Há banho de língua, banho de cuia, de bacia, de bica e de chuveiro; banho de riacho, de rio, de piscina e banho de mar. E outros mais que desejar.
Depende da escassez de água, da criatividade humana ou da mera localização do sujeito que se banha.
E há o banho de literatura. Não uma prova ligeira, uma dose calibrada ou jarra generosa, mas um banho por inteiro, inescapável e purificador.
Tenho lido os romances escritos por Leonardo Padura, e mesmo antes de concluir "O romance da minha vida", publicado em 2019 no Brasil pela Boitempo, já havia consolidado o entendimento de que o Nobel de Literatura é premiação mais que merecida para esse escritor cubano.
Não precisa ser este ano ou ano que vem, pode ser em 2022 que estará muito bem. Padura tem feito o grande trabalho do escritor. Tem mergulhado nas profundezas da história e da alma do povo cubano, e de lá retornado com ramos de ouro reluzentes.
O que sinto ao ler seus livros é que Padura não deita meros olhares à sua volta, não atira pedrinhas no leito de águas mansas, não perde oportunidade de abrir o mapa da ilha ao coração de quem não teme o cheiro do povo e suas mil maneiras de vencer o aguilhão do tempo.
O romance da vida do poeta José Maria Heredia (tema principal do romance citado acima) é grande invenção literária, é gancho ao qual Padura prende a miséria vivida e o sonho do povo cubano por justiça e liberdade, desde tempos remotos. E que ainda persiste, pelo que se sabe.
Lago profundo e cálido, os romances de Padura dão voz ao homem comum, desvendam os dramas do cotidiano popular, escancaram as tramas e os absurdos do poder, expõem as raízes do ser cubano na contemporaneidade.
Ontem e hoje, como sempre, a ilha condensa vozes, cheiros, ações e omissões humanas com os quais nos identificamos nos livros de Leonardo Padura, irmanados que estamos pela tragédia latino-americana.
O Nobel para Leonardo Padura resulta, portanto, em algo óbvio.
Até lá, recomendo mergulhos constantes em sua literatura. Da maneira que preferirem, mas nela se banhem, por necessário.
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