Dizem que o anonimato é uma benção para um escritor.
Jornalistas, mundo afora, insistem em saber da escritora italiana que assina Elena Ferrante por que ela optou pelo anonimato. E recebem como resposta recorrente que não, ela não optou pelo anonimato, pois assina seus livros, todos sabem que Elena Ferrante os escreve; optou, sim, por não ceder ao circo da mídia.
Admirável, admirável, seja lá quem for que assine Elena Ferrante.
Neste post, deixo um petisco do imprescindível "Frantumaglia":
"Sua carta, justamente por causa da narrativa limpa que a distingue, suscitou em mim a vontade de fazer uma pergunta. A pergunta é a seguinte: por que, apesar ter lido meu livro há um ano e, como disse, tê-lo apreciado, o senhor só amadureceu a ideia de entrar em contato comigo agora, após saber que haverá um filme baseado em Um amor incômodo?
[...] O senhor escreve de forma menos brutal do que neste meu resumo: seu livro me diz algo, mas seu nome não me diz nada. Pergunto: se meu livro não lhe tivesse dito nada, mas meu nome tivesse dito alguma coisa, o senhor teria demorado menos tempo para me pedir uma entrevista?
[...] Quero perguntar o seguinte: um livro é, do ponto de vista midiático, antes de mais nada o nome de quem o escreve? A fama do autor, ou melhor, da persona do autor que entra em cena graças à mídia, é um suporte fundamental para o livro? Não é notícia para os cadernos de cultura dos jornais, o fato de um bom livro ter sido lançado? É notícia, por outro lado, o fato de um nome capaz de dizer algo às redações ter assinado um livro qualquer?"
Arrá!!! Durmam com essa jornalistas resenheiros, em especial, o sr. Francesco Erbani, que lhe disse em carta ter lido "Um amor incômodo" e ficado sem fôlego, mas que o deixou boiando na memória, pois seu nome não lhe dizia nada, até ler que o filme seria feito...blá...blá...blá.
Fica minha admiração, meu respeito ainda mais concretado por quem assina Elena Ferrante, depois de ler "Frantumaglia", uma coleção de cartas, artigos e textos diversos em que a autora enfrenta editores, jornalistas, cineastas e leitores, sempre firme na defesa de sua vida pessoal, de sua liberdade de escrita, de seu mundo imaginativo. Uma pena afiadíssima, brilhante, em meio à ferrugem e à escuridão literária desses tempos turvos.
"Frantumaglia, os caminhos de uma escritora", de Elena Ferrante, tradução de Marcello Lino, editora Intrínseca, 2017.
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