[...] a beleza pode ser a mais nobre das assinaturas [...]
[...] são as obras verdadeiramente belas, quando sinceramente ouvidas, que mais nos devem decepcionar, porque na coleção de nossas ideias não há nenhuma que corresponda a uma impressão individual.
[...] a verdade não tem necessidade de ser dita para ser manifestada, e que podemos colhê-la mais seguramente sem esperar pelas palavras e até mesmo sem levá-las em conta, em mil sinais exteriores, mesmo em certos fenômenos invisíveis, análogos, no mundo dos caracteres, ao que são, na natureza física, as mudanças atmosféricas.
Pretendem os poetas que tornamos a encontrar por um momento o que fomos outrora, quando entramos em certa casa, em certo jardim em que vivemos na juventude. São peregrinações muito arriscadas, essas, ao fim das quais se colhem tantas decepções como êxitos. Os lugares fixos, coevos de anos diferentes, é em nós mesmos que é melhor encontrá-los.
E com efeito, passamos juntos quase toda a noite, conversando ante os nossos copos de sauternes que não esvaziávamos, separados, protegidos dos outros pelos véus magníficos de uma dessas simpatias entre homens que, quando não tem por base atrativos físicos, são as únicas verdadeiramente misteriosas.
Cada um é homem da sua ideia; há muito menos ideias que homens, de modo que os homens de uma mesma ideia são iguais. Como uma ideia nada tem de material, os homens que só materialmente estão em torno do homem de uma ideia não o modificam em coisa alguma.
Não se faz um atelier de pintura com qualquer sala, não se faz um campo de batalha com qualquer local. Há lugares predestinados.
Extraídos do vol. 3 de "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust, "O caminho de Guermantes", com tradução de Mário Quintana, editora Globo, 1964.
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