quinta-feira, 8 de novembro de 2012

IDOSO INFANTE



quando meu irmão morreu
aos quinze anos de idade
pensei que cedo também morreria

hoje sinto que sou
como toalha de mesa
muitas vezes coarada
na grama fria

meu tecido resiste
guardo certa utilidade
atendo a necessidades
ainda sirvo a piqueniques

manchado pelo café de manhã
dobro-me sempre à tarde
numa gaveta qualquer

bebo pranto na madrugada
e ao estender meus vincos
não acolho mais a graça de uma
taça de champanhe revirada

idoso infante
em mim vivem meus pais
e aquele meu irmão
tatuados na garganta

e tudo mais não passa
de vida imaginada
de fome ambulante
imersa em verde-esmeralda



Imagem: Bol Fotos, picnic

9 comentários:

  1. Um poema lindo, intenso, formalmente perfeito. Isso sim é lirismo. Bjsamovc

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  2. De uma beleza extraordinária, Carlos! Sem permissão, levei-o para minha página no facebook.
    Que poema lindo! Abraços.

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  3. Muito, muito belo, Carlos.
    Um abraço.

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  4. Respostas
    1. M., Aérea Persona, Lidi e Muadié, agradeço a generosidade. Faz tempo escrevo o Inventário da Triste Figura, muito arrastado como tudo que é triste, e de lá tirei este poeminha. O título é provisório, creio. Abraços (carlos barbosa)

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  5. O inventário da triste figura...o título provisório já é muito bom.

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  6. Belíssimo poema!
    Emocionante!
    Amei o "título provisório"...

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  7. Oh, tão delicado e dolorido...

    beijos da bípede

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    1. Muadié, Eliran e Bípede, grato pela leitura e pela gentileza. O título é sempre provisório até a publicação. Quem sabe esse vingará, depois de tantos apoios? Visito sempre vocês. Abr (cbarbosa)

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