[...] um belo livro é particular, imprevisível e não é feito da soma de todas as obras-primas precedentes, mas de alguma coisa que não se alcança com o haver assimilado perfeitamente essa soma, porque está precisamente fora dela.
Mas eu não queria chegar apenas a seu corpo, e sim à pessoa que nele vivia, essa pessoa com quem parece entrarmos em contato quando chamamos a sua atenção, e em que julgamos penetrar quando lhe sugerimos uma ideia.
Mais tarde, veem-se as coisas de modo mais prático, mais de acordo com o resto da sociedade, mas a adolescência é a única época em que se aprende alguma coisa.
"Afinal de contas", pensava eu, "talvez o prazer que se teve em escrevê-la não seja o critério infalível do valor de uma bela página, talvez não passe de um estado acessório que muitas vezes se lhe vem juntar, mas cuja falta não pode incriminá-la. Talvez algumas obras-primas tenham sido compostas entre bocejos".
O amor mais exclusivo por uma pessoa é sempre o amor de outra coisa.
Se um pouco de sonho é perigoso, não é menos sonho que há de curá-lo, e sim mais sonho, todo o sonho. É preciso conhecer inteiramente os nossos sonhos para não mais sofrer com eles [...]
E no momento em que surge o perigo, ainda que seja mortal e que me ache num estágio da vida inteiramente tranquila e feliz, se estou com outra pessoa, não posso deixar de colocá-lo a salvo e tomar para mim o lugar de perigo.
[...] um artista, para entrar na plena verdade da vida espiritual, deve estar só e não prodigalizar o que é seu, nem sequer a seus discípulos [...]
Extraídos de "À sombra das raparigas em flor", vol. 2 de "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust, tradução de Mário Quintana, editora Globo, Porto Alegre, 2a. edição, 1973.
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