sexta-feira, 15 de maio de 2015

DÁ A SURPRESA DE SER, FERNANDO PESSOA



Dá a surpresa de ser.  
É alta, de um louro escuro.  
Faz bem só pensar em ver  
Seu corpo meio maduro. 

Seus seios altos parecem  
(Se ela tivesse deitada)  
Dois montinhos que amanhecem  
Sem Ter que haver madrugada. 

E a mão do seu braço branco  
Assenta em palmo espalhado  
Sobre a saliência do flanco  
Do seu relevo tapado. 

Apetece como um barco.  
Tem qualquer coisa de gomo.  
Meu Deus, quando é que eu embarco?  
Ó fome, quando é que eu como ?



Extraído de  "Cancioneiro", edição eletrônica de domínio público, Ciberfil Literatura Digital. 

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