Na foto da capa do livro, Seaver é o cara de gola rulê, ao seu lado a esposa Jeanette, o barbudo é Allen Ginsberg, o velhinho sem chapéu, Jean Genet, e o de chapéu, William Burroughs. O flagrante foi feito numa daquelas caminhadas dos anos 1960. Uma bela escolha para a capa, que transmite bem o espírito da biografía desse editor norte-americano, responsável na Paris dos anos 1950 pela publicação de Samuel Beckett em inglês e, nos EUA dos anos 1960, pela publicação de Jean Genet, Burroughs, Borges, Henry Miller, muitos deles autores até então proibidos.
"Reconhecíamos que a publicação de livros é, por sua própria natureza, uma atividade de improvisação, onde devem reinar o faro e a intuição." Não precisa mais que isso para deixar claro que os tempos mudaram e os editores mais ainda. "Se sobrevivêssemos e pagássemos nossas contas e com sorte fizéssemos o certo pelos autores fiéis e antigos de nosso catálogo e apresentássemos novas vozes ao mundo, isso era bastante", resumiu Seaver.
A aventura de Seaver no mundo da tradução, edição e publicação de livros começou em Paris, no pós-guerra, quando ganhou bolsa para desenvolver sua tese sobre a obra de James Joyce. Com amigos, criou a revista Merlin, publicando literatura e ensaios em língua inglesa, para atender um público anglófilo cada vez maior na Europa em restauração. Ao descobrir Beckett, Seaver reconhece nele um autor mais importante que Joyce e se dedica a traduzir seus livros e publicá-los, e a acolher os novos autores que traziam à cena cultural novas linguagens e abordagens, os contestadores, por assim dizer.
Voltando aos EUA, continua seu trabalho de tradutor e editor, publicando autores estrangeiros cujos livros eram barrados na alfândega e enfrentando, por isso mesmo, batalhas judiciais espetaculares. Beckett, Genet, Burroughs, Miller, Ionesco, Octavio Paz, Cioran e muitos outros. Uma vida dedicada aos livros e ao enfrentamento da mentalidade vitoriana ainda presente na sociedade norte-americana, a revelar novos autores, a viver intensamente o seu trabalho.
A hora terna do crepúsculo - Paris nos anos 1950, Nova York nos anos 1960: memórias da era de ouro da publicação de livros, de Richard Seaver, tradução de Cid Knipel, Biblioteca Azul, Editora Glogo, 2013.
Imagem da capa capturada no Bol Fotos.
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