sábado, 15 de setembro de 2018

POESIA CHINESA, de ANDRÉ CARAMURU AUBERT




    O professor Teixeira se queixou de sua poesia não repercutir junto à crítica, que mal havia saído uma resenha em blogue, disse ele. Bem, não faço resenha, apenas comento os livros cuja leitura aprecio, não perco mais do meu tempo com os "outros". O professor Teixeira está bem ocupado, pelo que percebi, com sua nova amiga, a investigadora Carmen e com a antiga, ah, Simone, mas... ó ele aqui num blogue de novo! Grande Teixeira...!
      
     Bela ideia, essa, de trazer um curso sobre poesia chinesa como extrato vital de uma narrativa romanesca. Bela ideia, meu caro André Caramuru Aubert. A gente se senta e participa do curso com certo entusiasmo. EAD apimentada. A gente pensa que conhece poesia chinesa. Até tenho aqui uma coletânea e tal e coisa. Mas, ora, o Teixeira revira as dinastias, revela particularidades daquelas épocas em que poetar era fundamental para a carreira do servidor público. Pensem um pouco nisso. 

    E nos faz lembrar de Paterson, o filme, e de William Carlos Williams, por conseguinte. Vou assisti-lo hoje mais uma vez, só por causa do "Poesia Chinesa", vejam vocês. Sim, não uma poesia que cante o amor e a guerra, mas o vento, as curvas das montanhas, o sentido da ausência, do caminho, da chuva que cai, essas coisinhas de que a poesia verdadeiramente é feita. Sim, um versejar que viaja mundos, modifica-os e retorna para influenciar sua própria origem. Ou não, sabe-se lá. Mas que é bonito, é. E  muito.

    Claro que revelar esses meandros líricos para alunos e alunas da pós pode propiciar a um professor momentos de realização profissional e uma ou outra encrenca no território íntimo. Nosso grande Teixeira passa por isso, essas realizações, essas encrencas. E a crônica das intrigas acadêmicas, que o Autor oportunamente traz para o texto, confere ainda ao romance tensão e graça pelos episódios kafkianos, dantescos, temerários, e certo desgosto pelo alto grau de veracidade que concretiza. No que vai muito bem, diga-se sem receios com o policiamento do politicamente correto. 

     Perdi a conta das garrafas de vinho abertas e enxugadas nesse romance do Aubert, por isso abri uma para meu bom prazer, de um honesto chileno tinto Reserva do Loncomilla Valley, e para escrever estas linhas. Trair e ser traído, pelo quique da bola ou pelo silêncio de quem se ama. Ser um poema chinês, açoitado pelos cheiros marinhos ou das ruínas silvestres. Seguir a sombra, repetir os erros, como quem bate ponto no portão da fábrica toda madrugada, sei lá, permitir à vida que aconteça em plenitude nas entrelinhas. Pois nas linhas, ora, nas linhas correm os trens. 

Poesia chinesa, de André Caramuru Aubert, SESI-SP Editora, 2018.

      

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