segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

SONHOS DE TREM, DENIS JOHNSON


Um dos protagonistas mais interessantes que conheci: Robert Grainier, o que se omite ou o que não se importa. Quando criança, foi despachado para a família de um tio e jamais se preocupou em perguntar quem eram ou foram seus pais. Quando rapaz, topou na mata com um moribundo que lhe passou informações sobre os motivos e o sujeito que o “matara”, e voltou a pescar sem nada contar depois ao xerife. E assim pela vida afora, incluindo suas mulher e filha desaparecidas em um incêndio florestal – passado o choque inicial, montou acampamento na margem de um rio e ficou por ali meses a pescar. 
A vida de Grainier possuía o limite dos seus braços e passos. Um homem a cortar madeira, fincar dormentes em estradas de ferro, estender pontes sobre abismos e a sonhar com trens, sempre de volta à cabana na floresta, onde também aprendeu a uivar em noites quentes. E nem mesmo seu encontro com a menina-lobo, que assombrava os moradores da montanha, e a absurda verdade que se desvenda a seus olhos, move-o para além dos limites do seu terreiro, por onde elas (a menina-lobo e a verdade que lhe segue de arrasto) escapam mais tarde. Somente a pulcritude de Miss Galveston, a atriz do ousado filme “Pecados de amor” o perturba, o empurra para longe da tela, a tal  pulcritude. Delicioso romance curto desse autor nascido na Alemanha, filho de pais americanos, que teve publicados pela mesma editora os romances “Ninguém se mexe” e “Árvore de fumaça”. 

Sonhos de trem, de Denis Johnson (trad. Alexandre Barbosa de Souza| Cia das Letras, 2012, publicado originalmente na revista eletrônica Verbo21 (www.verbo21.com.br)..

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