quarta-feira, 25 de julho de 2012

CONVERSA NA SICÍLIA, ELIO VITTORINI


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Li, em maio, este livro impressionante, cuja capa está acima estampada. Andei (e ainda ando) meio troncho, o que, por certo, me fez esquecer de contar aqui o quanto é maravilhoso o conto de Elio Vittorini, publicado originalmente em 1937, e aqui no Brasil, em edição da Cosac&Naify, em 2002, com tradução de Valêncio Xavier e Maria Helena Arrigucci. 

Comprei meu exemplar no sebo Messias, na praça João Mendes, atrás da Catedral da Sé, na cidade de São Paulo, por conta de uma conversa rápida com o vendedor, a quem perguntei sobre livros de Alessandro Baricco. "Quem?", espantou-se o homem. Ao que lhe respondi: "O melhor romancista italiano da atualidade, Baricco", esclareci. Para ouvir do vendedor que Baricco ele não conhecia, mas que o melhor escritor italiano, no seu entender, era "este aqui", puxando "Conversa na Sicília" de uma prateleira. O que podia eu fazer, do fundo da minha ignorância vittoriniana? Abri o livro e li o primeiro parágrafo:

"Eu, naquele inverno, estava tomado de furores abstratos. Não direi quais, não é isso que me proponho a contar. Mas é preciso dizer que eram abstratos, nada heroicos, nem vivos; de qualquer maneira, furores pelo gênero humano perdido. Vinha assim há muito tempo, e andava cabisbaixo. Via manchetes nos jornais sensacionalistas e abaixava a cabeça; estava com os amigos, uma hora, duas horas, e ficava com eles sem abrir a boca; abaixava a cabeça; e tinha uma moça ou uma mulher que me esperava, mas nem com ela eu trocava uma palavra, mesmo com ela eu abaixava a cabeça. Chovia o tempo todo, passavam-se os dias, os meses, e eu tinha os sapatos furados, a água me entrando nos sapatos, e não era mais nada que isso: chuva, carnificinas nas manchetes dos jornais, e água nos meus sapatos furados, amigos mudos, a vida em mim como um sonho surdo, e não-esperança, calmaria."

Depois, em casa, febril, segui o protagonista em sua viagem do centro da Itália à Sicília, para visitar a mãe esquecida, por conta do seu próximo aniversário, espicaçado que foi por uma carta do pai fujão e de um cartaz que anunciava a viagem a preço módico. O homem viaja e conversa com quem topa pelo longo caminho e, principalmente, com sua velha mãe e moradores do lugarejo em que nasceu e viveu a infância. Quem está perdido, o gênero humano ou o mundo em que ele labuta pela vida? O que fizemos, o que fazer?

Belo, emocionante, fundamental.

Um comentário:

  1. Carlos, fiquei curiosa em ler "Aço" e "Conversa na Sicília". Estou gostando muito das suas resenhas. Um abraço.

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