domingo, 7 de julho de 2013

UM HOMEM APAIXONADO, Martin Walser



“Meu amor não sabe que já passei dos setenta. Eu também não sei.” Está posto assim o cerne do romance de Walser que, publicado na Alemanha em 2008, provocou alvoroço. O homem apaixonado: Goethe, O Conselheiro; o objeto da paixão: Ulrike, na flor dos seus dezenove anos. “Até que ele a visse, ela já o havia avistado.” O texto de Walser não descuida do contexto político, dos diversos interesses de Goethe, dos inevitáveis jantares e bailes, mas sustenta a delicadeza poética que o tema e a circunstância exigem. 


Goethe fala, escreve cartas, poemas e um romance de título igual ao que habita; Goethe experimenta beijos, uma queda literal e o ciúme por um rival mais jovem; Goethe quer casar-se com a brilhante e destemida Ulrike; Goethe sonha, ilude-se e se desespera, “ele se transforma em um anão que pratica salto em altura”. O caminho do homem apaixonado agravado pelas limitações da idade provecta. As duras descobertas das ausências e silêncios do ser amado. “Admira-se que por causa dela/ o sol não se paralise”, chega a escrever em meio ao tormento passional. Isso, muito antes de compreender o mandamento zero, aquele que teria caído da tábua de Moisés na descida do Sinai: “Não deves amar.” 



Um homem apaixonado, Martin Walser, tem tradução de Renata Dias Mundt, e foi publicado no Brasil pela editora Planeta, em 2010. Comentário publicado originalmente na Verbo21.


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