domingo, 4 de dezembro de 2016

DESPEDIDA, FERREIRA GULLAR (1930-2016)



DESPEDIDA

Eu deixarei o mundo com fúria.
Não importa o que aparentemente aconteça,
se docemente me retiro.

De fato
nesse momento
estarão de mim se arrebentando
                 raízes tão fundas
quanto estes céus brasileiros.

Num alarido de gente e ventania
olhos que amei
rostos amigos, tardes e verões vividos
estarão gritando a meus ouvidos
            para que eu fique
            para que eu fique.

Não chorarei.
Não há soluço maior que despedir-se da vida.



Poema extraído de "Barulhos" (1980-1987), em Toda Poesia, 21a. edição, revista e ampliada, Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 2015

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