quarta-feira, 9 de março de 2016

TEMPO DE ESPALHAR PEDRAS, de ESTEVÃO AZEVEDO




   Uma narrativa fértil que trata de esterilidades.
   Ambientada num lugar não tão indeterminado assim, pois os riachos deságuam no Paraguaçu.
   O mais antigo sonho de riqueza alimentado pelo homem. Mas que a terra mil vezes revirada transforma em pesadelo coletivo.
   Uma fome que nada, nem ninguém, sacia. O brilho da pedra a cegar os homens; as mulheres, conformadas em seus postos históricos. Menos uma, talvez.
   Uma história de amor que se realiza no capim, numa toca imunda e na bala.
   Segredos costuram o destino desses homens e mulheres que escavam o chão e a si mesmos com sanha animal. Rolam no mato e no piso pedregoso, em busca de gozo e em duelos sangrentos.
   A morte sendo a única saída para a maioria; escapa vivo quem possui dinheiro e quem, no outro extremo, nada possui além de um tesão incontrolável.
   Um alento para o romance contemporâneo brasileiro.
   Uma prova de que nem tudo está perdido em nossa literatura.
   De que há prêmio para quem narra aquilo que pede para ser narrado, sem se importar com temas que o gosto de nossa época, a mídia e as pesquisas de mercado apontam.
   Uma linguagem derramada, mais que adequada à história. As notas rosianas e herbetianas ressoam  brilhantes e lembram, e bem, que o meio rural brasileiro possui diamantes eternos, alheios aos modismos, ao bestialógico que tem assaltado as livrarias e mentes descuidadas.   
   Amém.



"Tempo de espalhar pedras", de Estevão Azevedo, publicado pela Cosac Naify, em 2014. O livro foi vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura como "melhor romance de 2014".

  

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