Um dia, num pequeno restaurante em Golfe Juan, ela pegou um carcamano bonito que tinha uma garagem e dirigia um pequeno Bugatti de corrida.
Dizendo que talvez comprasse o carro, ela o fez ir ao seu estúdio pegá-la para um passeio;
os amigos não queriam que ela fosse, disseram que ele não passava de um simples mecânico; ela insistiu, tinha tomado alguns tragos (não restava mais nada que lhe importasse no mundo além de uns tragos e um rapaz bonito);
entrou ao lado dele e
jogou a echarpe de pesadas franjas no pescoço com um gesto largo todo seu e
voltou-se e disse,
com o forte sotaque da Califórnia que seu francês jamais perdera:
Adieu, mes amis, je vais à la gloire.
O mecânico engrenou o carro e partiu.
A pesada cauda da echarpe enganchou-se numa roda, enrolou-se com força. A cabeça foi puxada contra o lado do carro, que parou no mesmo instante; o pescoço dela partira-se, o nariz fora esmagado, Isadora estava morta.
Esse, o trecho final do pequeno perfil biográfico de Isadora Duncan, intitulado "A arte e Isadora", posto como capítulo de "O grande capital", do escritor norte-americano de ascendência portuguesa John dos Passos. A trilogia "USA" apresenta vários perfis biográficos, em prosa poética, de personalidades consideradas pelo autor representativas do final do séc. XIX até as portas da Grande Depressão. Monumento literario único e insuperável.
Imagens: Bol Fotos/Google Images
Toda vez que leio sinto tremores. Bjsamovc
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