terça-feira, 4 de janeiro de 2011

CARVER

Li dois contos de Carver hoje à tarde. Não dá para ler mais que dois contos por vez. Falta chão e a vida fica turva quando se lê Carver. A gente sabe que a vida é turva, mas Carver prova que é. Editado e traduzido, não importa, o que nos chega de Carver parece um jogo de polo equestre: uma bola é tangida por tacos grotescos, num campo imenso, por jogadores que se confundem com as montarias - o espectador sabe que há uma partida em andamento, mas não entende bem qual lado ataca, qual lado defende; mal vê a bola, que mais parece um pequeno animal em desespero tentando fuga - e quando acontece o gol não há estufar de rede nem delírio de multidão, restando ao fundo um tropel que não cessa.



"68 contos de Raymond Carver", tradução de Rubens Figueiredo, Cia das Letras, 2010. Os contos citados são "O compartimento" e "Uma coisinha boa".

Um comentário:

  1. Carlos, meu caro, bela postagem. Sou um leitor devotado de Carver, e os contos do mestre, sem exageros, mudaram a minha vida, ou melhor, deixaram mais turva. Aquele abraço.

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