segunda-feira, 3 de abril de 2017
FLORISVALDO MATTOS, POETA DAS PRECIOSIDADES
Dia 6 de abril, Florisvaldo Mattos publica seu oitavo livro de poemas, "Estuário dos dias", que sai pela Caramurê. Às vésperas de seu aniversário, poeta das preciosidades, Flori adiciona 97 poemas inéditos a sua consistente obra. O evento será no Palacete das Artes, na Graça, a partir das 19 horas. Fica o convite aos amantes da boa literatura.
Faço aqui um breve apanhado de preciosidades que garimpei, rapidamente, em "Galope amarelo e outros poemas", Edições Cidade da Bahia, Fundação Gregório de Matos, 2001.
Debaixo dos cílios negros / passaram águas pesadas.
(Debaixo dos cílios negros)
Me tragam aquelas meninas / que eu conheci lá em Jáen
cantando na procissão / ao Cristo que a todos vem;
me caso com todas elas / para o mal ou para o bem,
mas se me derem só uma / me satisfaço também
(Balada do Legionário Condenado à Morte)
Em teus pés a bola, planeta submisso,
rola com júbilo entre galáxias de cristal.
(Maradona, el pibe maldito)
Gosto / no limitado espaço / de teu andar suave
de ave / distância de barco / no azul da enseada
(Entretanto desertos)
Navalhas reinam; abrem sua esteira
com a força de um trator rasgando neve
(Escritura em pedra)
cabra: o capim ao sonho preferindo [...]
flor animal, sonora arquitetura.
(Cabra)
Fique no ouvido o som terrível,
cravem na carne os estilhaços,
antes me quero morto ou sofrido,
porém honrado.
(Poema preposicionado)
Quando ele voltou / a moça do portão estava casada
o prefeito era uma cruz e uma placa [...]
Quando ele partiu / a primavera galopava nos rosais
(Galope amarelo)
Sou todo uma selva de hábitos
e nada sei que outros lábios
já não tenham dito ou tentado.
(Janela para o dia)
O silêncio perturba meu silêncio
nauta que se perdeu / imobilizado pêndulo [...]
Ficou a pele riscada de luto
o cimento categórico do presente.
(Zoológico)
Aves adotam poses de cegonha
sobre muros pintados de cinzento.
A hora respira infância: o tempo sonha.
(Grapiúna I, Tarde de agosto)
Fica em silêncio que já te cubro, égua
Fogosa, imersa em toldo florescente;
Te pego pelo casco, jade puro;
Te puxo pelas crinas rutilantes;
Te arranco das encostas em que pastas.
(Égua de Jade)
Observo, transido: a enfermeira tem pernas roliças.
(Eletrocardio-sombra)
Meu coração agora te pertence,
lua que vaga sobre os rochedos
(Rochedos)
E enquanto eu mire um girassol nascendo
E ele vislumbre ruínas que submergem,
Dele eu seja o fim e ele, meu começo.
(As coisas; Eu, o outro)
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