sábado, 9 de março de 2013

COMO FICAR SOZINHO, II

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"Quando escrevo, não me sinto um artesão influenciado por artesãos do passado que eram, eles mesmos, influenciados por artesãos ainda mais remotos. Sinto-me membro de uma única e grande comunidade virtual na qual mantenho relações dinâmicas com outros membros da comunidade, sendo que a maioria deles não está mais viva. Como em qualquer outra comunidade, tenho meus amigos e tenho meus inimigos. Descubro meus próprios caminhos até chegar àqueles recantos do mundo da ficção onde fico mais à vontade, onde, entre amigos, me sinto seguro, mas também estimulado. Uma vez que já li livros suficientes para saber quem são esses amigos -  e aí é que entra o processo de seleção ativa do jovem escritor, o processo de escolher por quem será influenciado  -, trabalho para antecipar nossos interesses em comum. Ao escrever o quê e como escrevo, luto a favor dos meus amigos e contra meus inimigos. Quero que mais leitores apreciem a glória dos russos do século XIX; sou indiferente ao fato de leitores gostarem ou não de James Joyce; e meu trabalho representa uma campanha ativa contra os valores de que não gosto: sentimentalidade, narrativa débil, prosa abertamente lírica, solipsismo, autocomplacência, misoginia e outros provincianismos, jogos de palavras estéreis, didatismo patente, simplicidade moral, dificuldade desnecessária, fetiches de informação, e por aí vai. Na realidade, muito do que pode ser chamado de "influência" é negativo: não quero ser como este ou aquele escritor."


Aí está um trecho do ensaio "Sobre ficção autobiográfica", do livro "Como ficar sozinho", do Jonathan Franzen. Destaco pelo que tem de importante, não somente na definição do autor e de sua obra mas como material de reflexão para quem pretende ou já escreve. Ao apontar alguns dos valores que não aprecia e contra os quais luta em sua literatura, Franzen revela muito do que se tem visto na literatura contemprânea brasileira que faz sucesso de crítica.



Imagem: Bol Fotos

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