Quem se lembra do grupo musical “Os Tincoãs” e seus grandes
sucessos, como Deixa a gira girar e Cordeiro de Nanã, vai entender bem a
importância de um novo disco de Mateus Aleluia: é como manter acesa
aquela chama de brilho e beleza, que brotava de uma sonoridade adocicada
feito cana-de-açúcar do Recôncavo baiano.
Mateus Aleluia nasceu em
Cachoeira, passados 76 anos, e fez parte de “Os Tincoãs”, junto com
Heraldo e Dadinho, na sua fase de ouro, quando o Brasil inteiro vibrou com
eles nos anos 1970. Durante duas décadas, Aleluia morou em Angola, onde
trabalhou para o governo como consultor.
“Olorum” é o terceiro disco autoral de Mateus Aleluia, depois de “Cinco
sentidos” (2010) e “Fogueira doce” (2018), e tem produção de Ronaldo
Evangelista, com participação especial de João Donato. O lançamento foi
feito em uma live, que alcançou mais de 25 mil visualizações.
A canção que dá título ao disco resume à perfeição o espírito e a
proposta do artista: um misto de oração de congraçamento em torno da
idéia de união do ser humano e da busca incessante por um tempo melhor,
a partir de sua ancestralidade africana. “Olorum/ seu povo está cansado/ de
sofrer”, canta Aleluia numa abertura em voz e violão, em esforço
emocionante de conexão com a divindade, “de joelhos, peço”, enquanto
deixa claro que vê em cada ser humano um irmão. O clamor individual da
abertura quebra-se, então, em ritmo e pulsação com a entrada dos tambores
e demais instrumentos, um balanço nascido nos terreiros de candomblé e se
popularizou desde “Os Tincoãs”. Em “Olorum”, o ritmo transporta a
emoção da abertura para uma convicção de que a beleza, com certeza,
supera todo e qualquer óbice cotidiano. “Olorum” já está disponível no
Spotify.
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