É verão na Bahia, sorria!
Cheguei pouco depois das 13h e peguei a ficha 306.
Instalei-me debaixo do toldo, ao final de um corredor apinhado, junto aos parceiros de desdita.
Havia lá muitos idosos, alguns bengaleiros, muitos desprovidos de visão, algumas crianças, um e outro obeso, um e outro viciado em falar ao celular. Apenas uma mocinha lia um livro, como eu.
Terminei, lá, a leitura de "Fome", de Knut Hamsun, prêmio Nobel em 1920. Até agora estou pasmo com tamanha força narrativa. A tradução é de Drummond; a edição é da Geração Editorial. Uma leitura milionária.
É verão, sorria, você está na Bahia!
Fui atendido próximo das 18h, sol forte lá fora, horário de verão, sorria... 18h!
Conversei, ouvi histórias, discussões ao celular, prestei atenção em silêncios sólidos, grandes suores, cansaços, por toda a tarde de verão baiano. Éramos trezentos, éramos trezentos e cinquenta... "Não adianta reclamar, aí suspendem o convênio e a gente é que fica na merda".
Na saída, a seguinte conversa: "Quer dizer que eu tenho que pegar dois ônibus...", "Sim, e o primeiro é para a Praça da Sé", "Muito bem, depois eu chego lá, numa boa", "Agora, você espera aí no ponto", "Já tá escurecendo?", "Não, vai demorar um pouco", "Bom, é que vou pro interior, ainda", "Assim, espera aí que o pessoal lhe diz qualé o ônibus", "Brigado, meu irmão". E lá se foi o colega tropicando pela calçada, bengalinha barulhenta nas pedras...
É verão, sorria, você está na Bahia.
Saí de lá com meus colírios preventivos do glaucoma.
Senti-me "parceira da desdita", ao ler seu texto; e senti também a gastura do calor narrado. Isso mostra sua mestria.
ResponderExcluirObrigada, amigo, pelas palavras lindas postas no aeronauta. Fiquei bastante comovida.
Abraços.