"Contei. Contei. E ao contar não tive a sensação de sair do meu encantamento do qual ainda não saí e talvez nunca saia, mas sim de começar a mesclá-lo com outro menos tenaz e mais benigno. Quem conta costuma saber explicar bem as coisas e sabe se explicar, contar é a mesma coisa que convencer, ou fazer-se entender, ou fazer ver, e assim tudo pode ser compreendido, até a coisa mais infame, tudo perdoado quando há o que perdoar, tudo passado por cima ou assimilado e até compadecido, isso aconteceu e é preciso conviver com o que aconteceu uma vez que sabemos que foi, buscar-lhe um lugar em nossa consciência e em nossa memória que não nos impeça de continuar vivendo porque sucedeu e porque o sabemos."
Destaco esse trechinho do romance "Amanhã, na batalha, pensa em mim", do Javier Marías, com tradução de Eduardo Brandão (Martins Fontes, 1997). É o primeiro romance do Marías que leio. E ainda não terminei. Deixo aqui o registro da melhor impressão que um texto ficcional pode firmar no leitor: único, profundo, multifacetado, pródigo, assim generoso, derramado e revirado, espremido em seu dobrar e desdobrar, em que a trama pesa mas nem tanto. Irei a outros, com certeza.
Imagem: Bol Fotos, bruma.
interessante reflexão sobre o que é contar...
ResponderExcluirgostei demais!
beijoss