segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
SANTO REIS
Assim, Santo Reis, singular e plural.
Cresci ouvindo noite adentro o batuque do reisado de Mestre Biscoito. E acompanhando, sempre que possível, a bandeira de Reis em visita às casas. Em algumas, o reisado alongava a cantoria entre comes e bebes. Ritmo hipnótico, fascinante o sapateado e o rodopio das mulheres dentro do círculo.
As chulas de louvação e de saudação aos donos da casa não me interessavam muito, gostava mesmo - e ainda gosto demais - era daquelas improvisadas sobre temas do cotidiano da comunidade.
"Foi s'imbora da ilha Grande / Cantador mais Chinchinha / Mudaram pro Poço do Mel / Pensando que ia enricar / Mas o Deus daqui / É o mesmo Deus de lá."
"Eu bem falei pra Zequinha / Que botasse roça no centro / Pois roça em beira de estrada / Não amadurece mantimento / Se um ladrão passa fora / Quatro, cinco, passa dentro."
Essas chulas, e outras igualmente belas, são sempre cantadas pela rapaziada de Ibotirama, em qualquer cantoria de bar ou em volta de churrasqueira. Gostaria de saber mais delas, suas letras inteiras, sempre modificadas ou ampliadas pelos cantadores. São letras que expõem a vitalidade criadora do homem simples e uma beleza, uma sabedoria, que dificilmente se alcança pelo esforço intelectual: são pura emoção, potência vital a lembrar a importância e o inestimável valor da cultura popular.
Mestre Biscoito, pescador, passou o comando do reisado para seu filho Mes'Curuta, pescador e ponta-direita do Bahia, time da rua de Baixo. Isso, num tempo quase encoberto por ervas daninhas.
Bem, mas hoje é dia 06 de janeiro. Viva Santo Reis! Viva a chula do Velho Chico!
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