Sabemos que o sertão
vincula-se automaticamente ao conceito de solidão, de distanciamento, de
agruras individuais. Eu digo o que já disse antes: o sertão é antes de tudo território
de insuficiências. Ou seja, matéria-prima qualificada para a gênese da arte e
de artistas.
Tomo a liberdade de citar Freud e seu estudo
“Romances familiares”, num claro abuso de apropriação, para dizer que muito
provavelmente este prosador posto à distância de sua naturalidade no tempo e no
espaço, urde ficção feito uma criança imaginativa, conferindo nobreza e força
ao sertão e ao rio, dotando sertão e rio dessas grandes qualidades, como
expressão de uma saudade que tem dos tempos felizes do passado, como lamento
por não tê-los mais e como referência de doçura e amabilidade amorosas.
Sou sertanejo, sou barranqueiro, disso não
posso fugir, nem desejo fugir. Eu tive um rio e tive um sertão. As correntezas
do tempo poderão a tudo destruir, menos o rio e o sertão que carrego na
memória, a quem dedico afeto filial e que dão consistência e volume à minha
emoção.
Que coisa é esse lugar? Que tem ainda por
revelar? Em que se transmuda continuamente? Em que se perpetua, testemunha
imperecível da luta inglória do ser humano versus natureza? Que pode esse
lugar? Que vida, que morte ainda guarda em seu seio esturricado? Que ilhas fará
brotar, por fim, depois da curva do rio? Onde se me escapou, onde se me
prendeu? Em que se move em mim?
Trechos de minha fala de abertura no encontro com estudantes de letras, hoje, na Uneb, a convite de Joseilton Bonfim, mestrando que estuda meus romances "A dama do Velho Chico" e "Beira de rio, correnteza" e que prepara dissertação com o belíssimo tema "O imaginário das águas". Uma tarde agradável e compensadora, que contou ainda com as presenças luxuosas de Mônica Menezes, Lidiane Nunes e Mayrant Gallo. Estamos na luta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário