terça-feira, 12 de outubro de 2010

O REI BRANCO


Grandioso. Relatos sobre a violência da opressão. De como essa violência se reproduz em todos os níveis sociais. De como cada pessoa se apropria do direito/dever de inflingir violência no mais próximo. De como tudo que é digno se torna distante da vida real, prenhe de dedos-duros. De como a miséria se apossa dos dentes e unhas e se faz desespero. De como a vida pode ser tormentosa, patética, absurda. De como a realidade forjada serve apenas ao discurso de quem se refestela nos altos cargos, apertando suas manoplas sobre os mais fracos. De como os imbecis se reunem para controlar um povo e se regurgitam na própria obtusidade. De como o cotidiano se mostra mais cruel que no Velho Oeste, pois contido em frases obrigatórias, em regulamentos pérfidos, em burocracia histriônica e inoperante. De como ser criança é habitar um estado permanente de carência e dor. De como a humanidade resiste apenas naqueles decaídos, marginalizados pelo "estado', nos ditos traidores da pátria (PORQUE PENSAM DIFERENTE OU PORQUE APENAS DESEJAM UM POUCO DE LIBERDADE E AMOR). De como o amor pode se tornar algo pérfido e afastado. De como se vive num estado totalitário. Um mundo sem calor paterno, sem paz, somente o culto ao Grande Pai. Um mundo de ódio canalizado para destruir tudo que possa ser rotulado de humano. Um mundo gélido, imundo e horroroso. Um mundo sem asas.

E ainda há quem queira construir regimes desse tipo. Talvez por isso odeiem os escritores, gente como György Dragomán, capaz de revelar as grandes verdades da vida. Sim, pois a verdade, penso eu, reside somente na literatura. O resto é conversa pra conduzir rebanho ao matadouro.

Leiam o premiado "O rei branco", do escritor húngaro György Dragomán, publicado pela Intrínseca, em 2009, em tradução de Paulo Schiller. E verão, e saberão.

2 comentários:

  1. Bom demais ler um texto assim, visceral, um texto de amor à literatura e ao que ela pode nos proporcionar. Compartilho com você desse amor. E parto ainda mais ansiosa para a leitura de "O rei Branco": um "livro nosso". Bjsamovc

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  2. Mais um livro para a minha lista!
    Abraço.

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