domingo, 27 de fevereiro de 2011

O ROMANCE, POR RUBENS FIGUEIREDO

Um romance tem grande chance de se tornar irrelevante se não fizer valer seu poder de conhecer e de investigar o mundo histórico. Nas últimas décadas, boa parte da literatura mundial apostou na ideia de que só é possível ser crítico a sério concentrando-se na exploração da linguagem mesma, da construção em si. O legado de todo esse esforço me parece hoje decepcionante. Em vez de radicalidade, o que me parece prevalecer é uma falta de vitalidade, um acanhamento. Talvez seja exagero, mas hoje às vezes até pressinto nessa opção uma forma insidiosa de autocensura, ou no mínimo de conformismo. Não necessariamente por uma opção consciente do autor. A rigor, formou-se em nosso tempo um ambiente em que nem precisamos de fato optar: a escolha principal já está dada de antemão, não pode ser de outro modo [...].



Trecho de entrevista concedida pelo escritor Rubens Figueiredo (As palavras secretas, Contos de Pedro, Barco a seco, Passageiro do fim do dia) ao jornal de literatura Rascunho, edição de fevereiro 2011.

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