segunda-feira, 20 de junho de 2016

PROUSTIANAS 4



   [...] toda decadência aceita tem como resultado tornar as pessoas menos exigentes no tocante àqueles com quem se resignaram a conviver, menos exigentes quanto ao seu espírito como quanto ao resto. E se isso é verdade, devem os homens, como os povos, ver a própria cultura, e até mesmo a própria língua, desaparecer com a independência.

   Tornamo-nos morais quando somos infelizes.

   Sem dúvida, a coisa mais espalhada no mundo não é o senso-comum, como se costuma dizer, mas a bondade.

   [...] um artista, para entrar na plena verdade da vida espiritual, deve estar só e não prodigalizar o que é seu, nem sequer a seus discípulos [...]

   Tinha conversado com ela sem saber onde caíam minhas palavras e aonde iriam parar, como se tivesse lançado pedras num abismo sem fundo.

   Recordamos: vamos ao encontro de um pavão e damos com uma peônia.

   [...] aqueles poucos passos que ninguém mais podia deter, eu os dei com delícia, com prudência, como que mergulhado num elemento novo, como se, avançando, eu fosse lentamente deslocando felicidade, e ao mesmo tempo com um sentimento desconhecido de onipotência e de que entrava enfim na posse de uma herança que sempre me pertencera.

   Pois para sofrer verdadeiramente por uma mulher, cumpre haver acreditado completamente nela.
 
 

Extraídos de "À sombra das raparigas em flor", vol. 2 de "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust, tradução de Mário Quintana, editora Globo, Porto Alegre, 2a. edição, 1973.

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