Um Sherlock Holmes de 93 anos de idade será sempre um detetive de mente acurada, mesmo que a memória já não seja a mesma. Ian McKellen serve como uma luva (aliás, peça importante na trama) ao papel. Laura Linney, contraponto de Holmes como sua governanta, constrói muito bem a face emocional e impulsiva do conto. E Milo Parker, filho da governanta, açoitado por essas duas forças, faz a projeção do espectador aprendiz e atilado.
Recolhido a uma casa no interior, cuidando de um apiário e manipulando poções em seu laboratório, Holmes luta contra os efeitos da senilidade. Um homem que se aproxima do fim de sua existência e que de repente não se lembra mais dos detalhes do seu último caso. Justo o caso que motivou seu afastamento da profissão e do convívio social. Sem Watson a seu lado, o velho Holmes resolve escrever para lembrar, escrever para acertar contas consigo mesmo.
O garoto estimula o mestre, que avança em sua escrita/relembrança aos tropeços. O filme trata de perdas: de memória, partes de si mesmo que se apagam como lâmpadas em cômodos diversos, de possibilidades afetivas, linhas de vida que se fecharam por medo e insegurança, de potência vital, debilidades físicas que se avolumam com o envelhecimento. Perdas que uma mente poderosa não aceita como definitivas. O filme nos mostra, com lirismo e drama, que as perdas de uma vida podem ser sempre compensadas antes de partir. E que nas vidas banais pulsam o que mais importa: companheirismo, amor, trabalho.
Mr. Holmes é um desses filmes que nos pegam pela mão e nos levam a um território muito especial, o da emoção elaborada com elegância e profundidade. Não é à toa que a história começa com Mr. Holmes retornando do Japão agarrado a um pacote precioso.
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