segunda-feira, 11 de abril de 2011

POESIA REUNIDA, FLORISVALDO MATTOS


Este é um grande momento da literatura brasileira: o lançamento da Poesia Reunida e Inéditos, de Florisvaldo Mattos. Aposentado das lides jornalísiticas, o poeta lapida sua obra para nosso deleite. Dia 14, próxima quinta-feira, temos um encontro marcado com o melhor da poesia e da amizade. Na livraria Cultura do shopping Salvador. Regado a bom vinho, com certeza.

"O vasto conjunto lírico que encontramos nesta Poesia reunida e inéditos representa, portanto, um monumento da poesia brasileira de entre a segunda metade do século passado e a primeira década do presente, erguido por um espírito agudamente atento ao tempo e dele liberto, como sempre é, paradoxalmente, o dos grandes poetas." (Alexei Bueno).

Aí vai um aperitivo, que um dia o poeta me enviou por e-mail (que não consegui publicar aqui em sua forma correta, em quartetos, pelo que me desculpo):

DUAS ALMAS

Quando Auden nasceu, já Kaváfis ia

Por botequins à caça de mancebos.

Na gelada York, o sol fulgia lépido,

Tanto quanto o farol de Alexandria.

Quando morreu Kaváfis, Auden já

Deixara o áspero barro de Inglaterra,

Por desgosto, por dor, talvez vergonha

De insano amor sujeito a controvérsia.

História e erotismo a ambos deram chão

De sentir e veraz profundidade.

Nada lhes obsta o ardor de transgredir,

De afrontar maldições, hipocrisias.

Irmãos de alma e desejo interditado,

A sombra de ambos pelos portos vaga,

Adentra alcovas cujos balcões se abrem

Para oásis de prazeres e jardins.

Espelho de iguais em duas idades,

Se neste um se mira, logo o outro põe

No lume de cristal que reverbera

Douto narciso de modernidades.

É límpido o que a face do cristal

Reflete, igual à líquida de um rio:

Um – rei do Egito, o cinto de ametista;

O outro, a túnica sépia de milícia.

Dupla tenaz que para o mundo ostenta

A aura sábia de seres desertados.

Kaváfis, Auden: um, dois séculos viu;

O outro, só um – de horror, tormento e guerra.

Ambos hoje nos parques de jacintos

Unidos vão, espíritos de mãos

Dadas, que ao chão da vida mais importam

Sonho e amor nas pegadas da beleza.






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