas que bordejamos por décadas, sem jamais alcançá-las. Algo que nos deixa perplexos por ter vivido, até então, em tamanha ignorância. E que provoca sede de outra leitura no exato instante em que se conclui a primeira. E talvez seja assim ao final da próxima... Como o próprio Lawrence Durrell escreveu em "Lívia, ou Enterrada viva", a pequena arte dá pulsação e a grande arte, vertigem salutar. Afastando a discussão entre pequena e grande arte, "O Quarteto de Alexandria" me prendeu até a última linha em uma leitura febril e alumbrada. A sequência "Justine, Balthazar, Mountolive e Clea" nos revela e desfolha a terra de Cleópatra, Hipatia e Kaváfis, em toda profusão de cores e cheiros, em toda confusão de sexo, adultério, diplomacia e violência. Do romance contínuo, do mosaico por ele composto, as verdades de um momento especial na vida do narrador principal e dos protagonistas nominados acima brotam com igual força em diferentes quadros por suas vozes particulares. Conhecemos a cidade e a experiência de vida que cada um acredita ter nela dividido com os outros. Sim, acreditam. Pois, a cada movimento do romance a outra face, às vezes uma terceira face, se isso for possível, do episódio central se revela verdadeira e irônica. A arte da vida, pois não, para nosso encanto e prazer, exposta ali com mestria por Durrell. 


P.S.: Aos interessados, o pacote com os quatro volumes estava à venda na livraria Jhana, no Shopping Itaigara, por módicos 39 reais, em publicação da Ediouro, 2006.
Imagem: Bol Fotos.








quarta-feira, 6 de junho de 2012

A VISITA CRUEL DO TEMPO


A visita cruel do tempo. Não se tropeça num título desse, mergulha-se. Vários protagonistas, vários romances em um só tomo. Porque o tempo não perdoa, executa sua sentença implacável mesmo aos que se julgam belos e saudáveis. O tempo não concede respeito a ninguém. Ou nos arrasta, ou nos empurra, ou se acopla dilacerante ao nosso pretenso ritmo. E tatua mais que nossas almas com suas lâminas finas. Jennifer Egan reúne um grupo de protagonistas jovens, que se alia a outro não tão jovem assim, mas que foi jovem um dia, e acompanha suas trajetórias até um futuro não tão distante assim, pois sabemos que o tempo avançará para além de nós, como tem feito desde sempre. Uns ficam para trás, outros reinventam-se, alguns resistem, e há os que se multiplicam. O que quer de nós, o tempo? O que queremos dele? Uma leitura que fiz com enorme prazer, neste começo turbulento de ano. E que recomendo com entusiasmo aos que amam a literatura e não temem tanto assim o camarada tempo, que bate à nossa porta feito cupim.Sejamos veneno.