domingo, 22 de setembro de 2019

21 DE SETEMBRO 1969, DOMINGO, O DIA DO JOGO



     Então a rapaziada organizou um selecionado local para uma partida no distrito da Canabrava do Boqueirão, sudeste do município, perto do riacho do Arame, de onde se pode desbandar para a serra do Chiqueiro Velho, dita Boa Esperança. Tudo isso lá no Bom Jardim, posto no mapa como Ibotirama.

     O ser humano havia pousado na lua, fazia pouco tempo, e Pelé estava muito perto de fazer seu milésimo gol em Andrada, já repisei o tema aqui anteriormente. No domingo que foi aquele 21 de setembro de 1969, seguiram em algazarra na carroceria de um caminhão, pela estrada da Veredinha, aqueles rapazes que amavam o futebol. Entre eles, Nelsinho, meu irmão, que precisaria chegar a dezembro para completar 15 anos, mas não conseguiu. Um menino de corpo atlético entre aqueles rapazes e homens-feitos.

     Todos reconheciam em Nelsinho um craque excepcional. Lembro que foi "obrigado" a jogar entre os adultos por não ser aceito mais nos babas entre os de sua idade. Várias vezes o vi brincar de "time de um jogador", enfrentando sozinho um grupo de adversários do mesmo tope. Corria e ria, driblava e ria, fazia gols e ria, divertia-se com a bola nos pés. Era um azougue também fora do campo, e isso lhe causou transtornos e o desejo manifesto de ir-se em bora logo daquele lugar.

     Quem perdeu tempo lendo meus livros já percebeu que Nelsinho se faz presente aqui e ali, por inevitável. Foi meu primeiro ídolo, meu irmão mais velho, de quem levei coques e taponas, a quem causei problemas por me destacar nos estudos, o contraponto indesejado, um grude incômodo ao furacão que se movia dentro dele. 

      Foi num domingo assim que Nelsinho foi acertado no campo de bola por uma cotovelada no olho esquerdo. Fez gol, jogou muito e voltou pra casa com um inchaço no rosto. Inchaço que se tornaria um pouco maior no dia seguinte. 

     Vejo no calendário de 1969 que, uma vez mais, fui driblado por minha memória. A sequência dos acontecimentos não se deu em domingo-segunda-terça, não. Houve a partida de futebol no domingo e a tal cotovelada. Na segunda-feira, dia 22, nada aconteceu de relevante. Talvez Nelsinho não tenha ido ao Colégio Cenecista, tenha ficado em casa, aplicando a lâmina fria de uma faca sobre o hematoma ocular, não me lembro. Mas houve esse dia neutro, um dia de bonança antes da tormenta que nos alcançaria a todos na terça-feira, dia 23 de setembro de 1969, exatos cinquenta anos atrás. Dias que não se cansam de apertar meu combalido coração.

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