quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

DIÁRIO DA QUEDA, MICHEL LAUB

A questão judaica exposta de maneira surpreendente por um judeu brasileiro. Avô, pai e o neto que narra o ser judeu em terras brasílicas. E as inevitáveis perguntas existenciais. Lembra Philip Roth no destemor do enfrentamento familiar. Mas como se fosse um canivete afiado, não uma metralhadora de mil tiros. Laub concentra sua narrativa em um momento crucial da adolescência do protagonista: no aniversário do único estudante gói da escola, seu grupo de estudantes judeus deixa cair no chão o aniversariante, depois de jogá-lo pra cima repetidas vezes num simulacro de ritual, o que quase aleija o rapaz. Mais tarde, o narrador será o único judeu em uma escola gói e enfrentará as conseqüências por sua escolha. Inversão de algozes, remorso, purga, e uma amizade surgida sobre tais alicerces. 
Narrativa fragmentada, um esforço de memória que eclode num momento crucial do protagonista adulto, uma demonstração de técnica e linguagem apuradas. O gesto de hoje deflagra uma lembrança de anteontem (madeleines), as decisões de hoje podem ter como base um acerto com o passado – tudo está conectado (passado, presente e futuro desejado), nada se faz gratuito. Inexorável viver, inevitável queda, possível reerguer: o avô no neto, enfim. 

Diário da queda, Michel Laub, Cia das Letras, 2011, publicado originalmente na revista eletrônica Verbo21 (www.verbo21.com.br), na seção Crítica Rasteira.

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