Dessas obras-primas que bordejamos por décadas, sem jamais alcançá-las. Algo que nos deixa perplexos por ter vivido, até então, em tamanha ignorância. E que provoca sede de outra leitura no exato instante em que se conclui a primeira. E talvez seja assim ao final da próxima... Como o próprio Lawrence Durrell escreveu em "Lívia, ou Enterrada viva", a pequena arte dá pulsação e a grande arte, vertigem salutar. Afastando a discussão entre pequena e grande arte, "O Quarteto de Alexandria" me prendeu até a última linha em uma leitura febril e alumbrada. A sequência "Justine, Balthazar, Mountolive e Clea" nos revela e desfolha a terra de Cleópatra, Hipatia e Kaváfis, em toda profusão de cores e cheiros, em toda confusão de sexo, adultério, diplomacia e violência. Do romance contínuo, do mosaico por ele composto, as verdades de um momento especial na vida do narrador principal e dos protagonistas nominados acima brotam com igual força em diferentes quadros por suas vozes particulares. Conhecemos a cidade e a experiência de vida que cada um acredita ter nela dividido com os outros. Sim, acreditam. Pois, a cada movimento do romance a outra face, às vezes uma terceira face, se isso for possível, do episódio central se revela verdadeira e irônica. A arte da vida, pois não, para nosso encanto e prazer, exposta ali com mestria por Durrell.
P.S.: Aos interessados, o pacote com os quatro volumes estava à venda na livraria Jhana, no Shopping Itaigara, por módicos 39 reais, em publicação da Ediouro, 2006.
Imagem: Bol Fotos.
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