Os últimos movimentos de Andrada não foram na direção da bola. Depois de aposentar-se do futebol, Andrada trabalhou para o Serviço de Inteligência do governo argentino, a partir de 1983, e teve seu nome citado como agente da repressão, mas não recebeu condenação por falta de provas. Andrada sempre negou esse envolvimento, e é só isso que posso dizer pelo que leio por aí. Fato é que Andrada morreu ontem, 04.09, aos 80 anos de idade.
Ir em busca da bola, essa era a regra que pregava para o goleiro no instante máximo do futebol: o pênalti. Escrevi uma crônica sobre essa lição andradiana, que chegou a ser lida por Jô Soares em seu antigo programa no SBT, contando, inclusive, com mise en scène, um sucesso. Escrevi o texto com lembranças que guardei de uma reportagem feita pela revista Placar com o goleiro do Vasco, à época, cogitado para naturalizar-se e servir a seleção no Mundialito de 72, disputado aqui no Brasil em comemoração ao Sesquicentenário da Independência - chegou até a posar com a camisa tricampeã, outros tempos.
Fiquei fã de Andrada não só pelo que fazia pelo meu estropiado Vasco (campeão carioca 70, brasileiro 74), mas por sua sabedoria de arqueiro. O goleiro deve ir sempre no rumo da bola. Por conta disso, peguei profunda antipatia por goleiro que escolhe canto e salta antes da batida do cobrador do pênalti. Este, o mote da tal crônica. Até os dias de hoje, nenhum grande goleiro segue essa lição primordial. E continuam abusando da minha paciência em disputas por pênaltis.
Pois é, o grande Andrada, que depois defendeu o Vitória em 1977, na formação poderosa que contava com Fischer de centroavante, se não me falha a memória mais uma vez. Andrada foi atrás da bola quando Pelé partiu para executar seu milésimo gol. Basta ver o tape: o goleiro magricela voando raso e tocando a pelota, sem evitar, no entanto, que a danada balançasse a rede cruzmaltina. Ouvi pelo rádio, Waldir Amaral narrando com sua voz arrastada e tendo meu irmão morto a meu lado, coisa que contei aqui isturdia. Andrada foi meu segundo ídolo, o primeiro sendo Nelsinho, um craque que Ronaldo Nazário imitava e que somente eu vi jogar, esse meu irmão morto aos 15 anos de idade num acidente.
Ontem foi a vez de Andrada partir, seu verdadeiro último movimento. Que tenha sido realmente inocente do que lhe acusaram, é o que eu gostaria que fosse verdade. Pois como goleiro dos meus Vasco e Vitória, Andrada fez por merecer lugar de honra no meu seleto grupo de craques memoráveis. Que descanse em paz.
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