A MÁQUINA DE MADEIRA, Miguel Sanches Neto, Companhia
das Letras, 2012.
O padre sonhador
materializa seu sonho. Julga que irá mudar o mundo com a máquina de
taquigrafia. O registro dos sermões, das sessões parlamentares, facilitados.
Então, na exposição nacional de 1861, perguntam-lhe: “Qual o valor do seu
produto?” O produto do sonho pode pertencer a esse tempo, mas não o sujeito que
sonha, que jamais pensa no valor comercial de sua criação. O padre sonhador não
sabia que o valor desejado era diverso do seu.
Houve uma infância brasileira,
uma juventude, e de lá saltamos para o caquetismo atual, sem passar pela
maturidade. Queimamos madeira, poluímos a água, produzimos sonhos sem valor
algum até serem apropriados por alienígenas. Um padre, um homem que sonhava,
que amava a escrava que comprou e libertou, um que inventou a máquina de
escrita antes de ela ser patenteada pelos gringos. História mais brasileira,
impossível. Romance histórico, painel de uma época, interessante viagem ao que
nunca deixamos de ser. Nós, os que jamais sabemos o valor do nosso produto, do
nosso sonho.
Publicado originalmente na revista eletrônica Verbo 21 (www.verbo21.com.br), edição de abril 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário